É um dos meus maiores objectivos: quero que a Irene aprenda, desde cedo, o que está ao seu alcance para que a vida se torne mais fácil para ela.
Não sei como é que vocês se sentem em relação a isto, mas tenho reparado que aos 30 é quando estou finalmente a aprender que a maior parte dos nossos sentimentos podem ser percebidos, reenquadrados e até usados a nosso favor.
A questão do "mindset", do ângulo com que olhamos para as coisas que acontecem (e não que nos acontecem) é fulcral para que criemos e abramos espaço para que mais coisas boas aconteçam e, acima de tudo, para que saibamos lidar com elas.
Algo que tenho achado muito desafiante no papel de mãe tem sido ensinar coisas à Irene que eu própria ainda não domino. Por exemplo, sofro de ansiedade, tenho muita dificuldade ainda em lidar com esses momentos mais sufocantes mas gostava muito de lhe passar as técnicas que a ajudarão a ter uma maior coerência entre o lado mais emocional do cérebro e o mais racional. Um dos conceitos com o qual não estava minimamente familiarizada até recentemente é o da gratidão.
Pensava: "Hei de estar grata pelo quê se ninguém me está a oferecer nada? O que tenho, trabalhei para isso e aquilo com o qual me ajudaram foi uma maneira de compensarem outras coisas com as quais não me ajudaram".
A verdade é que é um sentimento mais complexo que parece só começar a surgir quando a nossa sanidade e ou disponibilidade mental atinge outro conforto. E aquela "treta" da "felicidade estar nas mais pequenas coisas" parece-me cada vez mais importante.
Por querer ajudar a Irene a ter uma mentalidade de crescimento e não uma fixa - quero que ela sinta que, ainda que não possamos controlar o que acontece, que podemos trabalhar em nós e melhorar as nossas hipóteses - pesquisei algo que pudesse ajudar-me a estimular um pensamento mais positivo e de, lá está, gratidão.
Encontrei o HappySelf Journal. Para ser clara, ninguém me ofereceu nada ou me pagou para estar a fazer esta referência. Ainda que, neste blog, só façamos coisas com as quais nos sintamos confortáveis ou identificadas ainda que tenhamos perdido muito dinheiro com isso, mas tenhamos ganho boas noites de sono (a fingir que elas não nos acordaram durante a noite).
A Irene ficou muito contente por ter direito a um diário "de crescida". O diário tem uma parte introdutória que explica a importância do mindset e da disponibilidade para ver as coisas de outra forma para chegarmos mais perto daquilo a que sintamos como "felicidade". E já era altura - na volta há mais cadernos destes - de encontrar algo que apelasse aos miúdos, com um óptimo design, tudo muito simples e que, com o tempo, vai decididamente fazê-los trabalhar na perspectiva que vão tendo dos acontecimentos. Muito interessante também fazermos o exercício com eles (a Irene ainda não escreve fluentemente) e percebermos o que vai na cabeça deles e também termos oportunidade de reestruturar alguma narrativa que tenha acontecido de maneira mais construtiva para eles ou para toda a família.
A Irene, no primeiro dia, pediu-me para escrever que uma das coisas mais importantes do dia (temos feito antes de deitar) tinha sido eu dar-lhe colinho durante um filme que tínhamos visto de manhã. Quando isso aconteceu - ela não é muito física - eu fiquei profundamente comovida, mas não quis estragar o momento. Não pensei que ela desse a mesma importância, mas deu. Só por isso já valeu o balúrdio que paguei pelo caderno (uns 26 euros ou lá o que foi).
Aconselho vivamente a fazerem isto com os miúdos. Ainda para mais agora que estamos a viver numa altura que poderá pedir uma transformação tão violenta dos nossos hábitos. No entanto, como neste caso, há sempre a hipótese de tornarmos isto numa oportunidade para revermos alguma coisa e fazermos coisas mais construtivas. O HappySelf Journal foi mesmo bem jogado da minha parte.
Para a motivar e também porque tenho um fetiche por blocos e cadernos, mandei vir uma versão para mim de um site que gosto muito, este. Tem desde agendas a cadernos para cuidar de assuntos em particular e mandei vir um para desconstruir pensamentos ansiosos e também outro para começar o dia a pensar no que quero fazer, quais são os meus objectivos e registar as coisas pelas quais me sinto grata. Por estarmos a fazer isto juntas, sinto que nos motivamos mutuamente, além de ser uma altura boa para mudar rotinas, como disse antes. Não estou em teletrabalho durante 8 horas por dia, a Irene não precisa de estar na telescola e, sinceramente, já não me sinto pressionada em ter que fazer todos os trabalhos que a escola envia (e bem). Estou a priorizar a nossa sanidade mental e tentar reorganizar a nossa noção de tempo. Não quero pressas, nem obrigações de momento. Quero focar-me na nossa relação e no crescimento da Irene. Pintamos, fazemos coisas em conjunto que também trabalharão skills importantes para a escola, mas não vou confrontá-la diariamente com isso.
Pronto, ficam aqui duas ideias para vos animar neste isolamento que, apesar de já não ser por muitos (força aí), para toda a gente que possa ser, deverá continuar a ser. Obviamente que isto que estamos a viver não é uma coisa boa (tantas pessoas que já morreram...), mas os que ficam têm a obrigação de não contribuir para piorar e, já agora, de utilizarem da forma mais profícua o seu tempo, não é?