8.27.2018

Vocês deixam que eles ganhem?

Andei a ler sobre isto. Calma, andei a ler porque tenho um blog e porque, vá, sempre me interessei por questões de ordem "psicológica" (vá se lá saber porquê...). No outro dia, fomos passear a Monsanto - amo, amo - e a Irene quis fazer uns sprints comigo (para quem não saiba, neste caso, fazer "sprints" é por a mãe a suar das axilas e a ficar assada entre as coxas para correr muito rápido). 

Aceitei porque ando a dizer muitos mais "sins" que "nãos" (parece os sins melhoram muito o dia das duas, desde que com razoabilidade e não por preguiça de sentir um pouco de desconforto) e também porque sempre gastava mais umas calorias extra. Ela corre rápido, mas ainda corro mais do que ela. Sublinhe-se o ainda, porque tenho noção da vida.

Na altura tive de me perguntar se a deixaria ganhar ou não. Porque a verdade é que eu ganharia sempre que quisesse, mas também não me pareceu útil. Então, instintivamente, o que fiz (depois de dois ou três sprints em que o soutien desceu demasiado e fiquei com as malfadadas quatro mamas) foi combinar com ela um avanço por ela ser mais nova. A Irene nem sempre lida bem com o facto de ser ela a criança e de eu ser adulta e achei que este reforço seria justo. Por ser mais pequena, ter pernas mais curtas, leva um avanço (um bom avanço que torne e competição quase renhida). 


Agora vou ler sobre o assunto, para ver se tenho de pensar mais um pouco nisto ou se tenho algum útil para vos apresentar, volto já. 

um artigo giro que diz que o  "que importa não é se ganha ou se perde, mas como". 

- É útil que os nossos filhos assistam a como lidamos com as derrotas e com as vitórias para terem um bom exemplo; 

Tento muito não me esquecer disto. Mais do que "conversa", é o exemplo que se dá. Quero que ela tenha bom ganhar e bom perder, até para que se foque nas coisas mais interessantes da vida e não fique frustrada ou motivada com coisas pequenas (como... a mãe muitas vezes, hahah, mas xiiiuu). E, já agora, aproveitar o exemplo para gerar empatia pelas pessoas que não ganharam. Claro que isto não é tudo aos 4 anos, mas a mãe assim já aprendeu - nem que seja também um bocadinho pela internet. 

Quando os deixamos ganhar (este artigo começa assim), temos de ter noção se eles se estão a aperceber que lhes estamos a fazer um favor e que estamos a alterar as regras, ensinando, então, que as regras não são assim tão importantes... E esta das "regras" tem-me dado jeito para acabar várias conversas e perguntas. Convém mante-las intocáveis qb... ;)

Este artigo, diz uma coisa gira: quando os miúdos estiverem a fazer uma birra, tentemos afastar-nos um pouco e imaginar que é o filho de outra pessoa, para tentarmos responder menos emocionalmente e de forma mais objectiva para lhes ensinar algo. O que acham disto? Por acaso, faço-o. Já via estas oportunidades como pseudo-didáticas e tento (ocasionalmente, porque raramente estou descansada ao ponto de querer provocar birras, confesso) deixá-la perder.

Quis partilhar convosco, agora nas férias (quem ainda as tenha), quem tiver mais tempo livre para jogar e brincar com eles... fica com umas ideias para pensar e decidir o que acha por si :)

Como têm feito? 








Os sonhos, a faxina e a sorte

Sábado. Hora de almoço. Faxina feita. Não adoro (sei que há pessoas que gostam de limpar e arrumar a casa, not me), mas não nasci com o rabo virado na totalidade para a lua [para as coisas mais importantes na vida, sim]. E não me posso queixar. Tenho a minha Dulce que vai 4 horas por semana e dá um jeito à minha vida (e que jeito). A única coisa de que gosto enquanto limpo a casa é a mesma que me acontece enquanto conduzo (que é coisa que também não adoro): organizo a cabeça, faço check lists e sonho. Sonho com o grande dia que se aproxima e imagino os nossos melhores amigos e as nossas famílias a brindar, a dançar, imagino as juras - desajeitadas - de amor, imagino as miúdas com aqueles vestidos brancos já todos sujos e sorrisos rasgados. Imagino a lua-de-mel, onde iremos os dois, pela primeira vez, para um destino de praia. Com água turquesa e areia branca, ver mantas e tubarões, respirar fundo ao pôr-do-sol e ler livros. Caraças, os sonhos concretizam-se. E a faxina, mesmo que nos pareça uma perda de tempo, faz parte da vida, das vidas das pessoas com sonhos. E, depois, esses sonhos até sabem melhor quando são concretizados. Sejam eles quais forem. Tenho muita, muita sorte. Espero que vocês também tenham.

