9.20.2018

Ela quer umas férias... de auto-caravana!

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Por que é que não posso ter uma filha que tenha curiosidade e imensa vontade que seu o pai, ex-marido de sua mãe, ofereça um condomínio fechado à mesma? Ou por que é que não morre de vontade de pôr a loiça na máquina depois de dar uma passagem nos pratos de sopa para não ficar a cheirar a lixo com este calor?

Não. A miúda agora quer é viver à Eminem no filme 8Mile. Claro que sem a parte dos maus tratos e abusos. Bom, se calhar devia riscar este exemplo, mas não estou agora com grandes referências de auto-caravanas na minha vida. 

Ela já me anda a dizer isto há um ano ou dois. Praticamente desde que começou a falar, que graça! Foi a primeira frase que disse: "Mãe, temos de ir viajar de auto-caravana. Vá, um abraço". Foram duas frases, que não sou parva, eu sei. 

Bem, sendo assim, sabendo que ela não sabe bem o que está a pedir. Acho interessante ouvi-la e considerar essa hipótese, até porque acho... à parte dos cocós e xixis em monte para um balde ou para um depósito (não sei bem do qu eestou a falar) até pode ser giro viver uma vida minimalista, desde que devidamente equipada com wi-fi, ben-u-rons, brufens, anti-mosquitos e Uber Eats. 

Ontem, a falar com os meus colegas (ainda falo com eles e eles comigo apesar de trabalhar na empresa há mais de 10 anos - é porque eles vão mudando, vão brotando dos cantos, são sempre malta nova) disseram-me que só se podem estacionar auto-caravanas dentro de parques de Campismo. Isto é verdade? A auto-caravana é, então, só uma tenda montada para todo o lado? 

Tem de haver mais do que isto em relação a auto-caravanas. Brindem-me com informações. Sei que isto não é muito sexy para uma blogger que não seja de viagens e de aventuras, daquelas mães que consegue dar de mamar, num marsúpio, despida enquanto vai numa liana fazer um grande mergulho numa cascata, mas tem de se começar por algum lado. 

Ajudem aqui a... pseudo-beta que se quer auto-caravanar. Alias, nem sou eu... é a filha que estou a educar e que, na volta, quando formos até vai odiar... 



Assim quase que dava, não era? Até ter uma intolerância qualquer e dizer "malta,vão todos lá para fora para o parque de campismo que preciso da sanita só para mim". 







9.19.2018

Vamos falar de violência obstétrica?

A minha mãe foi das primeiras pessoas que me falou do que sofreu no parto. No meu parto, há 32 anos. Sofreu muito. Mais do que pelas dores, pela forma como foi tratada. Ouviu a célebre frase do "não gritou quando o fez", não lhe deram água nem molharam os lábios quando pediu, foram muito brutas e insensíveis. Disse-me que foi muito maltratada, ignorada e que teve muito azar. "Devia ter feito o curso de preparação com elas, não me conheciam e não quiseram saber". Penso que terá sido tão mau e traumatizante ao ponto de ainda contar o episódio com um ar triste. Também por isso terá sofrido tanto quando eu tive a Isabel. Chorou, preocupou-se muito, ficou em Lisboa até nascer (nasceu às 02:38 da manhã), não arredou pé. Também aí me apercebi de que uma mãe é mesmo para a vida toda (e que sofre a vida toda pelos filhos).

A minha mãe foi vítima de violência obstétrica. Mas eu achava que era coisa de enfermeiras e médicas da "velha guarda" e estava longe de saber que, hoje em dia, ainda há muitos procedimentos que não são normais e nem sequer necessários, que ainda se desrespeita muito a mulher e a vontade desta e que a mulher não sabe ao que vai, não conhece as várias opções, não está informada sobre o processo biológico. A verdade é esta. São poucos os cursos de preparação para o parto onde se fala do que pode e deve ser feito. Ensina-se o que é feito nos hospitais. Não se fala de alternativas. Não se questiona.

Eu só descobri que a episiotomia raramente é necessária aqui, no blogue, quando abordei o tema e me passaram informação sobre a mesma. Eu só descobri que os químicos que nos dão para acelerar o trabalho de parto ou para o induzir aumentam e muito as nossas dores. Só mais tarde percebi que há médicos que inventam desculpas para que o bebé nasça no dia mais conveniente ou para prosseguirem para cesariana: "placenta velha", "pouco líquido", "está sentado", dizendo também, muitas vezes, que, com 37 semanas ou 38 já estão mais que prontos, ou que são muito grandes, ou que... A mulher, vulnerável, perante aquele que considera o expert, aceita tudo. Deixa nele as decisões.

