Fui a uma especialista de sono por causa da Irene.
Quer dizer... mais ou menos. Ela é que veio até mim.
As minhas noites são miseráveis e, obviamente, que escrevi sobre isso. A Verina (Sono de Sonho), simpática, quis ajudar e veio a acontecer espontaneamente que tentasse aconselhar-me e a experiência está aqui.
Já escrevi isto, mas nunca é de mais reforçar. Senti que era uma mãe que compreendia a minha maneira de ser mãe. Senti que me dava toda a liberdade possível de ser tão galinha quanto quisesse, não me senti julgada, não me senti pressionada. Senti, sinceramente, que estava a falar com uma amiga que sabia muito mais sobre o sono de bebés que eu.
E acho que todas nós, apliquemos ou não métodos específicos nisto do sono, temos sempre curiosidade sobre os sonos dos bebés. Nem que seja porque muitas de nós temos mais saudades de dormir uma noite inteira do que de brincar ao bate pé no recreio da escola.
Naquele link ali em cima que muitas de vocês preferiram ignorar (eu conheço-vos sacanas) estão as perguntas que foram feitas à Verina que se disponibilizou para responder cuidadosamente. Se tiverem mais podem sempre tentar a vossa sorte aqui nos comentários a este post que ela, mais cedo ou mais tarde, vem aqui parar, de certeza ;)
Aqui estão as respostas da Verina a algumas das nossas leitoras (quem sabe se não são as vossas dúvidas também):
Respondendo à Ana (17 de março, 14:03), todos os bebés nascem ateus e
respondem apenas aos seus instintos básicos: tenho fome, estou cansado,
procuro conforto. E esses instintos têm horários caóticos e estapafúrdios (pelo
menos, aos olhos dos adultos).
Como em tudo num recém-nascido, apenas a maturidade vai trazer de volta
a ordem na anarquia instalada em cada lar parido. Com isto, quero dizer que
apenas a partir dos 3 meses é que os bebés são capazes de produzir
melatonina (mais uma hormona, como se não bastassem!), que funciona
como um sinalizador do dia e da noite. Aqui é que o relógio biológico de bebé
começa a acertar os ponteiros. Antes disso, é difícil estabelecer rotinas.
A partir dos 3 meses, os pais têm três opções:
1- impõem eles os horários ao bebé e esperam que se adaptem sem grande
estrilho (é o que acontece quando os bebés têm que ir para o infantário; não
é o método mais pacífico, como devem calcular, mas há bebés
completamente plácidos, da paz, como o da “Conversas Pais (17 de março,
14:28)” mas contam-se pelos dedos de uma mão!);
2- esperam que o bebé estabeleça lentamente os seus horários (das três é a
opção mais demorada e implica que os pais conheçam muito bem os sinais
de cansaço, fome, desconforto que o bebé transmite, o que nem sempre é
fácil; por vezes, quando o bebé dá sinais de sono, já passou a linha da
irritabilidade, o que torna mais difícil adormecê-lo);
3- a mistura das duas anteriores (a minha favorita), ou seja, através de um
registo, começam a perceber-se algumas tendências naturais de horários
(acorda entre as 6:30 e 7:30, por exemplo; fica mais quieto a pedir colo e a
esfregar os olhitos lá prás 9:00/9:30) e, a partir daí, joga-se com as “janelas de
sono” adequadas a cada idade (horas de sono vs horas acordado), evitando
que a criança fique demasiado tempo acordada.
Ter uma “boa higiene do sono” é nada mais do que respeitar as necessidades
de sono do nosso organismo e, consequentemente, o nosso ciclo circadiano. E
isso implica dormir o número de horas adequado ao descanso do corpo e da
mente, fazer as sestas necessárias, ter um bom ritual de adormecimento,
perceber quando o corpo pede descanso e dar-lho!
No que concerne ao ritual de adormecimento, esse começa logo que o bebé
nasce! Vai-se construindo, à medida que os pais vão conhecendo a criança.
Com o tempo, vão-se adicionando passos: ao recém-nascido basta-lhe um
aconchego, fralda limpa, música suave ou ruído branco; passados uns meses,
inclui-se o lavar de dentes; mais tarde vem a história, uma conversa amena e
por aí fora. Uma delícia!
Quanto à questão tão em voga do dormir sozinho ou bem coladinho à cama
dos pais (co-sleeping), essa é uma escolha dos pais. A prática do co-sleeping
veio à tona com a teoria do apego, como forma de vincular a ligação do
bebé aos seus cuidadores. É uma escolha, como tantas outras e a família é
perfeitamente livre para praticá-la. Mas, atenção, o hábito do co-sleeping
deve surgir por vontade genuína dos pais e não porque “é a única forma de
sossegar o bebé, durante a noite”. Nunca fazê-lo porque se sentem obrigadas
a isso, até porque mais tarde pagam essa factura.
