Isto de ser mãe, do que me parece até agora, é saber aceitar a "tentativa e erro". Fazermos um esforço activo para sabermos relativizar os nossos erros e para aplaudirmos os nossos sucessos, o nosso trabalho em progresso - que o será sempre.
A Irene andou numa escola que parecia bater certo. Diziam as palavras certas ao ponto de mesmo as coisas que me davam vontade de me coçar fazerem-me equacionar se não seria apenas mais um caminho diferente para os mesmos resultados.
Pareciam saber do que falavam e, melhor pareciam gostar do que falavam. Cedi. A escola parecia bater certo, é verdade, mas eu não gostava da escola. Nunca gostei. Não interessa porquê agora. Interessa que senti que estava a emprestar a minha coisa mais preciosa a alguém que não iria cuidar dela com o mesmo cuidado e respeito que eu. Emprestei.
Sempre de coração apertado. Sempre a empurrar-me para baixo:
"É a primeira vez que a tua filha vai para a escola, é normal que sintas tudo isso. Toda a gente diz que és muito apegada. Até as leitoras do blog dizem que és obcecada, se calhar até és. Tens de confiar. Olha tantas mães a deixarem aqui os filhos. Olha como eles ficam calmos - ou parecem - quando saem e os miúdos ficam a chorar. Eles confiam nesta escola. Todos os pais confiam nesta escola. Para quê é que estás aqui a tentar destruir isto? Eles estão bem. Estão todos bem. É tudo tão simpático. Está tudo a funcionar. Quem és tu para dizeres que não gostas disto? Tu és só uma mãe-galinha, ansiosa. Deixa as coisas correrem. Tens de deixar ir. Ela está a crescer. Isto é natural. O que tu sentes é normal, guarda-o para ti".
Vi coisas que não gostei. Com as quais não concordo. A Irene mudou de comportamento em casa e foi-se tornando cada vez mais difícil empurrrar-me.
Já tinha a minha filha a gritar comigo. A mandar-me dormir. A fazer-me ameaças caso eu não comesse que me ia buscar outra sopa. A dizer que "não queria mais um piu". Estavam a riscar a minha coisa mais preciosa.
Falei sempre a medo ou "com educação" - enganava-me eu - dizendo que não queria isto para a Irene, se podiam dizer-lhe as coisas de outra maneira, se podiam explicar-lhe as coisas porque ela já percebe muito. Sempre a medo. Sempre com educação. Sempre com uns sorrisos pelo meio para não me acharem antipática. Ainda por cima, gostava mesmo das pessoas. Apesar. Apesar de me estarem a riscar a minha coisa mais preciosa sei que não o faziam por mal. Sei que o faziam apenas por não terem mais ferramentas ou por cansaço ou por automatismo. Não consigo encontrar nada mais cansativo que cuidar de tantas crianças e naquela fase, mas a mim faltam-me decididamente ferramentas.
Não consegui mais. Vi. Eu vi. Da primeira vez vi e fiquei enjoada, enojada e zangada, mas calei-me (calei-me, empurrei-me) e foi com ela. Da segunda vez não foi com ela mas foi horrível (para mim). Não conseguia mais ir trabalhar sabendo que as feridas da minha filha que não se viam estavam a ser feitas eu não saber falar comigo.
Fiz as coisas desastradamente e aflita. Sabendo que há escolas para todos os gostos e eu não gostava daquela. Ou, pelo menos, da escola que a Irene estava a ter - tenho uma amiga que é uma mãe maravilhosa e que está a ter uma experiência perfeitamente diferente naquela escola.
Da próxima - errarei muitas mais vezes e provavelmente para sempre - não me vou calar com medos imbecis de ser vista como mãe galinha, mãe ansiosa, mãe o que for.
Dá para conversar? Perfeito. Dá para ouvir? Maravilhoso. As coisas mudam?
