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5.09.2018

Perdoa-me, miúda porque menti.

Há 4 anos que me ando a queixar que foi muita coisa horrível desde que comecei a ser mãe. E confesso que estar três anos sem dormir mais do que duas horas seguidas ou três não foi simpático para a minha capacidade de... olhar para a vida com vontade de viver, ahah. No mínimo!

- Força a todas vocês que continuam na luta, estou mesmo convosco. 

Há uns dias, porque achei que ela ia gostar e porque eu tinha vontade de ver, sentei-a no meu colo e passámos uma hora e tal a ver vídeos e fotografias de quando ela era (mais) pequenina. No nosso caso, facilmente poderia ficar triste porque na maior parte das fotografias ou vídeos aparece o pai, o meu ex-marido.

Mas não ficou. O Pai não morreu, o pai continua cá. O pai gosta dela e brinca com ela na mesma. 

A Irene ficou espantada por o Tiggy (dou-dou dela) existir desde o início, de estar em todas as fotografias em que ela dorme. Ficou (ainda) mais agarrada a ele desde aí. Acho que pode olhar para ela como se fosse "outra criança", vendo o quanto é querida e adorável desde sempre, divertida, tonta e traquina. 

E, assim, constrói mais uma perspectiva do passado. Vê que, quando era (mais) pequenina, a mãe tinha uma voz terrível para falar com ela (uma espécie de grito abafado, misturado com um sorriso e euforia esquisita - estava toda frita, claramente), que comia bróculos crús e a rir, que afinal até gostava de banana, que a mãe se fartava de passear com ela todos os dias, mata saudades de brinquedos que estão guardados algures...



E eu. Eu vejo que nem tudo foi horrível. Não foi horrível, sequer. Na altura parecia porque temos realmente de lidar com muita coisa: redefinição da nossa identidade (morte da anterior, parece-nos, pelo menos), sono (muito), milhares de inseguranças, reequilíbrio da vida em casal, pressões exteriores familiares e sociais... Miúdas, temos que nos dar um desconto dos grandes. 

Agora, ao ver as fotografias e fazendo um "esforço consciente" para ser optimista, vejo tudo tão bem: tinha uma miúda (ainda tenho, credo) lindíssima por quem estive completamente apaixonada todos os dias (embora não conseguisse demonstrar tanto quanto queria no início), com quem sempre dei o meu melhor todos os dias e que sempre soube, desde início, dizer-me o que não quer e quer. Sempre muito fácil de perceber, a Irene, isso sem dúvidas, ahah (chorava muito alto e falava muito). 

Todas as vezes em que lhe dei banho (era sempre eu) e cantava para ela (desculpa, ahah), ou quando lhe espalhava o creme, quando lhe dava de mamar logo de manhã (era a minha referida) ou, mais tarde, a primeira vez assim que chegava do trabalho. Tentar penteá-la com a escova... Descobrir como lhe cortar as unhas. Sentir os seus pés macios na minha mão, olhar para eles e pensar "eu estou a ter o privilégio de ver estes pés ainda antes de tocarem pela primeira vez no chão". 

Ela a dançar "As Poderosas" da Anitta ou comigo a "Piradinha"... :) Contar-lhe vezes sem conta o mesmo livro à hora de almoço, estar tão cansada que até deixava os restos de sopa lá ficarem e fazerem parte do cenário, ahah. Brincámos muito, dançámos muito. 

Falo como se já tivesse acabado, mas não acabou. Já não é bebé, mas continua a ser ela. Continuamos a ser nós e é um prazer fazer-lhe festinhas na cabeça ou nas costas ou na barriga até adormecer. 


Perdoa-me, miúda, tenho mentido. Ver-te crescer e ser mãe tem sido maravilhoso desde o início. Quando estamos cansadas é só mais difícil ver o que está mesmo à nossa frente mas, mesmo assim estamos a conseguir :)


Fotografias: Yellow Savages
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4.30.2018

A comentadora tem razão.

Devia ser um novo espaço aqui no blog, tipo o aquilo da RTP que agora não me lembro o nome. Aquilo para onde os espectadores enviam e-mails e cartas e... É o provedor... (estou a ligar à minha mãe a perguntar)... Ok! O Provedor... que era com o Paquete de Oliveira, pronto. 

Os comentários de ódio (ou os que me parecem) raramente surtem algum efeito. (In)felizmente já tenho bom sistema de defesas e já compreendo mais ou menos como funciona a cabeça de um ser humano (não necessariamente a minha, ahah). 

Porém, quando fazem sentido (e quando o tom parece o certo e se torna mais fácil ouvir) ou quando são para serem ouvidos, sinto-os. E senti este - já não me lembro em que post foi ou quem foi a comentadora (desculpa e obrigada!) de que vos vou falar.

Dizia, mais ou menos, que o nosso blog às vezes parece espelhar apenas o lado negativo da maternidade e que isso também não é bom para quem lê. 

E tem razão. 

Tanto a Joana (Paixão Brás) como eu (Joana Gama) - mas mais eu - fazemos imensos posts a falar daquilo que nos atormenta e preocupa, não só como desabafo, mas também porque queremos que todas nós nos sintamos menos sozinhas. É importante que quem não dorme saiba que não está a fazer tudo errado, que não é um bicho do mato, que há muitas mais mães assim. É importante que quem não consiga dar de mamar instintivamente saiba que a norma talvez não seja essa, etc.

Eu até sorrio às vezes, pá! 


Mas a comentadora tem razão em dizer que é um ciclo também. Ao mostrarmos constantemente o lado negativo da coisa, também estamos a trabalhar e a encher a nossa/vossa cabeça com coisas negativas. Estamos a falar dos problemas. Estamos a por o dedo na ferida, quando é suposto a ferida estar ao ar, depois de desinfectar... (que raio de imagem para explicar). 

Talvez ambas estejamos cansadas. Não de amar, claro, mas a Joana porque voltou ao trabalho, tem duas miúdas para gerir e não dorme noites seguidas desde que a Isabel nasceu e eu porque ainda não consegui arranjar bem o meu ritmo desde que a Irene nasceu, mesmo apesar de já dormir à noite. Agora, com preocupações acrescidas, talvez não descanse de qualquer das formas. 

É verdade, porém, que temos de trabalhar o positivo. Trabalhar o bom. Espalhar amor. O amor também se espalha com o sentimento de pertença que temos tentado passar (e que não é desinteressado, tanto eu como a Joana também precisamos de sentir que não somos as únicas), mas há maneiras menos pesadas de falar de maternidade. 

Da minha parte estou a trabalhar o meu lado positivo. Confesso que até as coisas boas me dão para a tristeza, a comoção faz-me sentir saudade ou o que for. Vou fazer esse treino em directo convosco. 

A verdade é que sem "apesares de tudo", tenho uma filha magnífica e que, tal como diz o meu ex-marido "este é o meu melhor trabalho". Espero bem que seja. É o mais importante para mim. 


Vou tentar transmitir-vos esse optimismo, esse lado bom, sem tirar os pés do chão :) Vai fazer-me bem. Espero que a vocês também.

Vou tentar descobrir um outro caminho para vos fazer sentir coisas boas sem ser pela partilha de coisas negativas ou sem ser por partilha de coisas tão positivas (e pouco reais) que vos faz sentirem-se falhadas (não vou fingir que a vida é perfeita, não consigo e este blog não é um desses).

Obrigada, comentadora e leitora :)


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