Não tinha pensado muito neste assunto porque ainda não o tinha vivido tão de perto. A minha cunhada, professora, ficou colocada a mais de 230 quilómetros de casa. De um dia para o outro, teve de pegar nas filhas, nas roupas, na vida e mudar-se, com tudo o que isso implica.
Lembro-me da minha tia, também professora, ser colocada no norte e no sul do país, algarve, passando pela zona oeste. Esteve a dar aulas na Picha. Eu era miúda e muito risinho parvo dei à conta disso. Ela era de Santarém. O filho pequeno andava com ela para cima e para baixo, ano após ano.
Acho-as heroínas. Sim, heroínas. Elas - e eles - que têm que contar com a imprevisibilidade. Que têm de fazer contas à vida, decidir quem vai e quem fica, até que limite compensa ir e vir todos os dias, o que se faz com a casa que estão a arrendar ou a pagar ao banco, como suportar mais custos. O marido ou a mulher também vão? E se também ele for professor e se ficarem colocados em sítios díspares? Separam-se famílias. Pais ou mães que raramente vêem os filhos. Deve custar, caraças.
Custa-me saber que uma professora que chega a Santarém com a filha pequena têm de ficar a viver num quarto, sem possibilidades de ter a sua própria casinha. E encontrar esse quarto de um dia para o outro. Creches, conseguem pagar ou arranjar vaga a esta altura do campeonato?
Muita sorte têm eles, que têm trabalho, pensarão alguns. Sim, em parte, sim. Têm sorte de poder fazer o que gostam. Têm sorte de ganhar algum ao fim do mês, a trabalhar no que os preenche e na área para a qual estudaram. Mas dentro da sorte, têm de ter um poder enorme de reajuste, de adaptação e de poupança. Espírito de sacrifício. E sorriso nos lábios para, no dia seguinte, poder receber de braços abertos os filhos dos outros.
E eu não tenho especial medo da mudança. Faz parte da minha personalidade. Já troquei de trabalho, já passei de contrato para recibos verdes, para poder fazer coisas diferentes. Não me importaria de emigrar, por exemplo. Não me custaria voltar a mudar de cidade. Acho que a nossa geração está mais aberta à mudança, aos trabalhos em vez do emprego para a vida. Somos mais saltimbancos, por necessidade mas às vezes também por opção.
Só que neste caso é por um período tão curto e de uma forma tão abrupta e às vezes para ganhar mais tempo de serviço do que propriamente dinheiro... tiro-lhes o chapéu. Que corra tudo pelo melhor. Que, apesar desse abanão e dessa imprevisibilidade constante, consigam a calma e a estabilidade necessária para conseguir apaixonar os vossos alunos.
Bom ano lectivo.
(Aos que não conseguiram colocação, força, força a dobrar)
❤
Lindo, Joana. Consegues mostrar num pequeno texto aquilo que infelizmente continua a ser uma realidade no nosso país. E sabes que à tua sogra aconteceu o mesmo? Foi por isso que o David já nasceu no Alentejo �� Beijinhos.
ResponderEliminarObrigada por falar em nós professores como pessoas numa época em que cada vez mais somos números. E sim, muitas vezes é duro encarar uma turma com um sorriso quando temos o coração desfeito de saudade dos que amamos
ResponderEliminarPosso estar errada, mas creio que os professores podem escolher a zona geográfica para onde se candidatam. Há quem só coloque distritos mais perto de casa (reduzindo o número de escolas prováveis onde possa ser colocado) e quem arrisque zonas mais longe, correndo o risco de ter mesmo de se mudar. Não estou com isto a dizer que o sistema é bom, que não é, mas acho que não coloca professores fora de zonas por eles previamente escolhidas.
ResponderEliminarOs professores têm de alargar a zona de escolha porque caso contrário não conseguem vaga. Pudessem só concorrer para a zona que geograficamente mais lhes convém e com toda a certeza o fariam. Mas infelizmente para conseguirem vagas são "obrigados" a colocar, muitas vezes, quase todo o país. Pois se não o fizerem, correm o risco de não ficar colocados, ou seja, ficam no desemprego.
EliminarSó não vê isto quem não quer.
É claro que podem só colocar a zona que mais lhes agrada, mas depois não são colocados, ficam sem trabalho e no concurso seguinte têm as mesmas horas de serviço (não melhoram a sua colocação nas listas).
Eu não sou professora, mas admiro muito todos os professores e têm todo o meu reconhecimento pois têm uma profissão muito importante e fundamental na sociedade, ensinar as gerações futuras. E isto é do mais importante em qualquer sociedade.
Lamento muito e tenho mesmo muita vergonha pela forma como os professores são tratados no nosso país.
Ninguém imagina como é ser educador ou professor em Portugal! No público é muito complicado e tem que se andar sempre com a casa às costas (quando se tem colocação). No privado os ordenados são uma miséria. Ainda esta semana fui a uma entrevista para educadora e foi-me oferecido o salário mínimo. Não aceitei e ainda olharam de lado para mim. Temos de valorizar a educação e a nossa profissão. Grandes colégios e grandes mensalidades. Se alguns pais soubessem quanto ganham quem está do outro lado, enfim...
ResponderEliminarMas acho importante referir, como professora, que só se fica colocada numa escola para a qual se concorre e que o que há a ponderar deverá acontecer na altura dos concursos.
ResponderEliminarFartinha de ver tanta desinformação sobre este tema.
A minha mãe com 50 anos, pela primeira vez há 2 anos, foi obrigada a sair de casa para outra cidade desconhecida. Este ano, aconteceu novamente, desta vez por 4 anos! Vive sozinha, numa casinha modesta, sem grandes condições porque é isso que dá para pagar. O dinheiro que ganha chega para os gastos que o trabalho implica (renda, combustível, etc) e para pagar as despesas da casa que deixou, com uma filha, também a morar sozinha, separadas. Não há um dia em que não me ligue, por vezes a chorar, a dizer que está farta desta vida. É muito triste trabalhar há mais de 20 anos nesta profissão, sem qualquer reconhecimento, seja por parte do país ou até mesmo dos pais! Qual é a motivação que um profissional tem perante tais condições?
ResponderEliminarDeve ser complicado mesmo... A minha mãe é professora mas teve a sorte de ser numa época diferente em que não tinha de andar com a casa e família às costas.
ResponderEliminarNo que toca a mudanças, também penso da mesma forma, seria capaz de emigrar e mudar de cidade sem qualquer problema. Acho que é bom ser assim flexível :)