“Às vezes gostava de não ter uma irmã, de ser só eu”
Foi este o desabafo da Isabel, à noite, com o pai, enquanto este as estava a adormecer. E antes disso, entre lágrimas disse algo como “não quero a Luísa”.
Duas coisas: primeiro, a Isabel adora a irmã. Vê-se mesmo que se sente orgulhosa dela e até mesmo quando lhe perguntaram se ela queria outra mana, ela respondeu, da forma mais querida do mundo que não, que queria a Luísa, sem ter percebido que a pergunta era se queria ter mais uma irmã. Depois, disse que queria 5 manos.
Segundo: é muito mas mesmo muito importante que ela se expresse tão bem. Que se sinta à vontade para o fazer com os pais. É que nunca deixe de sentir que pode dizer tudo, desabafar sobre o que precisar.
Claro que nos custa ouvir algo assim; claro que pensamos logo em que é que estamos a falhar.
Quando já dormiam, conversámos sobre isto. A Isabel não parece, muitas vezes, uma miúda de 4 anos. Tem conversas e uma sensibilidade que não esperávamos tão cedo. Fala sobre a morte, tem raciocínios que nos deixam de boca aberta, confronta-nos com coisas que dissemos há meses, analisa e faz perguntas: “gostava que me explicasses, por favor, porque eu não percebi, por que é que antes disseste que a máscara era cara, mas depois compraste outra que foi mais cara do que aquela que vimos”. Sim, esta foi a última que me apanhou desprevenida. Caraças.
Posto isto, com este desabafo dela, ficámos com a certeza de que temos de ter um bocadinho mais de cuidado com a atenção que lhe damos. E em pequenos pormenores. Tentamos muitas vezes justificar com “a mana é mais pequenina, amor, ela ainda não percebe” para desculpabilizar a Luísa de algumas coisas e se calhar temos de começar a atribuir mais justiça na hora de resolver algum conflito. Peço à Isabel para deixar a Luísa chegar ao elevador ou para ser ela a desligar a luz e essas pequenas coisas acabam por lhe tirar também o prazer de ser ela a fazê-las. Claro que depois fico felicíssima quando a vejo a pegar na irmã ao colo para ela chegar ao botão do número 5, mas se calhar a Luísa terá de ficar a chorar mais vezes e ser a Isabel a fazê-lo. Eu sei que isto está ali a roçar já o “não assunto” mas eu acho que é nestes pequenos pormenores que nós vamos acumulando frustrações, até explodirmos. Foi claramente o que se passou com a Isabel. Ela acumulou e explodiu quando estava mais vulnerável, com sono e cansada.
Ainda bem que o fez. O comentário está ao nível do “não gosto da mãe. És má é feia”, não corresponde exactamente à verdade, mas pelo menos demonstra necessidade de atenção. Vou/ vamos tentar ter mais cuidado. O pai já a levou ao cinema a ver o filme do dragão entretanto e já foi com ela ao Benfica e costuma ser ela a ir às compras também, mas se calhar tem de haver mais atenção aos detalhes, no dia-a-dia.
O que fariam? O que acham disto?
Obrigada!