11.25.2016

Até que idade podem dizer piu-piu?

Já que temos a Diana Lopes (terapeuta da fala) à distância de um e-mail, decidimos fazer-lhe algumas perguntas. Vejam lá alguma vos dá jeito! Obrigada, Diana :)





O que se deve fazer com os miúdos que comunicam por gestos para estimular a linguagem? 

Muitas crianças usam gestos para conseguirem o que querem. A  linguagem gestual pode ser uma ponte, mas deve ser superada. Se os pais/cuidadores entregam sempre à criança o objecto simplesmente apontado, a criança habitua-se e não aprende a usar a fala quando quer alguma coisa, sabe que basta apontar para adquirir o objecto pretendido. Isso, por vezes, leva à substituição da linguagem oral pela gestual. Embora a criança ainda não fale (ou mesmo quando fala) os pais/cuidadores devem explicar o que é aquilo e promover a oralidade incentivando-a a falar. Por isso, no momento em que a criança aponta para a água, é indicado que os pais perguntem "queres o quê?" esperando que a criança faça o pedido, incentivando-a a falar. Caso não o faço devemos dar o feedback: "Queres água? Então diz, eu quero água por favor". 




Até que idade podem dizer piu-piu?

Pouco depois dos 12 meses, surgem as primeiras palavras apesar de cada criança ter o seu ritmo de desenvolvimento! Geralmente são monossílabos ou repetições de silabas, por exemplo, “ó-ó” para cama/dormir ou “mã” para mãe, correspondendo sempre a pessoas ou objectos significativos para o bebé. No entanto, uma vez dita a primeira palavra, o vocabulário da criança multiplica-se rapidamente, à medida que começa a experimentar novas palavras e a juntar novos sons.

Aos 18 meses, o vocabulário do bebé pode incluir entre quarenta a cinquenta palavras, ou até mais, conseguindo compreender cerca de duzentas palavras. Por esta altura, já é capaz de compreender frases e ordens simples, iniciando a produção de holófrases (por exemplo, diz “áua” para transmitir a ideia de “quero água”) e é capaz de nomear objectos familiares. Por volta dos 2 anos, usará cerca de duzentas a trezentas palavras, em que 50% dos sons são claros e inteligíveis, e compreenderá cerca de mil palavras. Este desenvolvimento da linguagem da nascença até ao momento, permite ao bebé compreender ordens mais complexas, dizer o seu nome e construir frases com duas a três palavras. Desta forma, aos 18 meses já não é suposto usarmos um discurso infantil com a criança, será uma boa altura para começarmos a dizer que "o pássaro faz piu piu" em vez de "olha ali um piu piu".

As "coisas" devem ser sempre tratadas pelo nome, desde muito cedo. 




A Irene trata-se pela terceira pessoa e eu a ela, é grave? Devo fazer por alterar asap?

A Irene já tem 2 anos e 7 meses, sei que está dentro do que é esperado para a idade.

A Irene trata-se na terceira pessoa em todas as situações?  Na creche, como se refere a si própria, a Irene ou eu? Se se referir a ela na terceira pessoa em todas as situações, devemos começar a usar o "eu". Uma das consequências de se tratar sempre na terceira pessoa é o não reconhecimento  do significado do "eu".

Com os 3 anos, surgem capacidades gramaticais, como por exemplo, o uso de plurais e preposições, assim como a aplicação de questões no seu discurso (“a chamada idade dos porquês”). O vocabulário da criança é variado, permitindo-lhe compreender frases simples. Porém, na sua expressão as frases ainda são telegráficas respeitando a estrutura básica (Sujeito-Verbo-Objecto), por exemplo (“Irene quer leite”). É também nesta faixa etária, que surge a manipulação dos sons da língua através de jogos com rimas e de segmentação silábica, que será a base para a aquisição da capacidade de leitura, posteriormente. 

É uma boa altura para deixarem de se tratar na terceira pessoa dando o Feedback correcto à Irene.




O sono e o desenvolvimento da linguagem?

