5.24.2018

O que é isso de mostrar a vida real?

Já aqui disseram uma ou outra vez que os meus posts não mostram a vida real. Eu tenho consciência de que, sendo uma pessoa romântica e optimista, floreio, aos olhos dos outros, um bocadinho, pinto de cor-de-rosa alguns textos e ainda ponho uns unicórnios com glitter colados a cuspo nos títulos. Golas e folharecos nas miúdas. Cartas emocionadas. Para algumas pessoas, talvez seja too much. Demasiada felicidade, demasiado optimismo, demasiado romantismo. Famílias unidas, apesar de pais separados, (futuro) marido aparentemente perfeito - que não ajuda, simplesmente é pai e é marido, bla bla bla - filhas queridas. Uns restaurantes pelo meio, umas compras e uns fins-de-semana em hotéis. Um pai e uma mãe que são para mim um exemplo e que não me coíbo de elogiar. 
Percebo que, para a maioria das pessoas, este cenário seja enjoativo e que pareça irreal ou até inalcançável. Percebo que haja pessoas que, nesses momentos, se sintam tristes por não terem tido uma infância feliz, uns pais presentes, uma família. Que não possam sequer ir comer um hambúrguer, quanto mais ter acesso a restaurantes de chef de renome. Que não vão de férias há que séculos e eu ainda a queixar-me de ter de fazer malas. "Não é por acaso que no Natal ou em altura de festas haja muitos suicídios" ficou ali a pairar na minha cabeça.
Eu percebo o argumento, não sou propriamente um cepo com olhos. Tenho sentimentos (e às vezes até demais). No entanto, não posso condicionar o que sou, o que vivi e o que partilho (três coisas distintas) por pensar no que os outros não são, não vivem (ou não podem viver) nem sentem. Mas não é por isso que o que eu sou e vivo e partilho deixa de ser real. O que é isso de mostrar uma vida real? A minha vida, por força das circunstâncias, pelo meu passado, pelo que me proporcionaram, pelas minhas experiências, mas também por tudo aquilo que o blogue me dá a viver, a experimentar e a conhecer, é esta. Estou muito grata por tudo. Tento devolver ao universo tudo o que o universo me dá. Agora, não fiz nenhum voto de pobreza. Apesar de ajudar algumas causas, não deixo de fazer coisas que me fazem bem. E, apesar de saber que há pessoas que não têm a sorte que eu tenho, não quero deixar de falar da minha vida, da minha maternidade e da minha família com o orgulho e a felicidade que ela me causar. 
Nunca disse que era feliz a 100% (isso nem existe). Nunca disse que não tinha problemas ou que nunca tive. Nunca deixei de me ir queixando aqui de coisas que me chateavam e até de coisas que me faziam chorar durante a noite. Do cansaço, de não saber bem que rumo tomar, das decisões difíceis. Idas à psicóloga. Todos temos os nossos problemas e os nossos fantasmas. "Problemas de primeiro mundo". Sim, é a minha realidade e não fujo dela. Nem tenho de. Se inspirar alguém, inspiro, mas sem essa pretensão. Se as minhas dicas servirem a alguém, fico contente. Se fizer alguém pensar em algum tema que me seja querido, tal como alguém o fez comigo, excelente. Se alguém se identificar e me passar a mão pelo pela cabeça e me der dicas a mim ou alguma palavra de conforto, magnífico. Se conseguir que alguém se ria, muito fixe. Se trouxer discussão construtiva, fico entusiasmada.
Podia abrir (ainda) mais o meu coração e contar coisas que fariam com que se identificassem comigo? Podia narrar situações que me fizeram mossa, ficaram mal resolvidas dentro de mim, na infância e adolescência e até na idade adulta? Podia. Porque ninguém é perfeito ou leva uma vida perfeita. Ninguém. Mas há coisas que não conto nem exponho. Para mim, há limites. Tudo o que escrevo aqui pode ter consequências na vida dos outros: as pessoas da minha vida e os que me lêem. E há portas que não se abrem. 
Das que eu abro, contem com sinceridade. Às vezes com desapontamento ou cansaço, outras vezes com paixão e entusiasmo. Tenho um trabalho de muitas horas, que acumulo com outras coisas, tenho duas filhas que se esfolam por vezes e que me tiram do sério, tenho dúvidas, contas para pagar, roupa para passar e sono. Às vezes tristeza, sentimento de que falho, e saudades do passado. Mas tenho também uma enorme vontade de dançar dentro de mim, de beijar e de gritar bem alto que tudo vale a pena e que o resto se resolve. Talvez opte mais vezes por este porque acredito muito que as coisas boas trazem coisas boas aos outros e a até a mim. 