Da próxima vez que sentir (e, pior, que eu vir) que me estou a riscar a minha coisa mais preciosa, não vou esperar tanto. Vou resolver.
Resolvi.
Temos que nos borrifar para o que vão pensar de nós por seguirmos a nossa intuição.
Por eles.
❤
Acho que fizeste bem Joana. Se não estavas feliz com o que sentias e com o ambiente que rodeava a Irene, mudar foi a melhor coisa.
ResponderEliminarMas posso perguntar que coisas viste que te deixaram mesmo incomodada?
Beijinhos
Vanda
Acho que fizeste bem Joana. Se não estavas feliz com o que sentias e com o ambiente que rodeava a Irene, mudar foi a melhor coisa.
ResponderEliminarMas posso perguntar que coisas viste que te deixaram mesmo incomodada?
Beijinhos
Vanda
Infelizmente [e falo por experiência própria porque trabalho na área] o que descreves Joana, acaba por ser a realidade de tantas [maioria?] das instituições. As pessoas estão desencantadas, cansadas, muitas vezes desatualizadas talvez. Não fazem por mal, muito pelo contrário, fazem o melhor que sabem ou aquilo que acreditam ser o melhor. Mas o ram-ram do dia-a-dia acaba por impedi-las de se questionarem mais, de pensarem por elas próprias, de procurarem fazer diferente. Tenho tanta pena porque esta devia ser uma das profissões mais apaixonadas e valorizadas, mas no nosso país não é e as alternativas ao culturalmente "normal" são escassas. Concordo contigo mas infelizmente enquanto mãe também já me calei demasiadas vezes. Boa semana!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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ResponderEliminarTive uma experiência do género, com a diferença de que não me importei nadinha do que fossem pensar e a minha filha apenas lá esteve uma semana.
ResponderEliminarJoana, fizeste mais acertado.
ResponderEliminarTenho em casa uma educadora de infância e sei que nem sempre é fácil a profissão que têm, tal como não é fácil nenhuma profissão. Mas também sei que ama muito o que faz, tal como no primeiro dia. Passados estes 30 e muitos anos ainda ama o que faz, e os pequeninos amam-na. Mesmo quando se chateia com eles, mesmo quando os chama a atenção, mesmo quando fica triste com alguma coisa que corra mal. É muito giro vê-los correr apresadamente para o colo dela, em tempo de ferias, a perguntar quando começam as aulas, é giro ver dizerem aos pais que podem ir para casa porque eles não querem ir já, que querem ficar mais um pouco.
Às vezes o início desta relação, para os pequenitos é difícil, choram, ficam stressada, mas se assim continuam e se em casa a própria portura muda, então é um sinal de alerta. E deve ser falado sem meias palavras. Fizeste bem. A Irene vai ser concerteza muito mais feliz. Bom início de ano
Sara
Ola Joana, em primeiro Parabéns pelo blog :-) adoro!! Sigo o blog mas nunca comentei, desta vez não resisti. Quando sentimos e sabemos que algo não está bem com elas temos mesmo de fazer alguma coisa, até porque o nosso coração não sossega! Fez muito bem em tomar essa decisão. A minha princesa vai agora entrar na creche e o meu coração está apertadinho... esteve comigo até agora, a fazer os dois anos e meio achamos que é a altura "ideal", se bem que para uma mãe isso lá existe?! Lol falo por mim. Fui ver "N" colégios e houve um que me foi recomendado por amigas que têm lá os filhos, e temos de ver as coisas pelo canto do olho e vi. Vi coisas que não gostei portanto ficou de parte a hipótese de a inscrever lá. São os nossos tesouros o que lhes damos todos os dias de nós não pode chegar alguém e "riscar" isso! Quando as(os) deixamos lá estamos a dar um voto de confiança muito grande, isso tem de ser valorizado.