Não existem estudos concretos que confirmem que o sono seja benéfico ou prejudicial para o desenvolvimento da linguagem. Contudo, pela experiência e pelo que observamos sabemos que o sono tem um papel fundamental em todas as fases de desenvolvimento da criança. Uma noite de sono mal dormida pode ter como consequência uma diminuição na atenção e na concentração também porque a criança fica mais birrenta. Assim, se não estamos concentrados/ birrentos a aquisição de novas informações (palavras novas, por exemplo) é prejudicada.




Contacto ocasional com os avós que insistem em falar abebezado é de corrigir os avós ou não tem influência? 

Acabei por já falar um bocadinho desta questão do falar "abeberando" na questão "até que idade devemos dizer piu-piu".

Este acaba por ser um assunto sensível para os avós.

Quando dou algumas orientações aos pais, mais cedo ou mais tarde, acabo sempre por ouvir "mas Diana, eu faço isso mas quando ele está com os avós, é para esquecer. Os avós deixam-no fazer tudo o que ele quer, como quer (......)".

Os avós têm um papel muito importante na vida das crianças e no seu desenvolvimento. A relação de afecto, carinho e cumplicidade com os avós marcam a vida de uma criança para sempre. Os avós contam histórias, mimam, dedicam muito tempo aos netos e a grandes maioria das vezes acabam por ter mais paciência para os netos do que tinham com os filhos. 

As crianças aprendem a falar pelos estímulos que recebem das pessoas que os cercam, ou seja, a criança só aprende a falar ouvindo alguém que fale com ela. Por este motivo, é muito importante darmos padrões correctos de fala às crianças, mesmo que sejam bebés. ~

Acaba quase por ser uma regra, quando as crianças começam a falar acabam sempre por pronunciar uma ou outra palavra de forma incorrecta mas a família cheia de felicidade de ouvir o rebento a falar tem a tendência de imitar a forma como a criança fala porque acha bonito, engraçado. Contudo, mesmo no meio das palavras "engraçadinhas" que são pronunciadas pela criança de forma incorrecta, o adulto deve sempre dar o feedback correctivo.

Da mesma forma que ninguém dá um alimento estragado a um bebé, não devemos também dar um exemplo de fala errado, visto que a criança imita o adulto. 

Por isso, avós, dar muitos mimos, muito carinho, brincar muito mas usar sempre um discurso pouco infantil com a criança. 



A linguagem e as emoções. A ajuda nas birras. 

A criança tem uma expressão verbal limitada, e é através do comportamento que frequentemente expressa o seu mal-estar. As manifestações do comportamento podem tomar várias formas e, em diferentes crianças comportamentos idênticos, podem ter diferentes significados. Vejamos, como exemplo, as vulgares "birras", comuns em crianças pré-escolares, e que vão normalmente tornando-se menos frequentes com o crescimento, quando a criança passa a ser mais competente a usar a palavra para exprimir o seu pensamento e emoções. Quando falamos em "birra", referirmo-nos habitualmente a um estado de agitação em que a criança chora e berra, normalmente a seguir a uma frustração. O facto de não se conseguir expressar, fazer os outros entender o que quer, leva a um estado de frustração. 


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Eu sou o Marcelo só que ninguém sabe (#04)

Nem sempre temos a história antes de dormir. Às vezes a história é enquanto está sentada na sanita ou à hora de jantar ou, então, nem sequer há história porque "está muito tarde". Este livro é muito importante para nós, para a família. Quando a Irene ficou em casa connosco, foi-nos acompanhando ao longo do dia e a maior parte das refeições. Temos um carinho especial por ele. Lembro-me do dia em que o comprei, etc. É daqueles livros que, mais tarde, quando doar os livros a alguma associação ou amiga, irei guardar dentro do armário. 

Além dos desenhos serem amorosos e de dar para adaptar para várias idades, o pai até já criou histórias extra as que lá estão. Tanto que o livro é diferente quando é contado pelo pai e quando é contado pela mãe (o pai é bem melhor nisto). 