Aprendi muito depois de ser mãe. Com o que li, com outras mães, com especialistas em amamentação, com histórias. E li recentemente uma reportagem (chamada O Ponto do Marido aqui ) que me deixou enjoada sobre violência obstétrica no Brasil, conduzido por uma jornalista também ela vítima. Coisas que se dizem, "piadas", coisas que se fazem, procedimentos a que submetem a mulher, que não é tida nem achada no processo. Uma em cada quatro mulheres é vítima de violência obstétrica no Brasil. Há, por lá, mas também por cá, o chamado "ponto do marido" que é o ponto que dão a mais na vagina da mulher para que possa dar mais prazer ao marido, deixando-as muitas vezes incapacitadas e sem prazer durante meses ou anos ou... Isto faz-se. Muito. E provavelmente também por cá. E isto é mutilar. É desumano. Cruel. Machista. Abjecto. Imoral. E muitos outros adjectivos.

(Segundo a reportagem "O Ponto do Marido", aqui, a episiotomia, o corte abaixo da vagina durante o parto, deveria ser usado apenas em casos pontuais e necessários, mas acaba por ser usada em 53,5% dos casos no Brasil. O problema? Não há provas científicas de que este seja necessário, o mesmo não pode ser feito sem autorização da paciente e a costura posterior não pode ir além do corte vaginal dito 'natural' para satisfazer o parceiro. A OMS adianta mesmo que "não há nenhuma evidência que prove a necessidade da episiotomia em qualquer situação".")

Eu li testemunhos assustadores. Felizmente há quem dê a cara por este tema e há coisas que estão a ser feitas. Por exemplo, vai ser ministrado o primeiro curso sobre violência obstétrica para juízes (compreender o que é é o primeiro caso para que possam avaliar); o Ministério Público fez uma audiência para debater o tema com profissionais de saúde; projecto lei está a ser aprovados; o tema está ser amplamente disseminado. Ainda bem.

Ainda falta muito. Até ver-se negada a posição como a mulher quer parir pode ser, em alguns casos, um exemplo de violência obstétrica, sabiam? Que o plano de parto deve ser respeitado quando possível (e muitas vezes até era possível, mas não dá jeito). É por isto e por tudo o resto que ainda há muito a fazer e as doulas, os profissionais e os especialistas podem ser mesmo muito importantes neste processo de quebrar mitos, medos e de empoderar as mulheres. Conhecer os nossos direitos é fundamental.

Temos de falar sobre isto. Venham daí essas opiniões e essas histórias. 

Esta imagem... esta imagem... mata-me um bocadinho.


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E estas fotos de mães todas boas na net?

Estou zangada convosco, mães tesudas. Estou zangada convosco, mulheres, que dizem "ai, com a gravidez perdi tanto peso que estou super magra". Bem sei que todas temos os nossos problemas, mas parece-me sempre que preferia ter os vossos. 

Depois de ser mãe, lembro-me que olhei ao espelho (agora apercebo-me que não foi imediatamente a seguir, que foi depois de ter ficado um ano em casa) e vi duas papadas, a cara muito mais larga, os braços tão largos que pareciam ter um garrote imaginário algures, umas pernas gorduchonas (mas já vi brasileiras com estas coxas e achei que lhes ficavam bem). 

2018 é o ano para apostar na minha sensualidade na internet, tomem um pouco de Yoga que faço com o Chama a Sofia


Pensei: ahh... pois, entrei agora no campeonato das mães. Já foi. A minha oportunidade de ficar agradável de maneira a não por uma pareo nas mamas mas sim abaixo do umbigo (bem sei que quase ninguém usa pareos hoje em dia, mas vale a pena relembrar) já está mais longe que a minha esperança de achar que ninguém repara no meu buço.

Estas influencers que foram mães, as magras por natureza e as six-packers que têm a barriga mais definida que uma televisão de 3 mil euros retiraram-me uma das maiores felicidades do mundo, a desculpa: "Oh, fui mãe, é normal que pareça um insuflável". 

É normal durante os primeiros meses e os primeiros tempos e até sentirmos força e vontade para trabalhar nisso. Não é de todo a prioridade, não temos de "ser perfeitas" ou de estarmos sempre "em cima da nossa saúde". Às vezes temos de... não nos importar, para nos conseguirmos importar com coisas que nos parecem mais urgentes, tipo um bebé que não pára de chorar durante 5 horas a não ser quando vai para o colo do pai. 

Mas estas mães do instagram, ou têm um filtrozinho de 99 centimos no Face Tune ou no Vsco que põe uns abdominais e lhes tiram "o peso da maternidade" ou, então, reencaminharam o parto do bebé para outra pessoa como eu faço com mails chatos. 

Bom, isto de ser mãe - ainda para mais quando já passaram 4 anos - já não serve como desculpa e por isso ando a cansar o rabo. Em que fase estão vocês? 

Se forem uma das mães todas boas do instagram, bom para vocês. Fico quase genuinamente moderadamente contente por vocês - não fico nada - mas, não me levem a mal se tiver que fazer um unfollowzinho só para garantir que mantenho as últimas gotas de auto-estima que me restam, 'tá?