8.12.2019

Sentem que não têm família?

"Ai que vem aí mais um post todo dramalhão da Joana Gama!"
"Já no outro dia disse que quando era mais nova pensou em morrer e viu que deu likes, agora vai ser a blogger deprê". 

Amigas, sempre fui a blogger deprê deste blog. Disso já ninguém me livra. Mas, por acaso, hoje não há cá dramalhões, antes pelo contrário. 

Sei que estou a dois posts de escrever um livro de auto-ajuda, mas não me importa, porque uma das coisas que me faz ter vontade de escrever neste blog - além de passar férias aqui e ali em troca de umas mençõezinhas - é ter o prazer de me cruzar convosco e de me dizerem que já vos ajudei nalguma coisa. Nem que seja a não serem como eu, vá. 

E isto tem sido fabuloso. 

Vamos à auto-ajuda? "Vaaaamos, Joana! É mesmo isso que nós queremos ler quando estamos de férias, coisas que nos façam pensar ou que nos mostrem o quanto andas feliz já que durante 3 anos só te ouvimos dizer que davas mama e não bates na Irene."

Talvez seja igual para muita gente, espero que sim por um lado e, por outro espero que não. A minha noção de família nunca foi daquelas tipo "caixa de cereais" ou anúncios de televisão. De alguma maneira sempre senti que a minha família estivesse partida. Talvez, sim, por ser filha de pais divorciados mas havia algo mais. Da parte do meu pai, apesar de até achar que gostam um dos outros, não tomam iniciativa de se reunirem e o tempo vai passando. E, do lado da minha mãe, só nos reunimos em ocasiões festivas e, mesmo assim, é comum estar-se "com fogo no rabo" para se desembrulhar os presentes, por a máquina da loiça a lavar e seguir em frente. Isto piora quando não nos sentimos identificados com a nossa família por alguns motivos, quando nos sentimos "a carta fora do baralho". 

Ora, durante muitos anos, lamentei-me de não ter a família que um dos meus ex-namorados tinha. Todos próximos, todos a rir, todos sempre felizes por estarem uns com os outros. Ou a família da minha melhor amiga que falam todos todos os dias ao telefone. Custava-me ninguém me ligar para combinar coisas ou que, quando ligassem fosse um festival de perguntas e nunca fosse uma conversa agradável. Às tantas segui em frente e pensei "criando a minha família, acabam-se os problemas". 

Mal sabia eu que tinha razão. Depois de ter morto o ideal de família - sei lá se existe quando se vê de perto em qualquer uma - e depois de ter sentido a extrema solidão (ainda que fabricada ou o quer que fosse), apercebi-me de uma coisa que o meu pai já me tinha dito em relação aos amigos: "Joana, há amigos para tudo: para os copos, para desabafar, para jantar, para sair, para férias... raros são os que servem para tudo ao mesmo tempo". 

E a família pode não ser a ideal. Podem não ser aquilo que desejávamos e cabe-nos a nós saber de quem nos queremos aproximar e como. 

Finalmente a família do lado do meu pai parece estar a compôr-se. Tomei algumas iniciativas assim como um dos meus primos e temos tomado alguns cafés e chegámos até a almoçar no dia de Natal. Soube tão bem e acho que a todos. Ao ponto de ter surgido espontaneamente a ideia de irmos de férias para a "terra" da família e todos fomos sem reticências. Fomos a Pinhel. 

Eu, o meu pai, a minha madrasta, o meu irmão, o meu primo, o meu priminho e fomos ter com o meu tio. Passei alguns dias lá quando era mais nova, tenho muitas lembranças e, realmente, a família dá-nos um sentimento de pertença gigante que nos completa. 

Fomos às muralhas, fomos a vários restaurantes, a Irene deitou-se tarde a brincar com o tio e com o primo. A minha madrasta deu-lhe a mão na rua para passearem, o meu pai meteu-se com a Irene a fazer-lhe brincadeiras, o Tiago jogou xadrez comigo e com ela, ensinou-a a jogar qualquer coisa no telemóvel, deram mergulhos na piscina, comeram gelados juntos, contámos malandrices de quando éramos mais novos... 


