É em dias como hoje - em que milhares de pais em procissão se
encaminham para o Meo Arena, atrás de um bando de filhas histéricas e de
bandeiras da Violetta em riste - que agradeço ter sido mãe apenas há 17 meses e
uns dias. A minha filha não diz pão, quanto mais Violetta e por enquanto gosta
de rock e música alternativa. De vez em quando brindamo-la com alguma pop
azeiteira (mas em bom). O máximo que autorizamos lá em casa é a música do
genérico final da Casa do Mickey Mouse, a “Olha a Bola Manel” e “o Balão do
João” – duas canções bastante tristes onde os protagonistas acabam a chorar mas
que a minha filha parece apreciar de sobremaneira – e a canção do Ruca. De
resto, a criança ainda não tem querer e estas músicas só são accionadas em loop
em casos urgentes de birra eminente. Para dançar, Twin Shadow e D’Alva são os
preferidos mas na verdade basta cantar “lá lá lá” para ela começar a abanar o
esqueleto de forma bastante desengonçada e hilariante. A minha filha tem o
ritmo no corpo mas não é um ritmo oriundo da américa latina. Quando for
suficientemente grande para escolher, Violetta já estará transformada numa
Miley Cyrus ou Britney Spears demasiado bêbeda para encantar criancinhas. Assim
o espero até porque, como disse Ricardo Araújo Pereira na sua Mixórdia de
Temáticas dedicada ao tema, “o problema não é serem cantorias, é serem
cantorias em espanhol”. Eu pensei que o flagelo de “Carrossel” e “Chiquititas”
tivesse servido para aprendermos alguma coisa mas aparentemente não. E não, o
facto de Violetta ser da Disney não altera a triste realidade de terem filhas
viciadas numa telenovela. Volta Gabriela, que pelo menos não cantas e és mais
crescida. E boa.
Burros que somos não aprendemos nem com as novelas venezuelanas
nem com o Avô Cantigas. Xana Toc Toc, miúda, estou a falar contigo. Mais
esquisito do que um velho que nem é velho (estou a falar de quando eu era
miúda) e que veste jardineiras, é uma quarentona com braços de ginásio e bronze
de solário que gosta de se vestir de boneca e dar-se com crianças. É até
ligeiramente perturbador. Vejo pais de pele pálida e ar miserável a falar na
televisão nos concertos dos Caricas e da Toc Toc, com os filhos aos pulos o
tempo todo, a confessarem que o rádio do carro já não lhes pertence e que todas
as viagens eram feitas ao som das canções dos filhos.
Pais que sofrem tenho uma cena para vos dizer: os grupos infanto
juvenis não são uma invenção deste século. Em 1980 e picos havia uns grupos
musicais chamados Ministars e Onda Choc que enchiam salas de concertos e
apareciam todos os fins de semana na televisão. Lembram-se? Eu, como vocês, hoje
pais da minha geração, adorava-os, queria ser como eles e comprar roupa nos
Porfírios e na Cenoura (dois opostos). Mas não deu, azar. A roupa era cara para
caraças e os meus pais não foram em cantigas, literalmente. Também nunca me
passou pela cabeça obrigá-los a ouvir os Onda Choc, fosse no carro ou em casa.
Com os meus pais no carro ouviam-se os Beatles e os Supertramp e o Eric Clapton
e o Elton John. No carro da minha avó aprendi a letra de “Eu tenho dois amores”
porque se ouviam as cassetes da minha avó e não as minhas. E se o Marco Paulo
não é razão suficiente para os pais recuperarem o controle dos rádios dos seus
carros, não sei qual será.
Leididi, mãe há 17 meses
O Blog do Desassossego
Afinal havia outra é a nova rubrica do A Mãe é que sabe, escrita por outras mães que não as Joanas. Podíamos dizer, qual candidata a Miss Mundo, que queremos dar voz a outras mães mas no fundo, no fundo, o blogue está a correr tão bem que já nos podemos dar ao luxo de ter escravas a trabalhar por nós.