6.09.2015

A minha filha tem orelhas de abano

Tem, é um facto. Quando a Isabel nasceu, vinha com as orelhas dobradinhas. Depois, passado um mês, começámos a notar que se estavam a afastar cada vez mais da cabeça. No segundo mês, comecei a pôr-lhe fitas, porque li que a cartilagem ainda estava tão molinha (não é este o termo técnico) que ia ao lugar. Andava de fita muitas vezes durante o dia, até ter uns 9 meses, mas para dormir nem pensar porque tinha medo que saísse do sítio e que a sufocasse.



Além de sentir que estava a fazer tudo certinho, que era por ela, gostava de lhe ver as fitas.

Várias pessoas me disseram para comprar uma espécie de adesivo na farmácia e lhe pôr. Nunca consegui comprar. Como ela tinha algum cabelo, não a queria magoar.

Depois, andei a pesquisar na net outras formas de contornar a coisa. Sim, sim, que eu vi muito bem o que uma criança com orelhas saídas sofre na escola. Tinha um colega, o João Diogo, que era o "urso". Vi bem o quão cruéis podem ser as crianças umas para as outras. Como mãe, por mais que quisesse pensar que a vou ensinar a gostar de si, independentemente das características físicas, só o facto de pensar que ela podia chorar com as bocas dos outros miúdos, consumia-me um bocado. Confesso. Preocupei-me. Não era coisa que me dava insónias, mas, de vez em quando, pensava nisso.

E se se usa aparelhos para corrigir os dentes, por que não algo para corrigir as orelhas? Encontrei um site, que me pareceu revolucionar esta área, o Ear Buddies. Não é um aparelho que se venda na Pixmania, não, não. É uma coisa aprovada por especialistas de saúde britânicos e que pode evitar a realização de cirurgias a longo prazo. Além da orelha de morcego, há outras pequenas imperfeições que podem ser corrigidas com esta coisa, com grandes taxas de sucesso (90%), se aplicado nas quatro primeiras semanas de vida e com valores bastante altos até aos seis meses.



Em 10 anos, as cirurgias às orelhas (otoplastia) reduziram em 20% no Reino Unido, à conta deste bichinho, que durante a aplicação fica assim:


Mais uma vez, pensei que teria de rapar o cabelo à Isabel na zona à volta das orelhas, que teria mais uma preocupação na hora do banho e preocupei-me com aquilo que os outros iam pensar. Admito. Não quis ser a mãe obcecada com a aparência da filha. Depois, tinha gente à minha volta que desvalorizava: "ainda por cima é menina, depois o cabelo tapa". E tinham, em parte, razão.
Comecei a pensar no miúdo bem disposto que era o João Diogo. Como, já adolescente, era estimado por todos. Era o "ursinho" e pareceu-me sempre bem resolvido.

Desisti rápido da ideia. E a verdade é que deixei de ver. Deixei de ver as orelhas de abanico. Deixei de ligar. Olho para ela, e vejo o todo. Vejo-a linda, querida, feliz. Desculpem o vernáculo, caguei para isso. Caguei para as fitas também, que a deixavam um bocado suada e ela começou a não querer usá-las. Comecei a usar lacinhos. E a amá-la como ela é. Foi um processo de aprendizagem, porque durante algum tempo pensava no que a minha filha diria, dali a uns anos, sabendo que eu podia ter feito alguma coisa para contornar isto. Queria fazer tudo por ela, tudo. Hoje sinto-me bem com a minha escolha.



E sabem o que descobri, só depois de ser mãe? Que também eu tenho orelhas bastante saídas e nunca tinha reparado. Porque quando se está de bem com a vida, os pormenores não interessam nada.

Tenho inveja das nossas filhas.

Epá, tenho. Sei que isto é feio, mas vou mesmo ver se o barro cola ou lá como se diz. Atirar o barro à parede? Pronto. Isso do barro.

Adoramos fazer cabazes e fazer passatempos. Adoramos ter marcas que queiram vestir as nossas bebés e andam sempre muito lindas (excepto, às vezes, a Irene, porque nem sempre tenho paciência para lhe vestir coisas com botões). 

... mas e nós?

(e já tinha este post preparado antes dos comentários ressabiados do anónimo no post anterior da Joana. É preciso mesmo muito ressabiamento para implicar com a outra Joana, comigo ainda percebo hehe)



Não conhecerão amigas de amigas ou uma amiga ou não serão vocês próprias donas de uma loja de roupa portuguesa linda (no Facebook ou física) que queira vestir o meu lindo corpinho e o da Joana Paixão Brás? Se possível em separado. Com este calor posso nem sempre cheirar bem e não quero incomodar a menina que assina com dois apelidos. 

Eu prometo que faço o buço quando tirar fotografias com as vossas roupas. Até posso começar a comer menos Oreo. Vá lá, vá lá. Também quero andar bonitinha, com roupinha gira para parecer que sou chic e daquelas pessoas que se desgraça nos mercados dos outros blogues.

Bom. Agora que passei por muito pobre, vou só ali chorar. 


PS - Estou a falar a sério! Vá!!!!!!!!! Sou mulher (apesar de tudo e de haver algumas leitoras que dizem que sou assim e assado) e quero roupa. Se houver por aí interessadas, enviem e-mail para amaeequesabeblog@gmail.com). 

PPS - A Joana Paixão Brás há anos que quer escrever sobre isto mas ainda não tinha tido coragem. Lá está, por ter de passar por pobre. Faz-lhe um "sei lá". 

PPPS - Para mim até podem despachar os tamanhos grandes que ninguém tenha comprado. Visto o 40/42 de calças e o L na parte de cima. 

Gritei por estar feliz!

Já é conhecido o meu gosto por passear. Acho que já o disse aqui umas vinte vezes. Durante o fim-de-semana, disse em voz alta que estava feliz umas três vezes. Gritei no carro, feita tontinha, como nos filmes. Estava mesmo. Estávamos todos. Os três.






Sair do meu terreno de conforto é sentir-me viva. Quebrar a rotina. Ver sítios e pessoas que nunca vi antes, andar de carro com as janelas abertas e sentir o cheiro a pinhal e a rio, ir por caminhos estreitos, à aventura, até alcançar um passadiço de madeira. Isto sou eu. Isto é o David. Demos as mãos no carro. Rimos muito, cantámos, namorámos. A Isabel esteve sempre bem, dormiu a noite toda, até às 6h e voltou a adormecer até às 7h. O meu único receio quando saímos é que ela estranhe o sítio, os cheiros, e durma mal, mas acho que ela já tem isto no sangue. Esta coisa meia errante. Acho que já tem as rotinas tão bem estabelecidas, que já não se assusta ao sair delas, desde que esteja connosco. Fará isto sentido? Provavelmente não. Mas também não interessa. 

Quero mostrar-lhe o país. As praias, as aldeias, os pinhais, os rios. No fim-de-semana, viu peixinhos na Lagoa de Óbidos. Apanhou pedrinhas na Praia do Bom Sucesso. Dançou na relva, quis chapinhar na piscina calçada. Comeu muito, mas muito bem, uma coisa linda de se ver, o que, como sabem, é raro cá por casa.








O pequeno incidente que nos aconteceu (aqui) não estragou nada. Aqui os meninos são muito relaxadinhos. Fomos comprar fatos de banho e escovas de dentes e siga. O que era importante estava lá. Nós. As coisas da filha.

Adorámos o fim-de-semana. Ficámos, a convite do Óbidos Lagoon Wellness Retreat, instalados numa villa (sim, sim, vejam a sorte!) com piscina privativa e ainda tive direito a uma massagem. Pumbas.

A casa é ideal para famílias, porque tem tudo. Tudo é tudo. A cozinha está toda equipada (desde micro-ondas, a fogão, a chaleira, a máquina de lavar a loiça, roupa. Tudo. Já disse? Tudo. Nós por acaso levámos sopas para a Isabel e fruta, mas podíamos ter perfeitamente cozinhado por lá. Não gostamos muito de ir jantar fora com a Isabel (ela adormece às 20h30/21h) e nessa semana já tínhamos tido um jantar em casa da cunhada, por isso, foi maravilhoso poder preparar uns petiscos por ali, beber um vinhinho e deitá-la quando nos pediu. A casa era super bonita, acolhedora, trouxeram-nos pequeno-almoço no domingo (um luxo!) e foram sempre super hospitaleiros.







Blusas Dasmanas





O único defeito a apontar é que, como as casas são todas modernas de grandes janelas, o isolamento da luz não é fantástico, apesar de ter cortinas. Tendo uma filha que gosta de dormir no escurinho, na sesta de sábado tivemos de ir dar uma volta de carro. No domingo, já adormeceu, por acaso, mas deve ter sido da "porrada" da praia.

 Ora, isto ser o único ponto contra - um pormenor de nada - é muito bom.








O episódio mais caricato, logo a seguir a termo-nos esquecido de levar mala, foi estar no restaurante na Praia do Bom Sucesso, meter-me com uma mãe com um filhote, de 8 meses, o Manel, e dessa mãe me ter dito:

"- O Manel conhece esta bebé da internet, não conhece?
- Do blogue?
- Pois, reconheci primeiro pelo carrinho."

O carrinho da Isabel é famoso. Até o pai do Manel conhecia o blogue. E gostavam ambos. A sério, isto é tudo um bocadinho surreal, mas tão, tão bom! Obrigada.



Venham mais fins-de-semana destes, a descobrir Portugal, em família!