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3.08.2019

"Qual é a lenda do Dia da Mulher?", perguntou-me a minha filha de 4 anos

Antes de dormir, a Isabel perguntou-me, ao saber que hoje era o dia da mulher, qual era a lenda. E eu que podia bem ter inventado uma história qualquer de princesas fortes, contei-lhe a verdade. Ou parte dela. Disse-lhe que, há alguns anos, as mulheres não podiam usar calças. Que não podiam trabalhar no que quisessem e que tinham de ficar em casa, mesmo que tivessem jeito para outras coisas e tivessem outros sonhos. Ela ouviu tudo com muita atenção. “Nem podiam jogar à bola?”, perguntou de seguida. Disse-lhe que não. "E ainda há sítios no mundo onde não podem. Um dia vai ser diferente." Poupei-a à violência de saber que há mulheres que apanham na cara dos maridos e miúdas de 14 anos que têm medo dos namorados. Ela não precisa de saber disso, para já. Mas vai sabendo que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem da vida, que são inteligentes, fortes e corajosas. Ela diz que quer ser jogadora de futebol do Benfica e, preferências clubísticas à parte, não sou eu quem lhe vai desfazer sonhos. E espero que ninguém o faça. Espero que ela possa ser mesmo tudo o que deseje. Que não lhe perguntem se tenciona engravidar ou o que pensa fazer quando os filhos estiverem doentes, numa entrevista de trabalho. Que lhe paguem o mesmo que pagariam a um homem pelo exercício das suas funções. Que ame e seja amada com respeito e sem violência. Que tenha a coragem e a força para nunca permitir que a menorizem, que a pisem, que a humilhem. 

Há muito caminho a fazer. Muito. Por isso este dia é tão especial. Não me faz confusão nenhuma as flores, os brindes e os elogios, desde que se fale do essencial. 

E o essencial está na origem dos preconceitos, estruturais, de que, por exemplo, a mulher que se veste assim ou assado está a pedi-las, entre tantos, tantos outros.

Além da violência verbal a que se assiste - e às vezes basta navegar nas redes sociais - as mulheres são vítimas de violência, físuca e psicológica, às mãos daqueles em quem supostamente confiavam (e muitas vezes mesmo ao nosso lado e nós não fazemos nada...).  São muitas as vítimas silenciosas; são muitas as que já não vão a tempo de se queixar sequer; são muitas (demasiadas, sempre), as que o fizeram, mas não as conseguimos proteger. E ainda houve quem lhes chamasse desleais, imorais e outras coisas que tais. A justiça falha com elas.

É preciso coragem para dizer não, basta e adeus. Muita, nem nós sabemos quanta. A vergonha, a culpa, o medo moram todos lá em casa. E às vezes uma espécie de amor, acha-se,... e esperança. Sabemos lá nós.

Feliz Dia da Mulher (que um dia seja um dia feliz para TODAS)
Com ou sem flores, com ou sem maquilhagem, mas com muita, muita coragem.


2.20.2017

Quero criar um filho feminista.

Não sou feminista. Nem de extremos. Muito menos radical. Cada vez mais me apercebo dos tons de cinzento que existem na vida, para além do preto e do branco. Mas vou ser radical, extremista e feminista a educar o meu filho. Quero e devo criar um homem feminista. Porque o carácter, as opiniões, as atitudes e o bom senso das pessoas adultas começam na educação. Porque não basta serem as mulheres a lutar pelos seus direitos, têm de ser primeiro os homens a perceber o que está errado e a quererem fazer alguma coisa por isso. 

Vou ensinar o meu filho a fazer a cama, a lavar a loiça, a cozinhar, a querer ser proactivo nas tarefas de casa, a perceber que estas têm de ser feitas por todos, não apenas quando lho pedem. Já o eram antes de chegar, continuarão com mais um elemento. Vou exigir-lhe o mesmo grau de perfeição que exigiria se fosse mulher, porque começa em nós essa distinção, essa diferenciação de géneros. As meninas têm de fazer tudo bem feito, os rapazes são trapalhões e, por isso, dá-se o desconto. Não. Nascemos todos com a mesma capacidade de organização, de aptidão, com todos os campos em aberto à espera de serem cultivados. Caso contrário os homens não seriam cirurgiões, arquitectos, escritores, designers. A sensibilidade, noção de espaço e coordenação motora têm todo o seu potencial em criança. Vou sensibilizá-lo para as relações entre homens e mulheres, para a bondade, para a educação para com os outros. Porque abrir a porta a uma mulher não é um acto feminista, nem discriminatório, é uma questão de tradição e educação. É uma questão, acima de tudo, de amor. E tal como o amor deve ser dado e recebido de igual forma em qualquer relação familiar, amorosa, de amizade, deve ser de igual modo partilhado por homens e mulheres. Tal como a nossa casa é habitada por homens e mulheres, deve ser tratada e conservada de igual modo pelos dois. Tal como os filhos são originalmente criados por pais e mães, devem ser cuidados pelos dois, em igual responsabilidade.

É nossa responsabilidade, de mães e pais, mudar o mundo para melhor. E temos esse poder nas nossas mãos. Não precisamos da pressão de inventar a cura para o cancro ou da resolução dos problemas ambientais, podemos, sim, mudá-lo para muito melhor com tão pouco. E o tão pouco é ensinarmos aos nossos filhos que nascem iguais, têm oportunidades iguais e responsabilidades iguais. Porque eles serão os próximos directores empresariais, os chefes de serviço, os políticos, alguns deles os primeiros ministros e os presidentes da república. Outros percorrerão o mundo em causas humanitárias, ou serão apenas pais de outras crianças com toda a responsabilidade que isso implica. 

Vou ensinar ao meu filho a importância do amor e do respeito pelos outros. Mas acima de tudo vou ensinar-lhe que um homem não é nem mais nem menos. E que deve ser tão ou mais feminista que uma mulher.




 


Joana Diogo


A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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