Visitamos a casa dos nossos avós, os nossos antigos terrenos, os actuais, fomos ao restaurante onde trabalha o meu tio (e que, já agora, aconselho vivamente e que se chama Entre Portas, se forem ver as críticas no Trip Advisor, percebem que não estou a ser parcial, de todo). O dono, o Tá, ensinou-me a ser DJ tinha eu para aí uns 7 anos e tratou-me todo contente, como se eu fosse agora uma celebridade. Senti-me mesmo em casa. E foi mesmo onde comemos melhor em Pinhel, caso vão apitem que posso também dar outras sugestões.

Logo na primeira noite a Irene disse que eram as melhores férias de sempre (e, atenção, que já teve o rabiosque em Cabo Verde este ano) e pelo que sei o meu irmão também disse o mesmo e já tem 13 anos.

Às vezes andamos a inventar, à procura de pessoas, de sítios de coisas para fazer e, afinal, voltar às origens e com quem partilhamos tão mais do que contas de instagram e whatsapps sabe muito melhor.









Pinhel é lindo e a minha família também.
Mais do que cumprir datas, obrigações é estar porque se quer. Quando se quer, quando faz sentido.

E tinha mesmo razão em construir a minha família.

Se sentem que não têm família, conseguem aproveitar a que têm como querem e podem?




8.11.2019

As 5 coisas mais importantes para se receber um bebé

Ui! O que eu adoro listas. Por mais redutoras que possam ser, ajudam-me a reflectir, agora que estou mais distante daquela fase, sobre o que foi mesmo mesmo essencial, o que mais me marcou, o que - se fosse agora - voltaria muito provavelmente a achar essencial. Já leram o título, depreendo, a não ser que comecem a ler pelo fim (?): vou escolher as 5 coisas físicas que foram mais importantes aquando do nascimento das minhas filhas. Fica, desde já, o aparte de que cada família é uma família e cada bebé é um bebé e que esta escolha será sempre muito subjectiva, como é óbvio.

1) Babywearing bom, ergonómico, prático

Com a Isabel, ainda não estava muito elucidada para a importância e para a facilidade que é andar com os nossos filhotes agarradinhos a nós, devidamente suportados e aconchegados. A Rita Ferro Alvim emprestou-me um sling (obrigadaaaa!), que usei ainda algumas vezes, mas na altura achei que não era o fixe para as minhas costas. Ainda experimentei um marsúpio oferecido por um familiar, mas achei a coisa menos ergonómica de sempre e a miúda ficava pendurada (depois descobri que não são de todo indicados e que há pessoas especializadas em babywearing, workshops, lojas e até grupos no FB que nos ajudam a escolher panos e mochilas adequadas aos bebés e aos pais). Até que experimentei um Ergobaby 360 emprestado e vi a luz ao fundo do túnel. Com a Luísa, andei com um pano da Vivi & Me e com uma Boba 4G da Organii que amei. Andávamos, eu e o David, com as duas nas mochilas a passear pelas cidades, a caminho da praia, para todo o lado. E, mais importante ainda que isso, quando eu estava em casa com a Luísa ainda bebé e precisava de fazer coisas, cozinhar, etc, era o que me safava! Por isso vos digo: é um ESSENCIAL, vale cada cêntimo, peçam aos amigos e família que façam uma vaquinha, experimentem vários, aconselhem-se, até acharem o vosso preferido. [Ah! e ainda usamos hoje em dia! Agora até queria apostar num para toddlers mesmo, o que recomendam?].

2) Bodies e calças de algodão

Bem me lembro da vez em que me perdi num mercadito e comprei, com a minha mãe, uns 6 vestidos e fofos todos românticos e betinhos para os primeiros tempos - e faz parte esse encantamento, acho - mas, sinceramente, se fosse agora, sabendo que depois ainda nos oferecem mais umas quantas roupas, talvez tivesse comprado apenas dois, pela graça. É demasiado. Vestem uma ou duas vezes para a fotografia e para as visitas, por vaidosice, e pronto. Apostar em bodies macios - há uns cardados maravilhosos, se for inverno - e em várias calças de algodão e uns quantos babygrows confortáveis (e com botões à frente e/ou entre as pernas pff! LOL) é que é essencial. Tudo o resto é giro, que é, mas é acessório. E acabamos por perceber que eles crescem tão, mas tão depressa que até dá pena o investimento. 

Mão da Luísa, já em casa

3) Kit de sobrevivência para a amamentação

Provavelmente este vai ser controverso e pouco consensual, mas para quem tem vontade e, ao mesmo tempo, algum receio em amamentar, acho que há alguns apetrechos que podem ajudar e muito. Primeira coisa: um contacto de uma CAM / médica especializada para ir a casa ajudar-vos com a pega/ subida do leite/ dores / fissuras / possível início de mastite, etc, etc, etc. Recomendo-vos, por exemplo, a Patrícia Paiva, o Centro do Bebé e a Amamentos (mas há mais em todo o país!, vejam o SOS amamentação ou rede amamenta).

Além desse apoio (e que vos aconselhará o que será melhor para o vosso caso - e que sabe bem mais do que eu), eu voltaria a ter uma almofada boa de amamentação, dois soutiens, discos de amamentação reutilizáveis e um creme para os mamilos orgânico (mesmo com a pega corrigida, sempre tive alguns problemas de fissuras nos mamilos, não me perguntem porquê..., e não ia lá só com o meu leite e com mamas ao léu). Escrevi melhor sobre isso aqui: Como sobrevivi ao primeiro mês de amamentação. Aconselho-vos a tirarem um workshop sobre este tema ainda grávidas, se for objectivo amamentar, ou a ler sobre o assunto: adorei o livro da Cristina Pincho.

4) Ovo / cadeira para o carro

Vai depender do vosso estilo de vida, se andam de carro ou de transportes, claro. É obrigatório se andarem de carro, como é óbvio e, pelo que ouvi dizer, não convém mesmo que seja comprado em segunda-mão, por não sabermos se já houve acidentes com o mesmo, etc. Eu usei emprestado com a Isabel, sabendo, com confiança, que nunca tinha sofrido nenhum embate. Depois, só quando mudámos para cadeirinha, tivemos novo. O que convém que tenham mesmo em atenção é, além dos testes de segurança, claro, se dura em rear facing até bastante tarde (a protecção deles em primeiro lugar) - a Isabel foi até aos quase 4 anos e, pelo que sei, até deveria ter ido mais tempo, mas tive de voltar ao meu carro de solteira, um fiat 500, e lá se acabou).

5) Berço 

Tive um de verga para ambas. O primeiro foi emprestado pela minha amiga Catarina Raminhos (passou pelas filhas dela, pelo Raminhos e pelos irmãos todos) e serviu perfeitamente nos primeiros meses. A Luísa teve um também de verga e depois passou para a nossa cama. E da nossa cama para o chão, a dividir cama com a mana. Não usámos cama de grades com ela, por exemplo. Nunca cheguei a investir num Next2me, apesar de sempre me terem parecido fixes e práticos, por acaso.

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Poder-vos-ia dizer que o resto é acessório que não estaria a mentir lá muito, apesar de até a mim me parecer um bocado hippie. Mas, se fizer um esforço grande, não há muitas mais coisas que sejam assim tão essenciais nos primeiros tempos. Até mesmo as fraldas vão estando em promoção e, se o bebé for grande, não faz sentido comprar dezenas para a primeira fase (e até são mais caras). Se optarem por reutilizáveis, melhor (gostava de ter usado durante mais tempo, mas faltou-me a disponibilidade mental na altura). 

Ter o quarto do bebé pronto também não é prioridade. 
Trocador também não usei na segunda filha: ou trocava na bancada da casa de banho ou na minha cama. 
Banho, safamo-nos com um balde (pronto, se não quiserem usar um que tenham em casa, vá, há aqueles shantala fixes até em supermercados ou no olx, etc, mas) - usei a banheira que a minha mãe me tinha oferecido para a Isabel (e que tinha comprado na KidtoKid) durante pouquíssimo tempo, porque passei a dar na banheira às duas ao mesmo tempo.