Com este livro começou a aprender o aqui e ali (o acolá... dispensamos um pouco), "em cima", "em baixo", "contente", "triste", as cores... Está tudo aqui. Depende só de quem lê. 



Só para verem quanto gostamos deste livro, limpo logo com um paninho húmido quando fica um bocadinho sujo de sopa! Aconselho... Vivamente. Não o meu, no meu não tocam. Ai, no da Irene ;)

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"Não quero a mãe!"

Doeu-me. Muito. Na alma. Nunca a tinha ouvido expressar tal coisa. "Não quero a mãe". Assim. Com um olhar duro. Assim que cheguei à sala dela, na escola, para a ir buscar. Chorei por dentro. Fingi que não. O meu lado mais optimista procurou o humor. "Olha, isto é para me preparar para a parvoíce da adolescência, quando gritar do quarto que me odeia", pensei para os meus botões. Não correu para mim, não ficou feliz de me ver. Não foi a primeira vez, mas desta vez disse-o. Fiquei ferida. Mesmo tentando desdramatizar, mesmo sabendo que me adora mais do que ninguém. "Vá, Isabelinha, vamos para casa, amor." "Não quero ir para casa". Okay, não é novidade. Nunca quer ir para casa, adora a escola e quer ficar sempre mais um bocadinho. Mas ultimamente demoramos uma eternidade a sair. A Luísa cansa-se, choraminga por levar com uma enxurrada de mãos e apertos e festinhas dos colegas da sala, e nem perguntando se quer ir ao pão ou à loja da fruta a convenço. É difícil. Depois de lhe dar tempo, é tempo de ir. Corre pela escola, foge, não quer ir ao colo, não quer entrar no carro, não quer ir na cadeira. Eu, que até lhe consigo dar a volta tantas e tantas vezes, não tenho conseguido. Todos os dias, sempre que sou eu a ir buscá-la, é um número de circo para a levar para casa. Já sei que há birra certa no carro.

Mas desta vez foi diferente. Pior, muito pior. Eu estava a pensar em tudo o que poderia estar a fazer de errado. Perguntei-me baixinho, por entre o choro alto da Isabel, que interrompia para dizer que queria ir à Susana (a educadora), o que estaria a fazer de mal. Quis saber o porquê daquela repulsa. Não era suposto, depois de tantas horas separadas, ela querer ver-me, estar comigo, brincar comigo? Não querem todas as mães ser recebidas com um enorme abraço? Serão ciúmes? Estarei a dar-lhe pouca atenção? Por que razão se contorce toda e chora como se não houvesse amanhã, aos soluços, quando tento prendê-la na cadeira? Por que razão não colabora? Acabo por aleijá-la, às vezes, ao prendê-la à força e, depois de tanto tempo aos berros, às vezes acabo por perder a calma e dizer-lhe que estou zangada e triste, levantando a voz. Já lhe pedi que se calasse também. Já gritei por cima. É extenuante.

Viu-me chorar. Chorei muito e não escondi. Quando saímos do carro quis ir ao meu colo e deu-me abraços. Muitos. Perguntei-lhe o porquê, e ela, de nariz vermelhinho de tanto chorar, deu-me um beijo e fez um som querido. Foi o pedido de desculpas à maneira dela.

E agora? Vai ser sempre assim? Faz estes números comigo por se sentir à vontade? Por saber que o meu amor é inesgotável? Por saber que não fujo? Mas... até quando? O que se está a passar?

Tento, nos meus momentos de tristeza e de ira, lembrar-me de que ela é um bebé, para fugir à tentação de a tratar como uma adulta e exigir-lhe sensatez e controlo, quando até eu o perco. Já me apeteceu esbofeteá-la. E ontem, o meu lado mais irascível estava a apoderar-se de mim e eu só queria que parasse, até porque aquilo me estava a assustar e à Luísa também. Parecia um animal ferido, a gemer. Quase lhe ouvi os uivos.

Não sei o que lhe acontece nesses momentos. Só sei que tenho de ajudá-la. Alguém me consegue ajudar a ajudá-la?



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