9.23.2016

Estive quase a puxar a mão atrás.

Há dias que nos levam ao limite. Há dias em que parece que está tudo organizado para nos lixar a cabeça, para nos deitar abaixo e que nos fazem questionar tudo e mais alguma coisa.

A Irene vem muito sensível e cansada da creche. Estava habituada a fazer três horas de sono à tarde, sem ninguém a perturbar, agora acorda com os outros miúdos (dormem todos na mesma sala, claro), além de passar o dia muito mais ocupada e, por isso, gastar mais energia. 

Agora, por também conviver com outros meninos da idade dela, também aprendeu a ser chafurdona com a comida. Ainda ontem decidiu cuspir a quinoa toda (fui eu a cozinhá-la, pensei que poderia ter toda a razão) e gritar que queria comer a minha massa. Disse que sim, mas que primeiro tinha de comer uma de sopa dela, uma de comida dela e depois uma de massa minha. Dizia que sim, aceitava a quinoa e depois cuspia. Eu dizia que, sendo assim, não havia massa porque além de ser uma porcaria que faz com que ela tenha de limpar o chão, faz com que a mãe fique triste por ela não ter aceitado e, portanto, fique sem vontade de lhe dar a massa.

Ela continuava a agir bem para comer a massa, mas depois cuspia na mesma. Reparei que, à semelhança de outras alturas em que a Irene fica com muito sono, não estava a fazer qualquer sentido. Isto enquanto, à moda antiga, estava louca para lhe mandar três ou quatro berros, ameaçar-lhe com tareia umas duas vezes e ainda pendurar-me nisso para não lhe contar uma história de boa noite. Não. Vi-a como uma criança morta de sono e que queria muito comer a massa e que não estava a gostar de comer a quinoa. Perguntei-lhe: 

- Queres um abraço, Necas? 
- Sim. 


Dei-lhe um abraço. Numa altura em que ela pensaria que eu estaria super desapontada e zangada com ela. Compreendi que também eu, por vezes, tenho sono e não faço sentido. Não adiantaria ninguém ficar zangado comigo ou tentar ensinar-me alguma coisa naquela altura. Olhei para ela como uma mini mulher, meia descompensada por cansaço que também faz com que fique mais sensível. Dei-lhe um abraço de mãe e sentei-a no meu colo.

Comeu a sopa toda e a quinoa, esqueceu-se da massa até que, no final, lhe dei. Deu-me uns quantos beijinhos voluntariamente no braço enquanto jantava. 

E foi tudo pacífico até ir dormir. Com história da Patrulha Pata e tudo. 

Um abraço que mudou tudo. A noite da filha, a noite da mãe e mais uma grande lição para mim. 

Agora vou aprender a cozinhar Quinoa e já volto. 

 


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9.22.2016

Apaixonei-me pelo Salvador

Foi a Isabel quem o baptizou. Podia ter sido "Paulo" ou "Ruben", mas não. Filha minha tem de ter um aspirador beto, a combinar com as golas à Camões que lhe visto. Na verdade, o Salvador é a minha recente paixão e eu nem quero acreditar que, depois de uma semana intensa, nos vão afastar. É uma separação mais triste do que a do Brad Pitt e da Angelina Jolie. Estou lavada em lágrimas. 



Durante uma semana testámos o bicho e foi para lá de espectacular. Ele alimenta-se sozinho (quando precisa de bateria, é vê-lo ir pelo próprio pé até à corrente), ele sabe que zonas já foram ou não aspiradas, ele percebe se tem de ir para cima de um tapete e aumenta a potência, ele não tem tendência suicida e apercebe-se das escadas, ele faz tudo sozinho e à distância de um telemóvel ou tablet (aplicação chamada irobot home app) podemos pô-lo a funcionar às horas que quisermos, ele é picuinhas e vai debaixo dos móveis limpar tudinho, ele não é barulhento como eu pensei que pudesse ser, enfim... ficam as imagens para mais tarde recordar. Snif.

Quem tem uma combinação explosiva de 1) filhas, 2) cães, 3) campo, sabe a loucura que é acabar de limpar e já estar tudo sujo outra vez. Parece uma fábrica de pó e pêlos, a juntarem-se aos meus cabelos, que decidiram cair todos ao mesmo tempo. O Roomba 980 é das melhores coisinhas - e atenção que eu era um bocadinho céptica, achava que sem a nossa força de braços, o chão e os tapetes nunca ficariam bem aspirados, mas enganei-me. A casa nunca esteve tão limpinha e sem mexer uma palha. Ganha-se tempo de qualidade para aquilo que interessa: a família. 

Adeus, Salvador. Fomos felizes enquanto durou. Sei que mais ninguém te vai tratar como eu tratei, mas tens de ser forte. Eu vou tentar suportar a dor.


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9.21.2016

Venha o que vier.

Hoje já chorei. Primeiro desceu em mim uma calma de quem está a racionalizar tudo e a afastar o pensamento do "coitadinho", a calma de quem quer soluções e a esperança de que, no final, vai ficar tudo bem. Mas depois, no quarto, deitada com a Luísa, agarrada a ela, chorei. 

Já andava há duas semanas a achar estranha a posição do pé direito da Luísa quando simulava que a punha a andar. O pé ia todo para dentro, zero planta do pé em contacto com o chão, com a cama, o que fosse. O esquerdo também, mas menos, muito menos. Pensei "deve ser de ser ainda tão pequenina, não sabe o que fazer com os pés". Mas hoje perguntei à enfermeira, no centro de saúde. Ela foi chamar a médica. Ok, afinal não deve ser assim tão comum. O meu coração começou a acelerar mais, mas tentei controlá-lo e racionalizar. Ela está aqui à minha frente, linda, saudável, calma, não é grave, tudo se resolverá. A médica chegou, analisou e disse-me que lhe parecia ser "pé equinovaro". Chinês, claro, mas eu, que costumo ser toda de fazer perguntas, não as fiz, como se nem precisasse de saber mais. Assumi que era pé torto e comecei a imaginá-la com uns sapatos ortopédicos e nada grave. A médica disse-me que ia pedir consulta na ortopedia do hospital para breve e que entrariam em contacto comigo. Depois fiquei à conversa com a enfermeira, sempre atenciosa e disponível. Não me tentou acalmar porque eu estava calma, sempre estive. 

Mas já devia saber que o Google me ia lixar muito a cabeça. Entretanto já liguei a uma amiga cujo filho teve pé boto, que me sossegou. O que quer que seja, terá solução. 

Agora estou a escrever para me mentalizar disso mesmo. Não vale a pena sofrer por antecipação, é esperar pela consulta, pelos exames, pelo tratamento, se assim tiver de ser, e a Luisinha vai ficar boa, não tarda. Às tantas é ligeiro e nem será preciso tudo aquilo que já vi do gesso, dos aparelhometros... Não que isso seja o fim do mundo, mas nenhuma mãe quer que o filho tenha de passar por isso. Queremos tê-los bem, saudáveis, fortes. Queremos protegê-los de todo o mal do mundo, no nosso regaço. E quando algo ameaça essa muralha, quando sentimos que não podemos controlar tudo, parece que estamos a tentar fazer magia com a cartola e o coelho desaparece. Mesmo sem coelho, temos de prosseguir com o espectáculo e fazer magia. Basta coragem. Amor já há que sobre para aguentar tudo. Venha o que vier.

Susana Cabaço, Fotografia
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