Tudo isto faz parte da minha vida, logo é real.






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15 comentários:

  1. Ou não percebeste o que quiseram dizer esses comentários ou não quiseste perceber.

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  2. A questão não é que a tua vida não seja "real", os teus posts é que não o demostram. Expões essencialmente o cor de rosa deixando o cinzento muito de lado. Não está em causa o teu lado privado mas está em causa o que mostras dele. O que a bem da verdade é bem indiferente para a vida de quem vos lê. Mas tendo a Gama uma camada de filtros e de cor de rosa bem mais tenue, a diferença é bem notória. Ela escreve a pensar menos no seu lado blogger e tu és mais rosinha... vale tudo, claro. Só não é é tão interessante.

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    1. Que engraçado, acho a cabeça da Joana PB bem mais simples do que a da Joana Gama, que de tão intensa e complexa, me vai perdendo. Deixou de ser funny e era essa a principal razão por que a seguia. Passou a ser tudo muito esmiuçado e às vezes muito forçado, só para ter conteúdo. Há espaço para as duas e ainda bem que são diferentes. Claro que a Joana PB é mais cor-de-rosa mas ainda bem para equilibrar, nem tudo tem de ser um tratado educacional. Para isso leio psicólogos e pedagogos. Mas bem, diversidade é o que se quer e é irem fazendo e escrevendo o que lhes apetecer que o blogue é delas

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    2. Mas porquê e para quê comparar as duas autoras?

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    3. Caro Anónimo 24 de maio de 2018 às 11:44, já parou para pensar que cada um partilha o que lhe apetece? Já parou para pensar que duas pessoas perante o mesmo cenário podem ver lados diferentes (o bom, o mais ou menos, o menos mau, o mau, etc...)e há quem goste e procure ver sempre o lado com sinal + da vida???
      Há os que acham que necessitam de estar sempre a "chorar e lamentar" para que a vida seja a real... E há os outros...os que gostam de viver e aproveitam o lado bom para ganhar forças para lidar com o lado mau...
      E há pessoas que na realidade não suportam a felicidade dos outros!!! Será o seu caso???

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  3. Oh Joanas essas pessoas nunca estão bem com a vida... Ou porque voces exageram e são pessimistas demais, ou porque sao otimistas demais!
    Não vale a pena perceber ou tentar perceber o que essas pessoas dizem.
    Vai haver sempre quem nao vai gostar daquilo que publicam. Se é ou não a realidade geral, não cabe a voces decidir para puderem publicar. Também só lê quem quer.
    Eu própria como seguidora de vários blogues, deixei de seguir alguns porque já não me identificava com nada do que lia (via). Essas pessoas podem fazer o mesmo.
    Eu gosto do vosso conteudo e acho que devem continuar com as vossos principios.
    Beijinhos para as 2 JJ
    Vânia O.

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  4. A felicidade alheia incomoda muita gente, infelizmente! O que importa é que há quem goste do que vocês escrevem! Eu por exemplo!

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  5. Não tens que justificar o teu blog! Nele és rainha e senhora! Segue-te quem quer! Eu gosto de roupas, compras e restaurantes, pelo-me por uns dias de férias ou de fim de semana, pessoas bonitas e crianças alegres e bem vestidas! Tb só partilho fotos minhas em q fico bem!
    Se o teu filtro é cor é rosa? É e depois? Quando quero ficar deprimida olho para o meu saldo da conta bancária!
    Ps. A maternidade real não tem q ser tenebrosa! Há momentos para tudo. E o saldo pode muito bem ser positivo! O meu é, por isso o teu pode ser tb! Se calhar é por também ser Joana!

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    1. Concordo! A vida real, a maternidade real, para muita gente é mm cor de rosa! Para mim é! Talvez pelo facto de eu ver sp o lado bom... tenho o copo sp meio cheio e sou feliz assim. Só desde que leio blogs me apercebi da forma mais pesada como algumas pp encaram a maternidade.

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  6. Acho que daríamos boas amigas! Gosto da sua forma de pensar :) quando a venho ler é para me distrair, não para sofrer. Para isso leio o correio da manhã!

