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4.21.2015

Afinal Havia Outra (#21) - Primeiro mês: manual de instruções.

Apesar de nos sentirmos mães durante a gravidez, a verdade só chega com o nascimento. Comigo foi a 11 de fevereiro. Já lá vão 2 meses e sobrevivi sem manual de instruções, como todos os pais. Ajudam as conversas com outras mães e é nessas conversas que percebo que, afinal, eles são iguais. Os nossos filhos são iguais! Afinal quase todos passam pelo mesmo. Afinal podia haver um livro de instruções para o primeiro mês. Ou estarão as mães com quem troco impressões a mentir? Não me parece e por isso decido avançar com uma espécie de "manual de instruções para o primeiro mês". O que acham? É que para quem passa por isto pela primeira vez é bom saber que é mesmo assim. Que podes fazer isto ou aquilo e até saber que pode ou não resultar mas, caramba, se são todos iguais, se passam todos pelo mesmo, então porque não alertar para este mês inaugural em que somos lançados às feras? Vou fazer a minha tentativa e digam-me se não são todos iguais. E acrescentem se me esquecer de alguma coisa.

Capítulo 1: Ai que trocaram o bebé
A felicidade de sair da maternidade esgota-se logo na primeira noite em casa. Chegamos felizes, mostramos a casa ao bebé (pelo menos eu fiz uma espécie de visita guiada) até que à noite tudo se transforma e parece que nos trocaram o bebé. "Mas lá não chorava". "Dormia tão bem". "O que se passa?" "Deve ser do berço". "Ou terá frio? Ou calor?". Etc. Não sei se é a nossa insegurança de já não ter a campainha para pedir ajuda, mas a verdade é que é uma choradeira pegada, da bebé e da mãe. Se vos acontecer… é normal.

Capítulo 2: Afinal são cólicas
O choro é estridente. Tentamos acalmar. No colo. No berço. De lado. De barriga para baixo. Assemelhamos o ambiente ao útero com muito aconchego e o famoso “shhhh”. Até pode acalmar, mas por pouco tempo. As pernas esticam até não poder mais e o choro parece gritado. Por vezes a barriga está rija. Outras vezes se batermos com a mão sentimos que está oca.  Lá percebemos que são cólicas. Há massagens diárias para fazer. Há o saquinho de água quente na barriga para aliviar a dor. Há a alimentação da mãe que tem de ir fazendo experiências. Há chá de funcho e camomila. Há leites para ir variando para quem não amamenta. Há probióticos e medicamentos. Há quem use o tubinho do bebe gel vazio para sair ar. Pois nós temos tentado de tudo. É preciso fazer experiências (falando com o pediatra, claro). Mas é preciso é paciência porque é normal e se as experiências não resultarem, o tempo curará. Nada de grave para o bebé mas muito sofrimento para todos. Mesmo.

Capítulo 3: Os picos

- os picos de crescimento
O bebé chora sem parar. Mamou há 1h30. Vamos ver todos os outros sintomas do choro. Nenhum corresponde. Só se cala na mama. "Bolas está a ficar mal habituado" ou "terei leite suficiente?" Tudo normal. É um pico de crescimento. No meu caso aconteceu na primeira e na sétima/oitava semanas. É de loucos. Questionamos tudo. Temos medo que a partir de agora seja sempre assim. Queremos dormir. Mas não! Acaba por passar. Por isso é dar mama ou biberão quando pede, porque é normal. Ah! Normalmente o sono fica mais perturbado. (Pelo menos foi assim com a Alice).

- os picos no berço
Pois que chega a dada altura que o berço ganha picos. É verdade! O bebé está ferradinho no nosso colo e assim que toca no berço desperta. Preparem-se para imagináveis malabarismos. Preparem-se para entrarem no berço. Preparem-se para passar o testemunho ao pai em estado de desespero, porque a meio da noite e à terceira tentativa ninguém aguenta. Mas dizem as mães com quem falei que também passaram por isso. Não é do berço. Não são vocês que o habituaram mal. Tem dias e é normal! Há-de passar!

- os picos de choro 
Nas mil pesquisas pela internet li que lhe chamam “a hora da bruxa”. Pois eu não acredito nelas, mas a verdade é que houve ali uns tempos em que a Alice começava a chorar por volta das 23h até às 2h. Mudámos a hora do banho e tudo, mas nada a fazer. Ferradíssima. Quarto calmo. Os pais a aproveitar para descansar. E há um despertador diário. Nessas horas há muito instabilidade. Ora chora, ora parece que adormece, ora volta a chorar… e passam-se as horas nisto. Já sabem, é normal e passa. A Alice já passou essa fase.