Se o bebé acorda e chora durante a noite, há que tentar perceber o porquê
e não tapar o sol com a peneira. Eu sei, o cansaço nem sempre nos deixa
pensar com alguma clareza e a exasperação grita bem mais alto!
Bebé a dormir sozinho: sim ou não? Os pais é que sabem! Consistência e
coerência são tudo para o bebé, caso contrário, está constantemente a
receber sinais contraditórios dos pais.
A Isabel Ribeiro (17 de março, 14:31) falou comigo pessoalmente, entretanto, e
estou a acompanhá-la para percebermos os despertares nocturnos da sua
pequena e melhorar a qualidade do seu sono.
À Joana (17 de março, 15:19), eu sugiro que espalhe chupetas pela cama
antes de deitar os eu bebé, para que ele as encontre sozinho e se acalme sem
ajuda. Nem parece digno de uma consultora de sono, de tão estupidamente
simples, não é? Só lhe digo mais uma coisa: experimente.
Célia (17 de março, 15:47), com 21 meses, o seu filho já não precisa desse leite
a meio da noite mas só ponho certezas nisto conhecendo o historial clínico e o
desenvolvimento do bebé.
Quando um bebé acorda a meio da noite, os pais devem procurar sossegá-lo
usando o menor dos recursos, para não perturbá-lo ainda mais e para que
possa voltar a dormir rapidamente. Começa-se com um “chhhhh”, depois
uma carícia leve. Só deve pegar nele ao colo, caso o choro se intensifique e
veja que não está a conseguir tranquilizá-lo na cama dele. Se o levar para a
cama dos pais, está a abrir o seu território e a dizer-lhe “se quiseres, também
podes dormir aqui”. E o que é que o bebé vai decidir? “Quero dormir aí para
todo o sempre”! Se os pais estiverem de acordo, todos ganham (só há que
garantir a segurança do mais pequenito). Caso contrário, não deve abrir esse
precedente ou pode ter problemas mais tarde em convencer o bebé de que
a cama dele é aquela “grade de cerveja”, no quarto dos brinquedos!
Por outro lado, adormecer um bebé ao colo não constitui problema
absolutamente nenhum. Quando eles começam a crescer e a pesar mais de
6kg é que começa a ser mais difícil. Ficamos com os bíceps do Stallone mas
com as costas de uma reformada de 90 anos!
A Célia também perguntou se mudar uma criança para uma cama maior, se
resolve o problema dos despertares nocturnos. Depende: se as noites
interrompidas se mantêm quase desde que o bebé nasceu, não resolve nada,
que essa não é a origem do problema; se é coisa de há um mês e nota que
ele realmente está constantemente a bater nas grades, pode resultar e muito!
Cada criança é única, cada família é ímpar. Torna-se difícil generalizar
quando o que está em causa, na maioria das vezes, é um bebé pequeno, que
comunica de forma muito própria e, ao mesmo tempo, desenvolve uma
personalidade singular.
Bem a propósito, agora gostava de agradecer à Gilda (17 de março, 17:23),
pelo seu testemunho. O método que escolheu para conseguir que as suas
gémeas dormissem a noite inteira, para manter a sua sanidade razoavelmente
intocada, é considerado dos mais “violentos” mas é também dos mais
eficazes. Há especialistas que o repudiam gravemente; outros que o
defendem, por razões múltiplas. Se houve lição que aprendi na maternidade é
que não se deve nunca julgar uma mãe pelas suas escolhas. O importante é
que as crianças cresçam saudáveis e felizes, sem que isso implique uma dura
factura a pagar pelos pais. Uma mãe deprimida e um pai esgotado terão mais
dificuldade em harmonizar um lar com crianças que deles esperam as
melhores referências, o amor maior.
A Gilda deu o melhor de si. Não há como errar nisso.
À Catarina (17 de março, 17:44), digo que as sestas são demasiado curtas. O
seu bebé devia fazer sestas de, pelo menos, 45 minutos. Mas para chegarmos
à raiz do problema, precisava de um estudo mais aprofundado. No entanto,
posso aconselhá-la a que, quando ele acordar de uma sesta curta, insista
para que durma mais um pouco.
A Bé (17 de março, 20:39) teve o seu testemunho cortado mas posso comentar
o que conseguimos ler. Se a Bé, o seu companheiro e a sua filha se sentem
bem com esse ritual de adormecer, não vejo problema. Podem dizer que cria
um mau hábito ou uma dependência mas se até agora nunca foi
considerado um problema pela família, não vejo motivo para preocupação.
Se num destes dias decidirem alterar essa rotina, com uma boa conversa e
eventualmente um pequeno período de adaptação a questão resolve-se sem
problemas.
Ana Rita Fernandes (18 de março, 10:35), considero que o Pediatra será a
pessoa mais indicada para afirmar se o seu bebé ainda precisa do leite à
noite. É verdade que, regra geral, aos 15 meses os bebés já fizeram o
desmame nocturno. Pode fazê-lo de forma suave (reduzindo progressivamente
a dose) ou mais radical (deixar de dar leite de uma noite para a outra e
preparar-se para os protestos, tentando acalmá-lo da mesma forma como o
adormece). A Ana Rita conhece melhor que ninguém o seu filho e saberá qual
a melhor opção.
