É inevitável lembrar-me do dia em que voltei a trabalhar. Sim, pus logo os 5 meses de licença e acumulei o mês de férias mas, mesmo assim, perto da altura estava em pânico. Não que não me apetecesse voltar a trabalhar - apetecia, muito - mas com medo da mudança e com pena de deixar a minha filha.
Mesmo assim o nosso cenário era fantástico. O pai é freelancer e coincidiu com um momento em que ele pôde ficar mais tempo em casa. Ela além de ficar em casa, ficou com o pai. Bebeu biberões de leite materno, o pai enviava-me fotografias dela a bebê-lo sozinha na espreguiçadeira, mas por muito que me quisesse rir, não conseguia.
Nem imaginam o filme que foi até me convencer a conseguir sair de casa sem ela nunca ter aceite um biberão ou mamado um a não ser os de leite artificial que lhe deram na maternidade. Na minha cabeça estava a deixar a minha filha a morrer à fome e não tinha alternativa. Também nunca tinha aceite bem o pai a adormecê-la e a mãe lá saia de casa, com a miúda a chorar (e a mãe também) para voltar não sei quantas horas depois, ainda que com um horário de trabalho mais curto (tive sorte, sei).
Tudo muito dramático, mas era o que era. Foi o que foi.
No trabalho, dei por mim a retirar leite com a bomba na sala de reuniões e andar para a frente e para trás com os frascos para o frigorífico onde a malta guardava a comida. Claro que virei piada - o ambiente era óptimo - e isso não me apoquentou, mas não estava tranquila em casa, não é?
Depois de estar no trabalho, de reparar que o trabalho que tinham para me dar estava a ser escasso e que nem sequer estavam à espera que eu regressasse (?) perguntei se podia desaparecer durante um ano. Enquanto fiz o pedido estava desejosa tanto que aceitassem como não aceitassem. Se aceitassem, iria ficar um ano inteiro em exclusivo totalmente focada na minha bebé - com tudo o que daí advém de bom e de mau. Caso não aceitassem, haveria uma espécie de impotência da minha parte de não conseguir fazer melhor e, por isso, uma conformação.
Aceitaram.
Foto Pau Storch |
Um mês ou dois depois de ter regressado ao trabalho, fiquei mais um ano em casa com a minha filha. E com o pai dela - por ser freelancer.
Fiz alguns trabalhos por e-mail, escrevi para pessoas, etc. Acabei por ganhar o meu dinheiro e fiz questão de não receber dinheiro de "ninguém" para estar em casa. O universo ajudou-me nisso. Foi bom.
Tive de dispensar a senhora que trabalhava cá em casa até por uma questão de "orgulho" ou lá o que é: "se não trabalho, ao menos trato da casa". Sabia lá eu no que me estava a meter, credo! Não comprei nada para mim, nada para a Irene... enfim. Dramas de primeiro mundo ;).
Bom, isto tudo para vos dizer que tudo se faz. O tempo foi passado, decisões foram tomadas e mesmo que não pareçamos livres ou sem opções que se estivermos atentas ao que estamos a sentir e ao que o Mundo nos está a dar que há sempre um lado bom e um lado menos bom em tudo mas que, independentemente do que seja, melhorará com o tempo.
Temos de ter calma e, nestas alturas, de sermos mães de nós próprias também. Dar-nos colinho, mas deixar-nos respirar e sentir tudo.
Podem ser às vezes estes os momentos que nos ajudem a tomar decisões muito importantes e que nos façam mais felizes, ainda que custem. Seja o de ir para o trabalho com um sorriso de "precisava disto e vou ser melhor mãe assim" ou seja o de ficar mais em casa e sentir "é aqui onde tenho que estar".
Estamos sempre certas tendo em conta o momento em que estamos. Não é?
Chorei tanto, mas tanto enquanto o dia se aproximava... Despedia-me de tudo como se fossemos morrer...
Está tudo bem e ontem a Irene disse-me que estava com vontade de voltar para a escola :) Vejam lá como as coisas mudam.
Olá, Joana! O meu comentário vai parecer intrusivo, mas espero, honestamente, que não me leve a mal. Quando comecei a ler o blog simpatizava mais com os textos da JPB, talvez pq a sua cabeça e quiçá o seu coração ainda estivessem desarrumados. Como não haviam de estar? Um parto difícil, um bebé difícil, uma mãe insegura. Achava que a Joana exagerava, que levava e debatia os temas até à exaustão e, por vezes, que precisava dessa dose de ansiedade para conseguir "andar. Depois fui mãe. E eu transformei-me um pouco em si e a minha capacidade de empatizar, de me colocar no seu lugar, ficou muito maior. Percebo o seu caminho, no fundo, admiro-o. Nota-se a evolução, o crescimento enquanto mãe, enquanto pessoa. A segurança com que fala das coisas. A tranquilidade que consegue demonstrar. Neste momento, gosto muito mais dos seus textos, acho-os nus e Crus, acho mm que a Joana expõe o melhor e o pior de si e, isso, na verdade, Faz-me sentir que não estou sozinha. Deixei hoje a minha filha pela primeira vez na creche. Foi horrível. Mas depois de ler este texto fiquei um bocado mais quente. Tudo ha-de melhorar. Muito obrigada, Joana. Parabéns pela sua luta. O mérito é todo seu. ❤️
ResponderEliminarA minha filha tem quase 7 meses e irá para a creche aos 9. Estarei em casa com ela desde que nasceu até essa altura (fiz 5 meses + 1 mês férias + 3 meses licença alargada). Sei que me vai custar imenso! Não tenho vontade nenhuma de regressar. Sei que tenho aproveitado estes meses ao máximo, adoro estar com ela o dia todo e a rotina que temos, ela é uma bebé muito fácil, detesto (como já detestava antes) a ideia de passar a maior parte do meu dia longe das pessoas que mais amo (a minha filha, mas também o meu marido e os meus pais, enquanto que neste tempo da licença tive tempo para todos), mas já sei que tem de ser e que ela se irá habituar à creche e eu também à nova rotina.
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