9.22.2019

E quando os nossos amigos educam os miúdos de outra maneira?

No início foi complicado. Convivemos com alguns casais que educam os filhos de uma maneira diferente da nossa - filhos diferentes, pais diferentes, objectivos e referências diferentes - e era complicado não "intervir". Não me levem a mal, não iria chamar os pais à atenção (a não ser que estivessem a bater na criança ou a serem violentos verbalmente), mas também não creio que vá socializar voluntariamente com pessoas assim, não fazem parte do meu círculo. 

Não por andar a escolher amigos consoante as suas crenças de parentalidade, mas o tipo de amigos que tenho coincide com serem pessoas com as quais geralmente não me desidentifico brutalmente. Bom, parêntesis feitos, o que tenho para vos dizer? 

Temos convivido com alguns casais que não educam de forma igual os seus filhos. Eu sigo alguns princípios que ao longo destes 5 anos tenho partilhado convosco aqui no blog e sou bastante verbal em relação a isso com a Irene. Isto para ficarmos atentas a comportamentos inaceitáveis das pessoas com ela, etc. 

No entanto, não vou estar no momento "da crise" chamar a Irene à parte ou conversar com ela sobre o assunto. Tenho ficado sentada, no meu lugar, a observar o que se passa com a devida compreensão e empatia. Depois, consoante a minha relação com o casal, oportunamente poderei - se sentir abertura para isso - sugerir outra perspectiva ou propor outra ferramenta. No entanto, não no momento de crise. 

Claro que não me agrada que a Irene seja exposta a outro tipo de comportamentos com os quais não concordo ou que não estejam totalmente alinhados connosco. No entanto, é o Mundo, não é? E talvez com o contraste das diferenças, a Irene também consiga valorizar e criar um sentimento crítico relativamente às coisas. Estamos a criar pessoas e opiniões tridimensionais são óptimas. 


Alguém castiga um miúdo à nossa frente. A Irene sabe que sou contra castigos e sabe porquê. Não falo, não digo nada, também porque não preciso. Já conversamos sobre essas coisas. No entanto quero ajudá-la a compreender o que passou, a observar com empatia e criar as suas opiniões. 

Nos momentos em que nos afastamos do casal ou do episódio falamos sobre o que aconteceu. Não sobre o assunto em particular, mas sobre o evento: "foi giro, não foi?". Começamos por aí e, se a conversa for por aí acabamos por aproveitar o sucedido para conversar. 

"Mãe, concordas que o xxx obrigue o/a xxx a comer tudo o que tem no prato?"

"Não, Irene, não concordo. Mas há mães e pais que ficam muito aflitos pelos filhos não comerem bem e só ficam descansados assim. Há também outras crianças que não comem e que perdem muito peso e que frustram muito os pais ou até que os médicos possam dar outras indicações. No nosso caso não concordo porque sei que quando tens fome comes e eu odiaria que me obrigassem sempre a comer tudo o que tenho no prato, ainda para mais se não fosse eu a servir-me. E tu?"

"Eu acho que me devias dar todas as pastilhas do Mundo". 

Vá, isto só aconteceu uma vez. Normalmente até lhe pergunto primeiro o que ela acha, mas esta fez-me rir, confesso. 

Mas isto que no início me deixava nervosa, agora não deixa. Não só porque estou satisfeita com o que tenho conversado com a Irene mas também porque lhe tenho ensinado que o que está certo para uns, ainda que também pudesse estar certo com outros, há outras coisas na vida que nos fazem agir de outras formas. Eu não sei como reagiria se a minha filha não me ouvisse, por exemplo, se não me respeitasse, embora sinta que a nossa relação e a forma como temos crescido juntas tenha ajudado brutalmente nisso. 





E antes de se irem embora, lembrar-vos de que já saiu novo episódio do nosso podcast em que falamos de tudo menos de maternidade e que, desta vez, foi sobre os nossos maiores sonhos: o da Joana Paixão Brás é cantar. Falamos sobre os Onda Choc, o Ídolos e tudo o que ainda que lhe falta falta fazer. Ah! E ainda canta um bocadinho, cheia de vergonha...
Além do Spotify, podem ouvir no SoundCloud, Apple Podcasts e Anchor FM. Basicamente omnipresentes. 




