Tive um ex-namorado que usava uma expressão que me ficou desde aí que é: "Estou calmamente em pânico". E é exactamente disso que se trata. Importante ressalvar que não sou entendida nesta matéria. Sou, tal como muitas vocês, apenas uma mãe que está a aprender a gerir tudo isto tentando alcançar uma espécie de equilíbrio.
Passei por várias fases até agora: a da negação, a do pânico absoluto, a da conformação e agora, finalmente, a da relativização. Pelo menos até novas informações.
Inicialmente, quando comunicaram a abertura das creches, senti-me indignada. Até por causa do estilo de medidas que queriam que fossem impostas, aparentemente descuidando a saúde mental e o crescimento saudável dos nossos filhos. Faz-me lembrar aquela resposta típica que se dava em metade dos exames de filosofia no secundário que era "o homem é falível e, portanto, tudo aquilo que ele faça está sujeito a erro".
Tenho visto as coisas dessa perspectiva: mesmo os profissionais de saúde, os políticos (tendo em conta também os seus interesses e agendas) são humanos. E, por isso, perante o desconhecimento, a novidade e, principalmente, os dados vindos dos outros países, reagiram também como seres humanos e, ainda para mais, carregando a responsabilidade de milhares de famílias em cima. Como tomar decisões que levem a mais mortes? Como dormir à noite com isso? Pondo de parte, claro, a preocupação também com a sua popularidade e afins, no caso dos políticos.
Gosto de acreditar que o medo foi uma ferramenta mais do que útil para prepararmos o nosso sistema de saúde para conseguirmos dar resposta aos casos mais graves, aqueles que têm ocorrido nos grupos de risco. E que, agora, vamos conseguir lidar - com os devidos cuidados - com maior racionalização e equilíbrio com este novo vírus que nos vai passar a fazer companhia, juntando-se a tantos outros aos quais já estamos habituados e que, em tempos, também foram mortais.
Acho que como mães de crianças em idade pré-escolar, temos estado mais do que habituadas a fazer o exercício do "não consigo controlar tudo" quando recebemos e-mails da escola a dizer que há casos de varicela, sarampo e vamos levá-los na mesma. Ou porque "tem de ser" ou porque não nos podemos deixar governar pelo medo.
No meu caso ou, vá, no nosso, temos a sorte de confiarmos na escola da Irene e na sua sensatez nas medidas que serão aplicadas neste tempo especial para o convívio entre as crianças. Ainda que a Irene, de momento, não mostre sinais de desequilíbrio (eles são o nosso espelho), sei que vai beneficiar enormemente de conviver com os seus pares e de pessoas que possuem ferramentas para os entreter de forma educativa.
Inicialmente preocupava-me o regresso à escola não só por uma questão de contágio, mas também pela possibilidade traumática das interacções. Ver as educadoras com máscaras, terem de ser afastados dos colegas, as salas despidas da maior parte dos brinquedos, por exemplo. Mas, de momento, tenho confiança e estou optimista que, pelo menos no nosso caso, a escola vá saber equilibrar da melhor forma tudo isto, ainda que vá precisar de um tempo de aprendizagem, de tentativa e erro. Provavelmente, quando chegar a uma boa fórmula, acaba o ano lectivo, mas... enfim.
Não ia pôr a minha filha na escola. Tenho a sorte/azar de ser freelancer e posso ainda (mais ou menos) ser dona do meu tempo, mas o pai dela vai andar a viajar pelo país em trabalho e nenhum dos dois pode recusar trabalho de momento. Conversámos e chegámos à conclusão de que a Irene vai à escola.
Se estou calmamente em pânico? Sim. Porém, é uma escola magnífica cheia de espaços exteriores (um critério nosso na escola da segunda escola, depois de termos errado na primeira) e à qual temos entregue a Irene nos últimos 2, 3 anos e estamos muito satisfeitos com o foco que têm tido na saúde mental dos meninos. Tem sido um descanso ter a miúda numa escola em que as crianças são vistas como tal e não como futura força laboral e peça da economia.
Escrevo este post para pôr os meus pensamentos em dia. Porque quando se escreve, quando se verbaliza, acabamos por perceber muito daquilo que nos ocupa a mente. Espero estar a pensar bem. Porque, acima de tudo, quero que a minha filha esteja bem, esteja feliz (e sim, viva, mas já me fui informar um pouco sobre os dados).
Ficámos em casa dois meses e tal. E acreditem que houve mais coisas boas do que más. Crescemos muito em conjunto e lidámos com imensas coisas que estavam a ser proteladas por falta de foco/construção de tempo, acredito que vão ser tempos melhores, mais presentes e quero muito que conviver com os amigos dela e voltar à escola faça parte da equação.
Não creio estar a ser surda em relação ao que se passa, creio estar a aprender a lidar com isto. Espero que ela não apanhe o vírus ou que, se apanhar, não seja horrível, mas como todas nós já sabemos, todas as decisões que tomamos têm consequências positivas e negativas. Vou optar por ver as positivas, salvaguardando todos os cuidados possíveis.
Como se têm sentido?