Ao entrar na 30ª semana, eu e a minha namorada já recebemos vários
conselhos de várias pessoas a propósito do que é ser pai. Diria até que recebemos
demasiados conselhos, se é que existe tal coisa.
Um “recém-pai”, definido para os efeitos desta crónica como alguém que teve
um ou mais filhos nos últimos 4 anos, parece ter uma aptidão inata para definir
de forma absoluta qual a melhor fralda, pomada, creme, chucha, biberão, esterilizador,
questões sobre amamentação, forma de adormecer a criança e método de dar banho,
tudo com base apenas na sua experiência parental. É um pouco como um alguém que
só teve um parceiro/a sexual dizer-lhe que ele/a é o/a melhor do mundo na cama.
No melhor dos cenários, falta-lhe validade científica e precisa de mais
amostras para a fundamentar a afirmação.
Não me levem a mal, eu quero receber estes conselhos! A quantidade de
incógnitas que me aguarda é assustadora, no entanto, não quero receber esses
conselhos nem de toda a gente, nem em palestras consecutivas de 4 horas e meia.
Em certos casos, esse tempo seria melhor gasto a agrafar os meus mamilos.
O conselho mais frequente que recebo é “aproveitem para dormir agora!”. Novamente, acredito que seja imensamente bem-intencionado, mas é um conselho fundamentalmente inútil. Como os seres humanos entre vós já terão por esta hora percebido, o sono não está sujeito a um sistema de crédito. Eu não posso acumular horas de descanso, que posteriormente trocarei por uma poção revigorante que me permita derrotar o monstro do “tenho fome, calor e/ou cócó na fralda” às 3 da manhã. Isto não é o World of Warcraft, e se fosse, seriamos todos orcs de nível 1!
Vou até mais longe dizendo que o melhor conselho a dar é “aproveitem para NÃO
dormir agora!”. Sim, aproveitem estes meses de expectativa para habituar o
vosso corpo à privação de sono. Espalhem pela casa inteira 8 alarmes a disparar
pela noite dentro. Junto aos alarmes, coloquem uma taça de almôndegas fora do
prazo e nos alarmes cujos dígitos dos minutos produzam um número inteiro quando
dividido por 3, coloquem a mão no bico maior do fogão e liguem-no. Desta forma,
quando chegar o bébé, vocês já são um com a Força.
É por tudo isto que, para terminar, quero deixar uma promessa solene que
irei repetir diariamente após o nascimento do meu filho/a: “eu, Hugo Rosa, prometo não dar conselhos a
futuros pais a menos que me seja pedido e, quando me for pedido, prometo ser
sucinto e não despejar informação que demore a ser transmitida o mesmo tempo de
uma viagem de barco até à India no século XV.”