Há outras coisas úteis, sim, mas com uma durabilidade tão reduzida que, se formos pragmáticos, quisermos poupar, ou simplesmente não quisermos ser arrastados para um consumismo desenfreado, não são mesmo mesmo necessárias. 

E vocês? O que vos pareceu mesmo mesmo essencial? O que dispensavam ter comprado?


8.07.2019

Quero voltar aos meus sonhos de adolescente

Sabem aquelas decisões que andamos a arrastar há séculos por acharmos que já não temos idade para isso? Que há outras prioridades? E até por sentirmos... vergonha?

Decidi. Quero voltar a fazer alguma coisa relacionada com um dos maiores prazeres que eu sentia quando era adolescente. 

Sempre tive actividades relacionadas com as artes do espectáculo, desde bem pequenina. Andei no conservatório e mal me lembro, na escola de música O Piano, nas danças de salão, nos Onda Choc, nos Jovens Cantores de Lisboa, nas aulas de guitarra e no Teatro Estúdio lá do Liceu. Participei no Ídolos com 17 anos (mostrei aqui). Cantei umas músicas em festas da aldeia. Fiz uns workshops de dobragens de desenhos animados, de voz na ACT, de iniciação ao teatro, de dança estilo Broadway e tive aulas de uma coisa chamada Urban Striptease Aerobics, em que eu imaginava que estava no meio de um videoclip de música pop. 

Uma vez, tive de escolher entre ir ao Porto fazer um casting para os coros de uma banda bastante conhecida (e boa) e faltar a uma frequência. Eu sempre senti uma responsabilidade e um compromisso enorme em fazer "tudo certo". Nunca tive negativa a nada, numa chumbei a nada, nunca deixei nada para fazer na segunda fase. E eu sentia o peso do investimento que os meus pais estavam a fazer em mim (curso, quarto em Lisboa e todos os custos inerentes) e precisava de honrar compromissos. Levei tudo até ao fim. Mesmo que, logo no primeiro ano, tivesse sentido que deveria ter ido para a Escola Superior de Teatro e Cinema. Odiei o meu curso. Só comecei a gostar no último ano, imaginem. 

Fui deixando esta parte de mim adormecida. Nunca mais investi nela. Deixei de acreditar em mim e tentei abafar o que o espectáculo me fazia sentir. Aquele nervoso antes de entrar, uma vontade gigante de vomitar e de fugir, mas a certeza de que não há adrenalina maior do que subir a um palco. O chegar ao fim e querer repetir, mais uma e outra vez. 

Percebi, há menos de um ano, quando estive um dia numa escola em Campolide, num workshop com os meus colegas da agência, para treinar a colocação de voz, e a apresentação em público, que eu  talvez tivesse gostado de fazer daquilo vida. De estudar aquilo. E foi num exercício simples, em que só tínhamos de ler uma história, que eu me dei conta de que é das coisas que mais gosto de fazer - contar histórias. Dá-me adrenalina. Com a voz, com o corpo todo, com as palavras. A dançar, a cantar... acho que é um dos meus maiores prazeres. 

Não é por acaso que eu choro muito em cada musical a que vou. Então em Londres, no Fantasma da Opera (o primeiro e o segundo, que repeti), eu saia de lá completamente abalada. Emocionada, maravilhada com toda aquela arte, mas também cheia de pena de nunca ter feito nada por este meu sonho. De nunca ter acreditado. 

Por isso, agora decidi. Nem que seja num workshop, num curso pequeno, eu ainda vou realizar este sonho. 33 anos e então? Vou muito a tempo! Não tem de ser nada profissional, não almejo a Broadway, nem sequer La Feria (resmas de gente boa por aí), mas se o processo de estudar e de experimentar me fizer feliz, por que não? E por que achamos sempre que não se pode ser bom em várias coisas? Pelo menos descubro mais coisas sobre mim. 

Vou deixar de me boicotar e de anular os meus sonhos, só porque fiz outras escolhas. A vida é demasiado curta para nos enfiarmos em gavetinhas. Arrisquemos. Sonhemos. Sejamos felizes, o mais possível.



Worshops ou cursos em Lisboa de iniciação ao teatro ou teatro musical que recomendem?

E que sonhos deixaram por concretizar? Quais ainda querem realizar... um dia?