1.30.2015

Dúvidas na Gravidez (#03) - Quantas fraldas e de que tamanho?

Eish! Lembro-me tão bem de querer fazer um stock de fraldas até ela ter 18 anos (podia precisar, sei lá) e querer aproveitar todas as feiras do bebé e afins para nos embucharmos disso. 

Agora sei várias coisas: 

- As fraldas do tamanho mais pequeno não são necessárias durante muito tempo, se é que são necessárias de todo. É o tamanho certo para levar para a maternidade (a não ser que dêem à luz a um homenzinho de 10 kg), mas não duram muito mais. Apostem o vosso dinheiro no tamanho a seguir. 

- Não vale a pena andarem loucas a aproveitar as promoções de fraldas de todos os tamanhos. Da minha experiência: está sempre a haver descontos e não se muda de tamanho tão rápido (a não ser que o vosso bebé aumente 2kg duas vezes por semana - é impossível, acho eu)

- Para quê fazer stock de fraldas como se nunca mais fossem sair de casa? Até podem não sair durante imenso tempo (no meu caso a pedi recomendou que a bebé não saísse muito de casa até ter as vacinas), mas a comida tem de continuar a aparecer em casa, não é? Compras online, avós a trazer, mandar o marido ir... seja como for, as fraldas vão continuar a aparecer, não precisam de se abrigar como se o mundo fosse acabar. 

- De vez em quando mudam a estrutura das fraldas e os químicos. Querem mesmo ficar cheias da "fórmula" anterior? E se, depois, afinal, até preferem as de outra marca qualquer? 

Quantas fraldas e de que tamanho?

Resposta aqui da campeã: Não se preocupem com isto. Comprem uma embalagem média do tamanho mais pequeno e depois duas grandes do tamanho a seguir e siga para bingo, a vida não pára e são dois dias e... "inserir mais frases clichés aqui". 

Filha gaga ou ciciosa?

Quando estava grávida, dava por mim a imaginar vezes sem conta a carinha da minha bebé. A sonhar com o cheiro, a pele quentinha. Tinha curiosidade em saber como seriam os olhos dela, a boca, o nariz, a cor do cabelo.

Mas uma das maiores pulgas atrás da orelha era a de como seria a voz da Isabel.
A primeira vez que chorou, foi das coisas mais lindas de sempre, e tal como num filme, acalmou com o som da minha voz.

Nos primeiros meses, parecia um ratinho, tal era a suavidade dos esgares e do choro.

Depois, ouvi a primeira gargalhada. A primeira foi a dormir no meu colo, uma emoção sem igual. Na segunda vez (e a que conta) estava com a Joana Gama e as miúdas na piscina e até chorei.

Com uns 5 meses, já "cantava" quando eu cantava e imitava as minhas expressões, coisa que derrete qualquer coração. Tenho gravado, um dia mostro.

Agora palra imenso mas ainda não consigo perceber bem a sonoridade da voz... Será calminha e doce? Ou forte e despachada?

Agora o que gostava mesmo de saber é se irá herdar alguma das deficiências de fala dos pais. Ainda estava grávida e a brincar dizíamos que a Isabel ia ser gaga e ciciosa, o melhor de dois mundos: a mãe é gaga, o pai é cicioso. 

Que eu saiba, a gaguez não se "pega", mas a verdade é que a minha melhor amiga da primária andou uns tempos gaga à minha conta. Já ser ciciosa, duvido. Só se for de vez em quando, para gozar com o pai, como eu.

Se tiver estes ou outros problemas de fala, das duas uma: ou aprende a conviver com eles e fica desinibida e descomplexada como os paizinhos dela ou vai para a terapia da fala. Fiz terapia uns longos anos e melhorei imenso (sim, eu era gaga ao ponto de precisar de bater com a mão na perna para a palavra sair). Verdade, verdadinha.

Como será que vai ser a voz dela? E será que vai ser afinadinha? Queremos tanto que fiquem bebés no nosso colo para sempre mas queremos tanto vê-los crescer! Que esquizofrenia!

1.29.2015

Sim, vou deixar-te morrer

Aviso desde já que se vai falar de morte. Quem teve um dia mau, quem se quiser rir e esquecer dos problemas, clique na cruzinha do lado superior direito (ou do esquerdo, se for sortudo e tiver um Mac). Ou vá ler este texto da Joana Gama. Vá ver um filme, vá ver uma série.
Aqui vai falar-se de um dos textos mais bonitos e mais tristes que já li. Este (no Público). "Sim, vou deixar-te morrer" é um murro no estômago e faz-nos pensar na eutanásia, nos cuidados paliativos, no sofrimento de algumas mães confrontadas com o sofrimento, em vão, dos filhos. 