ResponderEliminarBeijinhos
Cátia Nunes
Tive uma experiência idêntica com a minha filha. Esteve 4 meses nesse infantário. O 1º mês ía só de manhã para se adaptar e não notei, mas depois comecei a notar um comportamento estranho nela em casa, dar pontapés ás coisas, gritava e notava nela um ar triste. Apercebi-me que eram as auxiliares muito rígidas que a tratavam assim, a ela e ás outras crianças. Tinha medo delas e viveu esse terror. Ainda hoje me culpabilizo como não reparei antes e não fui lá questionar mais vezes sobre o comportamento dela. Tirei-a de lá ao fim de 4 meses e está num novo JI que adora e a diferença no comportamento e no ar dela foi abismal mesmo. Está tão feliz. Uma vez ía com ela de carro e passei junto do infantário antigo e ela disse: "Ó mãe, ali era a escola má". Fiquei tão chateada comigo por não ter agido mais cedo. Foi uma grande lição para mim.
ResponderEliminarBeijinhos.
Olá mamã
EliminarSenem pudesse dizer qual é a nova escolinha da sua filha agradecia imenso.
Também procuro uma solução alternativa
Muito obrigado
"Riscar a minha coisa mais preciosa". Senti tanto isso. E estou numa angustia só, uma vez que daqui a dois dias vou submeter o meu filho ao mesmo. Muito triste e aflitivo não ter outras soluções. :(
ResponderEliminarCalma que há boas experiências! Eu tenho muito boas mesmo. A escola dos meus filhos é como se fosse uma extensão cá de casa. Aprendem e divertem-se imenso! Vai correr tudo bem anónima! E se não correr, muda-se de escola. Eles não se vão lembrar, só nós! E depois passa! Bjinhos
EliminarParece-me que o anónimo das 12:20 não tem é outro local/ opção onde deixar as crianças, daí a aflição dela :-(
EliminarCalculei que falava de apoio familiar, tipo os avós. E isso é cada vez mais difícil. Os avós trabalham ou outra coisa, tipo os meus que já faleceram ou os que cá estão não tem saúde, mas escolas há muitas! Só se viver num sitio com poucos acessos e assim não digo mais nada pois desconheço essa realidade!
EliminarPost proibido para o primeiro dia.. a minha flha começou hoje a escola e eu não devia ter lido isto.. ;(
ResponderEliminarPor outro lado, obrigada pelo alerta!
Querida Joana, partilhei contigo uma situação semelhante. Primeiro apenas a impressão, aquele instinto que não sabemos explicar que alguma coisa está errada, muito errada. Depois por sorte ou azar assistimos ao que não devíamos. E depois a culpa, tão típica das mães por não termos visto mais cedo, por não termos dado ouvidos ao instinto tão básico.
ResponderEliminarForam as nossas conversas, sem me conheceres de lado nenhum, que me ajudaram a não me sentir a maluca que imagina coisas. Felizmente actuei, embora note os "riscos graves" que deixaram na minha coisa mais preciosa. E foram tão sérios :( nunca vou perder a culpa por não ter visto antes.
Fico tão feliz pela Irene, desejo tanto que o percurso da minha filha volte a ser feliz como o da tua. E obrigada por tudo.
Entao e os olhos doces da educadora? Ninguém a tentou dissuadir de a retirar e explicou esses comportamentos?
ResponderEliminarPossa!! Coitadinha da irene e de todas as outras crianças dos comentários que li aqui. FeliZmente nunca senti isso com a escola das minhas filhas. Nem quero imaginar.
ResponderEliminarBem, que escola do inferno. Em todos os sítios há uma ou outra pessoa menos mimosa e mais abrutalhada (normalmente as auxiliares - dentro dos limites do razoável, claro), espera-se que as outras contrabalancem e contradigam isso, mas tantas experiências em que as crianças mudaram de facto de comportamento e começaram a ser agressivas só pode significar que algo não está bem nessa escola. Talvez fosse de alguém se queixar ou tornar público o nome, digo eu...
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