A Té (18 de março, 12:44) está numa situação semelhante à da Ana Rita (18
de março, 10:35). Fale com o Pediatra sobre a necessidade desse leite durante
a noite. E sim, os bebés acordam para o dia a horas dolorosas (6:30/7:30) e é
escusado lutar contra isso: está “carimbado” no ritmo circadiano deles. E
ninguém nos avisa disso quando estamos grávidas ou se avisam, rejeitamos no
mesmo segundo! A boa notícia é que vão acordando cada vez mais tarde, à
medida que vão crescendo (até à adolescência, em que arrancá-los da
cama passa a tarefa hercúlea!) .
Os casos da Ana (17 de março, 15:45) e da Rita (18 de março, 23:49) exigem
um estudo mais aprofundado do dia-a-dia, das rotinas, das dinâmicas
familiares, para percebermos o que se passa.
Gostaram? ;)
Agora quem pergunta não é a Verina! ;)
Se tinham alguns preconceitos sobre especialistas do sono, viram-nos resolvidos ou prolongados?
Gostei sim e nunca tive preconceitos com os especialistas do sono. Acredito que com rotinas e pequenos truques que nos aconselham, fazem toda a diferença para o bem estar do bebé e para nós claro. Gostaria também de deixar aqui uma questão à Verina. A minha bebé tem 4 meses e não dorme quase nada durante o dia. De manhã, se a deito a seguir a ter acordado e mamado, normalmente adormece, e perfaz no total 11/12hrs, tendo acordado 1x à noite e outra de manhãzinha. À tarde é o grande problema, tento a deitar antes de ficar rabugenta, dorme 40m e nada mais do que isso. Se tentar que durma mais um pouco, faz me me uma birra enorme e mesmo que tente adormece la ao colo, dorme mais 10m. O pior é que fica muito chatinha porque ainda tem sono. E não gosta de xuxa, o que torna mais difícil acalma la. Não sei se consegue dar me alguns conselhos apenas com a informação que lhe dou, mas se tiver alguma dica, agradecia.
ResponderEliminarOlha falam aqui do meu piolho :D
ResponderEliminarÉ bom haver especialistas e que a mãe tenha coragem de admitir que chegou ao limite e precisa de ajuda. Um dia ainda vou ler aqui que agora dormem como uns anjinhos. Um beijo a todas as mamãs e não se sintam culpadas :)
Eu consultei a Filipa Fernandes da Sleepy Time - Especialista do Sono. Foi há mais de 1 ano e meio e desde então somos todos muito mais felizes ca em casa. O meu filho tinha 17 meses na altura e acordava varias vezes durante a noite para que eu lhe desse a mão. Ficava horas sentada no chão gelada com a mão pendurada! :-) agora dá-me pra rir mas na altura era mesmo pra chorar!! Adorei a Filipa. Humana. Sensível. Sem preconceitos e que falava comigo percebendo tudo o que eu dizia. Explicou-me tudo e a verdade é que foi tudo muito fácil. Sem dramas e sem choros. Escreveu um livro optimo que recomendo a todas as mães: 10 dias para ensinar o seu filho a dormir. Sou uma grande fa do seu trabalho. Acho mesmo que pedir ajuda a um bom profissional é o mais acertado a fazer e só me arrependo de não o ter feito mais cedo. :-) Espero que a Irene já durma melhor!
ResponderEliminarMaria Inês, por acaso comprei o livro dela e gostei muito. Depois de várias pesquisas e de ter lido opiniões de diversas mães felizes depois de terem falado com a Filipa, também já marquei uma consulta com ela e estou ansiosa pq ando mesmo estoirada :(
EliminarOlá. Obrigada pela partilha sobre o tema sono. tenho 2 filhas uma de 6 anos, sempre dormiu 11h/12h à noite e sesta de 1h a 3 h :-) tanto à noite como de dia sempre a deitei no berço ás escuras e com pouco barulho. a minha mais nova tem agora 18 meses e vivemos um inferno durante o dia, na creche deitam as crianças demasiado cedo, a meu ver, é as 11h30 e a joana só dorme 1 hora, no final do dia está exausta, janta com dificuldade e chora o tempo todo e só quer colo até ir dormir (ás 20h30/21h) ao fds tento deita-la por volta das 12h30/13h e só anda a dormir 30 minutos :-( acorda ainda com sono a chorar e lá temos de ir passear para no regresso a casa dormir mais no carro. Tem técnicas para voltar a adormece-la qd acorda ao fim de 30 minutos de sesta? ela levanta-se no berço e chora ou seja berra que eu tiro-a. Mas já ponderei deixa-la chorar a ver se resulta e dorme mais .. os finais de dia tem sido horríveis, andamos com a cabeça em agua.
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