Hoje tive medo. Um medo que facilmente fez com que começasse a gaguejar, a chorar e que me fez chamar a polícia.
Estava parada num semáforo, as filhas atrás, estava a dar música e estávamos a cantar. Deixei descair o carro, tanto que bati no de trás.
Saio do carro e primeira coisa que faço é pedir desculpa. Assumi logo ali o meu erro. Pedi mais uma vez quando o senhor me começou a levantar a voz descontrolado e pedi uma terceira quando se dirigiu a mim com braços em riste dedos apontados e um olhar mau, duro. Tive medo. Justifiquei que tinha duas filhas pequenas, apontei a mão para elas, e que me distraí. Continua a gritar a dizer que as filhas não são para aqui chamadas, que também tem filhos e netos, e eu peço-lhe que pare de falar assim. Com aquele peito e dedos indicadores na minha direção. Aos berros. Começo a ficar com mais medo, enervada, a pensar que me vai bater. Vejo vários carros a passarem e penso que se me começar a bater alguém me virá acudir. Olho para o lado e vejo a Isabel a chorar. Abro a porta e digo-lhe que está tudo bem para não se preocupar. Mas aí fico leoa e começo a dizer que se o senhor não parasse, chamava a polícia. Que não falava comigo assim. Disse-me para chamar em tom de desafio. Claro que chamo. Começou a imitar-me e a gozar com a minha gaguez. Por essa altura, estou eu na net à procura do número e chega um pai de uma colega da Isabel. Em boa hora. Chama ele a polícia. Acalmo-me mais e consigo fazer as miúdas sorrirem e fingir que está tudo bem. Expliquei-lhes tudo e que vinha aí a polícia para nos proteger. Demoraram muito, muito, muito. Liguei de novo e tínhamos 15 acidentes à nossa frente. A Isabel com sede, a Luisa a ficar cansada. O meu pai entretanto chegou e levou as meninas. O meu querido pai conseguiu falar com aquele traste. Protegeu-me em todas aquelas palavras. E disse-lhe que os acidentes também acontecem a pessoas boas.
Falei e voltei a falar. Que não pode tratar assim as pessoas, que lhe pedi desculpa desde o primeiro minuto, que os acidentes acontecem, que ele não pode ameaçar ninguém com gestos nem amedrontar ninguém. Em que mundo vivemos?
Vivemos num mundo em que o José para o carro para me ajudar, em que um pai atravessa a cidade para me vir acalmar. É nesse mundo que eu quero viver.
Vou tentar esquecer-me disto tudo. E espero que este homem tenha aprendido alguma coisa com isto. No final, disse-lhe “eu pedi-lhe desculpa desde o primeiro minuto, eu estava disposta a assumir tudo e assinar declaração, a vida continuava mas depois do que o senhor fez, o que fez à frente das minhas filhas, merecia que eu o denunciasse, que fizesse participação.”
Mas arrependo-me de não ter feito. O cansaço, as miúdas a precisarem de jantar e de banhos e de mãe fez-me querer encerrar isto. Mas ele devia ter ser repreendido. Por mim, por vocês, por todos.
Sigam-nos também no Instagram:
E nos nossos pessoais: