Não sou feminista. Nem de extremos. Muito menos radical.
Cada vez mais me apercebo dos tons de cinzento que existem na vida, para além
do preto e do branco. Mas vou ser radical, extremista e feminista a educar o
meu filho. Quero e devo criar um homem feminista. Porque o carácter, as
opiniões, as atitudes e o bom senso das pessoas adultas começam na educação.
Porque não basta serem as mulheres a lutar pelos seus direitos, têm de ser
primeiro os homens a perceber o que está errado e a quererem fazer alguma coisa
por isso.
Vou ensinar o meu filho a fazer a cama, a lavar a loiça, a
cozinhar, a querer ser proactivo nas tarefas de casa, a perceber que estas têm
de ser feitas por todos, não apenas quando lho pedem. Já o eram antes de
chegar, continuarão com mais um elemento. Vou exigir-lhe o mesmo grau de
perfeição que exigiria se fosse mulher, porque começa em nós essa distinção,
essa diferenciação de géneros. As meninas têm de fazer tudo bem feito, os
rapazes são trapalhões e, por isso, dá-se o desconto. Não. Nascemos todos com a
mesma capacidade de organização, de aptidão, com todos os campos em aberto à
espera de serem cultivados. Caso contrário os homens não seriam cirurgiões,
arquitectos, escritores, designers. A sensibilidade, noção de espaço e
coordenação motora têm todo o seu potencial em criança. Vou sensibilizá-lo para
as relações entre homens e mulheres, para a bondade, para a educação para com
os outros. Porque abrir a porta a uma mulher não é um acto feminista, nem
discriminatório, é uma questão de tradição e educação. É uma questão, acima de
tudo, de amor. E tal como o amor deve ser dado e recebido de igual forma em
qualquer relação familiar, amorosa, de amizade, deve ser de igual modo
partilhado por homens e mulheres. Tal como a nossa casa é habitada por homens e
mulheres, deve ser tratada e conservada de igual modo pelos dois. Tal como os
filhos são originalmente criados por pais e mães, devem ser cuidados pelos
dois, em igual responsabilidade.
É nossa responsabilidade, de mães e pais, mudar o mundo para
melhor. E temos esse poder nas nossas mãos. Não precisamos da pressão de
inventar a cura para o cancro ou da resolução dos problemas ambientais,
podemos, sim, mudá-lo para muito melhor com tão pouco. E o tão pouco é
ensinarmos aos nossos filhos que nascem iguais, têm oportunidades iguais e
responsabilidades iguais. Porque eles serão os próximos directores
empresariais, os chefes de serviço, os políticos, alguns deles os primeiros
ministros e os presidentes da república. Outros percorrerão o mundo em causas
humanitárias, ou serão apenas pais de outras crianças com toda a
responsabilidade que isso implica.
Vou ensinar ao meu filho a importância do amor e do respeito
pelos outros. Mas acima de tudo vou ensinar-lhe que um homem não é nem mais nem
menos. E que deve ser tão ou mais feminista que uma mulher.
Joana Diogo
A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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