E só para terminar - irra que ela não se cala - se conhecerem marcas que estejam interessadas em entrar no nosso projecto de ajudar mães nas fases mais difíceis de ter um bebé, falem connosco através do e-mail amaeequesabeblog@gmail.com, sim? Sim! ;)

6 comentários:

  1. Estava a precisar de ler isto 😁 estamos em casa dos sogros por 10 dias (vivemos no estrangeiro) e não concordo nada como tentam educar a minha filha - se é eclatante e grave tenho de intervir, mas se não o é falo depois com ela com calma. Tem 4 anos a minha pequena

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  2. Como sempre Joana Gama a causar mixed feelings. Por um lado, concebo perfeitamente um mundo ideal, uma relação perfeita entre pais e filhos, uma simbiose em que se consegue sempre transmitir o melhor de nós, atingindo um nirvana de compreensão mútua e respeito.
    Por outro lado, aceito e reconheço (mais não seja em mim própria) que há dias bons, há dias maus, há dias péssimos e há dias que começam péssimos e acabam bem ou vice-versa. Há fases boas e fases menos boas. Há fases más dos filhos e fases más dos pais. Há fases de maior preocupação e fases em que se encolhe os ombros e se segue em frente.
    Eu se vir um pai a castigar um filho diria que estão numa dessas fases. Por mais que conheça os outros, não posso garantir que são 'um determinado tipo de pai', não classifico os pais como pais castigadores ou pais que têm sempre outra solução.
    Não me vejo a comentar com os meus filhos o modo de educar dos outros.

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    1. Eu acho que depende das situações. Se a educação dos outros for o oposto à nossa, então os nossos filhos são capazes de precisar de conversar sobre isso para entenderem. Por exemplo, há uns meses, em casa de conhecidos, a mãe deu uma estalada na filha mesmo à frente da minha, que ficou de boca aberta porque com 4 anos nunca tal tinha visto. Não lhe batemos, na família não há ninguém que bata nas crianças e mesmo entre amigos não é prática comum. Por isso, depois de saímos de lá tivemos obrigatoriamente de falar sobre o assunto. :)

      Tété

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    2. Isso é uma situação limite. Conversar necessário para dissipar ate sentimentos de angústia. Não imagino os meus filhos a assistirem a um amigo ou conhecido levar uma estalada.
      Julgo que o tema era castigos. Para mim, na nossa família lá em cada, castigo significa o time-out, ou o cantinho da calma, como preferirem. Afastar a criança até ela se acalmar. No meio de uma birra, nem sempre é fácil gerir.

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    3. Eu tenho um conceito diferente de castigo: é uma consequência por um acto que não foi bom. :) Não uso esse time-out, na nossa dinâmica não faz muito sentido deixá-la a pensar na vida quando está a fazer uma birra/disparate/etc, mas também só tem quase 4 anos. Por aqui não usamos muito o castigo por isso não tenho grandes exemplos, mas sei de uma situação do ano passado: foi brincar a casa de uma amiga e quando voltou era disparates atrás de disparates, até que acabou por fazer voar a medicação que tomava na altura. Por isso explicámos que não podíamos tolerar aquele comportamento quando ia brincar a casa da amiga e que no dia seguinte não iria. E assim foi, a amiga veio convidar e explicámos que ela estava de castigo e não poderia ir. Voltámos a falar com ela e explicámos novamente porque não estava a ir brincar a casa da amiga. Quando brinca com outras crianças, há geralmente um lado mais disparatado que se instala e damos sempre o devido desconto mas naquele dia houve uma série de limites a serem pisados e achámos que tínhamos de tomar outra posição. Quem não é a favor de castigos, se calhar olharia para nós naquele dia e reprovaria mas de facto não é algo a que recorramos muito por isso também concordo contigo que é difícil classificar pais só por se ter visto um comportamento isolado.

      Tété

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  3. Bom tirando casos em que fique convicta que estamos perante uma situação de maus tratos não me estou a ver a tentar educar outros pais. Cada família sabe o que resulta melhor para si e para os seus filhos. Há dias bons, há dias maus, há dias mais ou menos... E miúdos mais desafiadores, miúdos mais dóceis... E nem me passaria pela cabeça criticar com os meus filhos as dinâmicas de outra família.

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