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  7. Fui eu que fiz os comentários no post anterior e sinceramente não vou repescar nem criticar o que escrevi/escreveu como quem ou onde. Cada um tem a vida que tem. A Joana ao partir do princípio que quem critica não é feliz e debita os lugares comuns do costume sobre vidas miseráveis está a esquecer-se de algo muito simples: eu tenho vantagem, tal como quase toda a gente que aqui comenta, sobre si. É uma vantagem injusta, mas ela existe, porque sei mais sobre a sua vida do que a Joana sabe sobre a minha. Para começar eu estou na casa dos 40. A Joana nos 30. Já enterrei muita gente da minha família e perdi muitas pessoas. Isso não quer dizer que não seja feliz. Sou. Apenas já passei por outras experiências mais tenebrosas, como se calhar a maioria das pessoas, de forma geral. Obviamente se estamos a falar de pessoas da sua idade, se calhar não - as qye experimentam a maternidade pela 1a vez, dado que é aqui o público alvo. Um dia irá lá chegar. Existem, no entanto, outras experiências demolidoras: perder um filho, a doença crónica ou a deficiência de um filho ou sobrinho ou outro familiar. Tudo coisas horríveis. Divórcios ou relações à distância. Monoparentalidade. Depressões pós parto.
    Vidas "normais" assim. A sua é a sua e a dos outros é a dos outros. O blog é seu e é partilhado com outra pessoa que está a enfrentar uma fase de vida complicada. Muitas vezes é atacada. No entanto defende-se como pode, como sabe. O meu comentário foi somente um desabafo e não pretendo que encare como um ataque ao que quer que seja a sua visão da vida. Foi um feedback. Eu sei que a Joana é uma pessoa, um ser humano com sentimentos e é feliz. Eu também sou. As pancadas da vida deitaram-me abaixo 100 vezes. Levantei-me 101. Oxalá não houvesse dor e doença e morte e separação nesta vida. Mas há. Às vezes só me apetecia o colo da minha mãe, que já não tenho. Graças a Deus tenho saúde, alegria, amor e marido e filhos maravilhosos. Uma profissão que adoro, amigos que são irmãos e vivo num país espectacular, numa região maravilhosa. Por fim, lembro-me sempre da Margarida Gautier e mais não digo. Um beijinho para si e acredite que lhe desejo o melhor e que a vida lhe sorria sempre, ao lado das suas filhotas maravilhosas e do marido que escolheu para partilhar a vida.

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  8. Respeito as outras opiniões, mas gostava de deixar a minha: neste momento a minha vida está a passar por uma fase complicada (o meu marido tem uma doença grave e terminal), tenho 2 filhas pequeninas, estou desempregada, o dinheiro é muuuiiito contado, é dificil as miúdas pedirem alguma coisa e ter que dizer sempre que não. É dificil, é frustrante, é cansativo. Quando precisam de uns sapatos novos é uma dor de cabeça...(financeiramente)... Mas gosto de vir aqui e ler a JPB (e também a Gama), porque me anima, porque fico contente de ver textos e fotos bonitos. Não fico a pensar "quem me dera ter uma vida assim", fico a pensar "ah que bom ela foi passar um fim de semana a Madrid, olha tão bonito o vestido dela". Eu sou assim, não faço paralelos entre o que é a minha vida e o que é a dos outros. Como disse outra pessoa, se quiser ler dramas e tragedias vou ver o correio da manhã! Além disso descobri alternativas de coisas agradaveis e bonitas e grátis tais como simplesmente passear, correr no parque, apanhar flores, fazermos desenhos juntas, ou trabalhos manuais ou inventarmos historias e teatrinhos. Nao preciso ter muito dinheiro p as minhas filhas serem felizes e sentirem se amadas e acompanhadas.

    Olha Joana ainda bem que tudo te corre tao bem e espero que continue a correr, muitas felicidades e beijinhos e continua a partilhar coisas bonitas!

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  9. A Joana (a que escreveu este post) parece-me ser uma pessoa otimista, bem resolvida. Mostra aqui aquilo que quer e até onde quer. Nunca dará para fazer a "avaliação" de uma pessoa, da sua vida, pelo que ela escreve num blog. Se nem dá para fazê-lo com as pessoas que conhecemos pessoalmente, quanto mais sobre alguém que conhecemos virtualmente. Todos nós passamos, ao longo da vida, por situações complicadas. Não é preciso ter 40 anos para ter vivido situações difíceis. Elas podem surgir bem mais cedo. Mas, depois, há o que cada um faz com essas experiências. Ser otimista, "cor-de-rosa não significa não ter levado pancadas na vida, não significa ter uma vida isenta de problemas. E falar ou não sobre elas é ainda toda uma outra questão.

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