Capítulo 4: O peso
Ui o peso! Semana a semana há uma balança e há uma tabela a cumprir. E há uma série de pessoas a perguntar “mama bem?”; “tens leite?” (principalmente com mamas pequeninas como eu); “se calhar precisa de suplemento”; etc. Há uns que ganham peso e há outros que perdem.  (Atenção que na primeira semana todos perdem). Mas tudo tem solução e todos crescem. É só ver matulões e matulonas que não ganhavam peso. O meu conselho é descomplicar. O chichi é um sinal que está bem de saúde. E se a experiência de pesar não for das melhores, (pela espera; pelos comentários que ouvimos; porque o bebé chora, etc.) arranjem uma solução que vos tranquilize. Há balanças self service nalguns centros. Ou podem sempre alugar ou comprar que também não é muito caro. Ou ir à farmácia e pesar com roupa e dar o desconto. É mesmo bom não complicar. Apesar de ser algo bastante importante para o bebé, acho que colocam demasiada pressão nos pais. Portanto, é normal se se sentirem muito preocupados em saber se estará a aumentar. Todos passamos por isso. Ah! E confiem na vossa intuição nos comentários menos positivos. 

Capítulo 5: O cocó  (sejamos diretos)
Neste primeiro mês vale tudo! No início, altura do colostro, é uma pasta meio verde. Dura que se cola ao rabinho. A partir da subida do leite é amarelo ou verde e muito pouco consistente. Aviso já que passei a trocar a fralda de lado depois de ter sido atingida por dois repuxos. E a fraldinha sempre em posição de escudo para travar qualquer acidente. Mas voltando ao que interessa, não se preocupem com a quantidade. O bebé pode fazer 8 vezes por dia, 3, ou mesmo nenhuma. É tudo normal neste primeiro mês.

Capítulo 6: O animal
Minhas queridas não vão levar apenas um bebé para casa. Não. Levam também um animal. Mas muito querido. Vão estranhar os rugidos que saem da boca do vosso bebé na hora do sono, mas também é normal. Aqui a Alice às vezes parece um cão a rosnar (mas em modo querido, claro), outras vezes assusto-me e penso que é um gato (é que tenho medo). Às vezes parece que ressona. Ou ressona mesmo? Coitadinha! Esta é também a fase dos espasmos e dos tremelicos. Tudo normal. Animem-se.

Capítulo 7: A mãe.

- As maminhas
Dediquem-se às maminhas por favor (quem amamentar, é claro). Mesmo com boa pega é normal que no início sofram um bocadinho. É até calejar, como diz aqui a JPB. Atenção à subida do leite por volta dos 5 dias. Pode ser muito chato, podem não dar por nada, pode ser apenas ligeiro com febres e as aminhas doridas. No meu caso ajudou o Purelan no início (comecei ainda na gravidez). Independente do creme o importante é hidratar e ter um creme para as fissuras caso aconteça. Depois, ajudaram as massagens no banho e uns saquinhos com gel que comprei que tanto dão para o frio (depois da mamada) como para o calor (antes da mamada). Ah! E andar com as maminhas ao léu também alivia no início!

- As lágrimas
Não são as lágrimas do bebé, não! São as nossas! Ui como correm! As minhas correram durante um mês. É normal. Mas nós por mais que tenhamos ouvido falar do babyblues não achávamos que seria assim. São as hormonas aos saltos. Pensem que é normal. Não compliquem. Abracem o pai ou a mãe ou a irmã. Quem estiver convosco. Digam como se sentem. Sem problemas. Vão ouvir que é normal. E vão acalmar. Vai voltar. Várias vezes. Vão achar ridículo. Vão questionar coisas. Vão pensar que vai ser sempre assim. Vão sentir que não se reconhecem. Vão ter medo que seja depressão pós-parto. Mas depois passa. Passa mesmo. É normal!

- O saco de boxe
Preparem-se para descarregar no pai. Vão andar às turras. Vão embirrar com ele. Acho que coincide mais ou menos com a fase em que o babyblues vai desaparecendo e o pai vai trabalhar. Deve ser inveja! Também é consequência da falta de sono. Mais uma vez, é normal e por isso refilem e reclamem e depois abracem-se e descompliquem, porque é uma fase e passará. Não vale a pena alimentar as turras do sono. Não sei se já vos disse mas… É normal!

Usem e abusem da palavra “normal” porque é mesmo assim! No pior drama, porque temos momentos destes, é pensar que faz parte. Lembrem-se que há uma espécie de manual e que o primeiro mês (mais coisa menos coisa) passa.