Começa assim:
"- Que Deus ilumine as pessoas que estão a criar esta lei da eutanásia para crianças e as faça desistir - pediu o padre.

- Não, meu Deus, não posso desejar isso. O que mais lamento é que o Tomás tenha sido obrigado a passar por aqueles três últimos dias - pensou para si.

Num destes domingos, no final da missa, Vanda voltou a recordar o dia em que levou o filho ao hospital para morrer. Sabia que aquele bebé de um ano e meio, a quem já nem sequer podia pegar ao colo, não era mais o seu Tomás. Olhava e via um corpo minúsculo e inchado, pálpebras fechadas, deitado numa maca, a gemer sempre que lhe tocavam e com dificuldade em respirar. "Nunca mais acordou, nunca mais abriu os seus olhos grandes, nunca mais sorriu. A dor já tinha tomado conta dele. Se logo nesse dia tivessem dado alguma coisa para ajudar o meu filho a partir... Foram mais de 48 horas. Ouvia as máquinas constantemente a apitar e só tinha vontade de puxar aqueles fios todos para que tudo acabasse o mais depressa possível." A médica já estava com uma injecção na mão quando o coração de Tomás bateu pela última vez. "Sabia que era proibido, mas ia ficar só entre nós. Acabou por não ser preciso".

Ainda estão aí? Já sentem um nó na garganta e vontade de chorar? Pois, comigo foi igual. 

Vanda Alcobia, portuguesa, emigrou para a Bélgica há 15 anos. Na Bélgica, a lei da eutanásia foi recentemente alargada a menores de 18 anos, sendo que o pedido tem de partir do próprio, conscientemente, e cumprir apertadas regras. 

Mas a história de Vanda e de Tomás não é a única a deixar-nos comovidos. Izabela, de 18 anos, "deverá morrer quando desabrocharem as primeiras flores da primavera". Com poucos meses de vida, alimenta-se através de dois tubinhos ligados ao estômago. Deixou de andar e de falar, mas consegue comunicar com a mãe, que diz, "a minha filha está consciente". Em breve "vai começar a tomar morfina porque as dores são cada vez mais fortes". Para esta mãe a eutanásia não é uma hipótese. Mas já falou com a filha sobre isso: "Achas que é bom ou mau?", perguntou-lhe. "É mau", recebeu como resposta."

A mãe de Rafael também é contra a eutanásia. "O meu filho nunca me disse que queria morrer e fomos tão felizes naquele mês de Dezembro. Vivemos coisas juntos que nunca irei esquecer". A mãe, Elsie, vendou um pequeno apartamento em Bruxelas e no último mês de vida, Rafael concretizou os seus sonhos possíveis, entre eles, ir à Eurodisney.  

Depois, morreu em casa. "O meu filho morreu no nosso ninho, nos meus braços, ao pé dos seus brinquedos; nem se pode comparar este conforto com a frieza de um hospital."

Na Bélgica, um menor que esteja a ser acompanhado pelos cuidados paliativos pode escolher morrer em três sítios: no hospital, em casa, ou num dos centros de repouso para crianças. 

A realidade portuguesa é outra. "Em Portugal, os cuidados paliativos funcionam muito mal, para menores e adultos. Morre-se mal aqui. As crianças morrem nas instituições de saúde onde estão internadas ou em casa. Tudo dependerá da sorte que tiverem. E é isso que está mal: ser obrigado a depender da sorte para ter uma morte menos má, seja-se adulto ou menor", critica Laura Ferreira dos Santos, professora da Universidade do Minho, que estuda há vários anos questões relacionadas com a eutanásia.

Muitas são as vozes que se ouvem nesta reportagem: mães, técnicos de saúde, especialistas, professores, políticos. Diferentes os pontos de vista. E no meio disto tudo, ficam as dúvidas, perante as histórias mais tocantes que alguma vez li sobre este tema. As dúvidas e os medos. 

Agora, que sou mãe, sinto tudo de maneira diferente e imagino-me a ter de fazer escolhas. Não consigo. Não quero.

A jornalista Sofia da Palma Rodrigues ganhou um prémio com este trabalho. É fácil perceber porquê. Arrepiante, do início ao fim. Vão ler a reportagem. Vale muito a pena.