Estamos aqui reunidas para nos despedirmos, com muita tristeza, de um casaquinho da Zara que a Irene tem. Sim, ainda tem, mas ele agora vai ter que partir. Vai ser lavado, passado e posto com outras roupas que já não servem à minha filha, dentro de uma caixa de plástico grande do Ikea e arrumado na cave lá em baixo, na garagem.
Passámos bons tempos com aquele casaquinho. Muita pêra nas mangas, sopa, bolachas, baba, pó, pêlos de gato. Muitas boas fotografias, boas sestinhas, muitas vezes que foi pendurado a apanhar um bronze na janela para ficar bem seco... Agora, tudo isso, acabou.
Foram três meses intensos. Em que, todas as semanas, foi usado e abusado. Amado e babado. Não foi a morte que separou este casaquinho do corpinho da minha filha, mas o tempo.
Custa. Custa termos roupas tão giras (não tão giras como as da Joana Paixão Brás, que a minha filha anda de fato de treino e de long sleeve) e irem a abrir tão rápido. Às vezes até nos armamos em parvas, queremos que voltem a servir e lá andam os nossos filhos apertadinhos durante uma meia hora só para usarem aquela roupa uma última vez, enquanto estamos a fazer o nosso luto.
Hoje estamos aqui para enterrar este casaquinho na cave, mas já com o coração muito sofrido a pensar no gorro de ursinho que, qualquer dia, também vai "a abrir". Já corri a Benetton a perguntar se sobrava algum em todos os tamanhos acima, mas nada. Por mim, ela usaria este gorro até sair da casa dos segredos (lá usam muito os gorros, deve ser para disfarçar o cabelo oleoso ou assim).
Mãe sofre.
Adeus casaquinho da Zara. Vamos ter saudades tuas. Mais eu que a Irene, porque ela ainda não se lembra de nada de jeito. Agora, vou vestir-lhe a porcaria do gorro, mesmo em casa, para render mais tempo.
Suspiro.