Célia Alves

1.23.2015

Afinal havia outra - (#01) Grávida pela primeira vez

Tenho saudades de estar grávida. Grávida pela primeira vez. É algo irrepetível que nos marca para sempre. Tenho vivido de perto a primeira gravidez de uma amiga e é incrível ver nela as minhas dúvidas, as primeiras descobertas e o amor que cresce desde o primeiro minuto. Desafiei-a a escrever sobre este estado de graça e o resultado não poderia ter sido melhor.

Do estado de graça ao estado de alarme

“A mãe é que sabe” propôs-me escrever. Não hesitei! Gosto de o fazer, mas atenção, esta mãe ainda não sabe nada! Estou na chamada primeira viagem e ainda me falta sentir o cheiro da minha menina (pirosa já estou! Melhor só o pai que lhe chama “a minh'Alice”). Sinto-a e vejo-a. E sinto cada vez mais porque soluça muito e porque deve fazer coreografias dentro de mim! Vejo-a cada vez mais porque ando a fazer ecos semanais. Já a vi num sonho e num pesadelo. Também sonham com isso? Já a vi morena linda e já a vi tipo lobisomem cheia de pêlos (é que nem a dormir a paixão e o medo se largam). Mas falta-me o cheiro! O cheiro maravilhoso a bebé que deve superar tudo quando o bebé é nosso. Só quando a sentir nos braços e me preencher os cinco sentidos começarei a tornar-me "uma mãe que sabe". Por agora, sei que passei de um estado de graça a um estado de alarme. Sei que a gravidez é este turbilhão entre a paixão e o medo. A paixão por passarmos a sentir dois corações dentro de nós... Por passarmos para um lado transcendente e tomarmos consciência do nosso super-poder.

Depois, a paixão que se reacende com o pai e a compaixão por quem nos rodeia e mima! Não sei se é assim noutro lugar, mas os portugueses sorriem para as grávidas (exceto nas filas do supermercado). Durante os nove meses não há quem nos queira mal, mas há um estado de alarme! Começa quando as análises confirmam a gravidez e esperas três meses até anunciar. Porquê? Nunca pensei fazê-lo, mas decidi guardar segredo. Um medo que se intensifica a cada ecografia. Na véspera não se dorme bem e antes de entrar respira-se fundo. Depois, vamos sorrindo devagarinho a cada boa notícia mas só no final soltamos o grito.

Chega a preparação para a parentalidade (só nomes pomposos). Vale muito a pena, mas acciona o estado de alarme! “Já têm pediatra?” “Já sabem onde vão ter a criança?” “Creche ou avós?” (Bolas, será que já deveria estar a tratar disto às 26 semanas?) E o doudout? (um boneco para dormir) “Se dormirem já com ele terá o vosso cheiro e acalmará a criança!” (Raios, não estava a pensar comprar nada disto e já temos o boneco na cama e duas chuchas na gaveta). E quando rebentarem as águas, se for transparente podem tomar banho e comer, se for verde não demorem tanto e sigam para hospital, e blá blá blá. E eu que sou calma e descontraída começo a acusar a pressão!  “Não posso esquecer disto!" “Ai não tenho camisas!” “Ai 'bora lá ver da creche.” “Recapitulando, se for verde... Errr!” Mas depois respiramos, descarregamos no pai e voltamos à normalidade, nunca total.

E não termina aqui! O estado de alerta vermelho dá-se lá para o último trimestre. “Aí tenho uma dor.” “Aí não, é bexiga cheia.” “Ui estou a ter uma contração.” “Vê lá o que achas?” “Não me parece, a barriga não está toda rija.” Diz o pai. “Olha agora é mesmo!” “Sim, agora é!” “Mas hoje já tive uma.” “Mas foi há uma hora.” “Olha outra. Espera. Desta vez é uma cólica.” “Será que isto é mesmo a miúda a mexer?” Entretanto já fez uma coreografia e põe-me também a saltar cada vez que mexe, mas pelo sim pelo não pedimos ao pai que coloque a mão para confirmar. “Estarei com falta de ar?” “Não, é ela que já ocupa espaço.”

Pode não parecer mas a paixão aumenta muito mais do que o medo. E o medo já é fruto da paixão. É o nosso estado de graça que nos coloca em alarme, porque o amor é tanto e não queremos que os nossos poderes especiais falhem. Não é, mães que sabem? 



 
 Célia Alves, grávida de 35 semanas e 6 dias
Blogue O meu coração de criança
(acabadinho de nascer)


Afinal havia outra é a nova rubrica do A Mãe é que sabe, escrita por outras mães que não as Joanas. Podíamos dizer, qual candidata a Miss Mundo, que queremos dar voz a outras mães mas no fundo, no fundo, o blogue está a correr tão bem que já nos podemos dar ao luxo de ter escravas a trabalhar por nós.