9.02.2019

Regressaram o trabalho e deixaram o bebé?

É inevitável lembrar-me do dia em que voltei a trabalhar. Sim, pus logo os 5 meses de licença e acumulei o mês de férias mas, mesmo assim, perto da altura estava em pânico. Não que não me apetecesse voltar a trabalhar - apetecia, muito - mas com medo da mudança e com pena de deixar a minha filha. 

Mesmo assim o nosso cenário era fantástico. O pai é freelancer e coincidiu com um momento em que ele pôde ficar mais tempo em casa. Ela além de ficar em casa, ficou com o pai. Bebeu biberões de leite materno, o pai enviava-me fotografias dela a bebê-lo sozinha na espreguiçadeira, mas por muito que me quisesse rir, não conseguia. 

Nem imaginam o filme que foi até me convencer a conseguir sair de casa sem ela nunca ter aceite um biberão ou mamado um a não ser os de leite artificial que lhe deram na maternidade. Na minha cabeça estava a deixar a minha filha a morrer à fome e não tinha alternativa. Também nunca tinha aceite bem o pai a adormecê-la e a mãe lá saia de casa, com a miúda a chorar (e a mãe também) para voltar não sei quantas horas depois, ainda que com um horário de trabalho mais curto (tive sorte, sei). 

Tudo muito dramático, mas era o que era. Foi o que foi. 

No trabalho, dei por mim a retirar leite com a bomba na sala de reuniões e andar para a frente e para trás com os frascos para o frigorífico onde a malta guardava a comida. Claro que virei piada - o ambiente era óptimo - e isso não me apoquentou, mas não estava tranquila em casa, não é? 

Depois de estar no trabalho, de reparar que o trabalho que tinham para me dar estava a ser escasso e que nem sequer estavam à espera que eu regressasse (?) perguntei se podia desaparecer durante um ano. Enquanto fiz o pedido estava desejosa tanto que aceitassem como não aceitassem. Se aceitassem, iria ficar um ano inteiro em exclusivo totalmente focada na minha bebé - com tudo o que daí advém de bom e de mau. Caso não aceitassem, haveria uma espécie de impotência da minha parte de não conseguir fazer melhor e, por isso, uma conformação. 

Aceitaram. 

Foto Pau Storch


Um mês ou dois depois de ter regressado ao trabalho, fiquei mais um ano em casa com a minha filha. E com o pai dela - por ser freelancer. 

Fiz alguns trabalhos por e-mail, escrevi para pessoas, etc. Acabei por ganhar o meu dinheiro e fiz questão de não receber dinheiro de "ninguém" para estar em casa. O universo ajudou-me nisso. Foi bom. 

Tive de dispensar a senhora que trabalhava cá em casa até por uma questão de "orgulho" ou lá o que é: "se não trabalho, ao menos trato da casa". Sabia lá eu no que me estava a meter, credo! Não comprei nada para mim, nada para a Irene... enfim. Dramas de primeiro mundo ;).

Bom, isto tudo para vos dizer que tudo se faz. O tempo foi passado, decisões foram tomadas e mesmo que não pareçamos livres ou sem opções que se estivermos atentas ao que estamos a sentir e ao que o Mundo nos está a dar que há sempre um lado bom e um lado menos bom em tudo mas que, independentemente do que seja, melhorará com o tempo. 

Temos de ter calma e, nestas alturas, de sermos mães de nós próprias também. Dar-nos colinho, mas deixar-nos respirar e sentir tudo. 

Podem ser às vezes estes os momentos que nos ajudem a tomar decisões muito importantes e que nos façam mais felizes, ainda que custem. Seja o de ir para o trabalho com um sorriso de "precisava disto e vou ser melhor mãe assim" ou seja o de ficar mais em casa e sentir "é aqui onde tenho que estar". 

Estamos sempre certas tendo em conta o momento em que estamos. Não é? 


Chorei tanto, mas tanto enquanto o dia se aproximava... Despedia-me de tudo como se fossemos morrer... 

Está tudo bem e ontem a Irene disse-me que estava com vontade de voltar para a escola :) Vejam lá como as coisas mudam. 



2 comentários:

  1. Olá, Joana! O meu comentário vai parecer intrusivo, mas espero, honestamente, que não me leve a mal. Quando comecei a ler o blog simpatizava mais com os textos da JPB, talvez pq a sua cabeça e quiçá o seu coração ainda estivessem desarrumados. Como não haviam de estar? Um parto difícil, um bebé difícil, uma mãe insegura. Achava que a Joana exagerava, que levava e debatia os temas até à exaustão e, por vezes, que precisava dessa dose de ansiedade para conseguir "andar. Depois fui mãe. E eu transformei-me um pouco em si e a minha capacidade de empatizar, de me colocar no seu lugar, ficou muito maior. Percebo o seu caminho, no fundo, admiro-o. Nota-se a evolução, o crescimento enquanto mãe, enquanto pessoa. A segurança com que fala das coisas. A tranquilidade que consegue demonstrar. Neste momento, gosto muito mais dos seus textos, acho-os nus e Crus, acho mm que a Joana expõe o melhor e o pior de si e, isso, na verdade, Faz-me sentir que não estou sozinha. Deixei hoje a minha filha pela primeira vez na creche. Foi horrível. Mas depois de ler este texto fiquei um bocado mais quente. Tudo ha-de melhorar. Muito obrigada, Joana. Parabéns pela sua luta. O mérito é todo seu. ❤️

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  2. A minha filha tem quase 7 meses e irá para a creche aos 9. Estarei em casa com ela desde que nasceu até essa altura (fiz 5 meses + 1 mês férias + 3 meses licença alargada). Sei que me vai custar imenso! Não tenho vontade nenhuma de regressar. Sei que tenho aproveitado estes meses ao máximo, adoro estar com ela o dia todo e a rotina que temos, ela é uma bebé muito fácil, detesto (como já detestava antes) a ideia de passar a maior parte do meu dia longe das pessoas que mais amo (a minha filha, mas também o meu marido e os meus pais, enquanto que neste tempo da licença tive tempo para todos), mas já sei que tem de ser e que ela se irá habituar à creche e eu também à nova rotina.

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