Falta 1 mês e 12 dias para isto.






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8.24.2018

“Menti no trabalho: disse que o meu filho não tinha sido planeado”


Uma amiga confessou-me um dia destes que quando anunciou que estava grávida no trabalho e perante a questão das colegas se o filho estava nos planos, ela não conseguiu ter coragem para dizer que sim. “Foi um disparate, mas fiquei com vergonha e até receio de ficar mal vista”.

Acredito que, apesar de parecer um disparate, isto aconteça muitas vezes, perante colegas e principalmente perante as chefias. Engravidar nosso país é, infelizmente, visto como ir ali fazer umas férias (intermináveis) ou que a partir desse momento não podem contar connosco como até ali tinham feito. É como se houvesse um antes e um depois da profissional. Primeiro são as consultas, os exames, as baixas, depois a licença, depois a assistência e as doenças, a redução de horário, as reuniões nas escolas, as idas ao médico e ao centro de saúde, as viroses que se espalham por todos os membros da família e lá se vão as reuniões marcadas para as 18h30 da tarde, que pena, e lá se vai a disponibilidade que até ali era de 100%, a responder a chamadas à hora de jantar e a trabalhar madrugada dentro, todos os dias. As mulheres passam a ser vistas, e vezes até por mulheres, como alguém que arranja muitas desculpas para não trabalhar. Acham que nunca mais encarará o trabalho da mesma forma. Chegam a achar injustas as “benesses” (os direitos) que essas mulheres têm (ou os filhos delas). É incrível como nem a baixa taxa de natalidade no país, que está a deixar de assegurar a continuidade, é motivo de encorajamento das mulheres a terem filhos. E o facto de ganharem mundo e de ganharem uma flexibilidade gigante, de se redobrarem e chegarem a todo o lado – mesmo muitas vezes privadas de sono – nem o facto de darem tudo por tudo para continuarem a assegurar o seu trabalho para pôr comida na mesa parece suficiente.

Não vou ser hipócrita. Eu, infelizmente – não me orgulho mesmo nada – lembro-me de, uns aninhos depois de ter começado a trabalhar – ficar meia revoltada (nunca o expressei para com essa pessoa, menos), quando ela tinha redução de horário e tinha de ser eu a ir fazer todas as reportagens a 400 kms, às vezes em dias seguidos – uma vez calhou Porto e no dia seguinte Algarve. Custava-me. Mas com quem eu devia ter ficado chateada era com a minha chefia, que deveria ter arranjado outra solução ou posto mais uma pessoa na equipa, para que nos fôssemos alternando. Não era aquela mãe. Depois fui mãe e apercebi-me disso.

Termos um filho, termos dois filhos e até três deveria ser encorajado, caso seja essa a nossa vontade (e ainda melhor caso seja, de facto, planeado, desejado e sonhado). Deveria haver mais formas de gestão de equipas, mais possibilidade de trabalhar a partir de casa, mais possibilidade de fazer trabalho a tempo parcial. Deveria haver também mais equidade na distribuição de tarefas domésticas, as enfermeiras no centro de saúde não deveriam ficar ainda espantadas com o facto de ser um pai a acompanhar as consultas, as reuniões não podem continuar a ser agendadas para as 18h30 (independentemente de ser com homens ou mulheres).

Há muito caminho a fazer para que ter um filho não seja visto como um empecilho para uma empresa. Há muito caminho a fazer para que não haja medo de assumir: eu escolhi ter este filho.

 

Mais alguém teve medo de assumir?
(comentem em anónimo caso tenham receio de represálias, etc)
imagem pixabay.com/pt

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