Não consigo imaginar. Não quero. Cada vez que me meto, por segundos, na pele das mães que estão a atravessar doenças graves dos filhos, uma angústia apodera-se de mim ao ponto de ficar mal disposta e não conseguir comer. Se já quando a Isabel esteve uma semana internada com pneumonia (que nunca mais tenha de passar por nada igual), foi uma experiência-choque para todos...
Não devia ser permitido.
Tentei manter a calma, mas não foi fácil. Queria que ela mamasse e ela rejeitava. Na poltrona, ali ao lado, ouvia cada respiração dela mais sôfrega e o meu coração mirrava. Pela primeira vez não tive coragem de estar ao lado dela, quando foi picada. Achei que lhe ia estar a passar mais ansiedade. Ficou o pai. Eu fiquei do lado de fora da sala, a chorar muito, a ouvi-la gritar. Não foi melhor. Quis estar ao lado dela a sossegá-la com a minha voz, a fazer o que tem de ser feito, a ser mãe. A partir daí não desgrudei enquanto não a vi ficar melhor. Estive ali, durante a noite, a dar-lhe colo e aconchego sempre que precisava. A arder de febre, a chorar com dores. Lá percebemos que algo a estava a incomodar. Era o catéter. Fomos mudar o catéter, nova picadela. Dessa vez não fugi e falei-lhe com a voz mais calma que me ouvi na vida.
Ter um filho doente, faz doer-nos, além da alma, o corpo. Também nós ficamos doentes, mas fingimos que não. Fingimos que temos super-poderes e até chegamos a acreditar nisso. Mas, se pudéssemos, desmoronaríamos que nem uma torre de cartas. Não podemos. Nós não. E ficamos ali, firmes, fortes, a dar-nos a cada segundo. A tentar apaziguá-los. A tentar esconder-lhes a dor. A ser palhaços, para eles se distraírem. A pedir que sejamos nós e não eles. A querer trocar, sem hesitar um segundo.
Ter um filho doente, seja com uma pneumonia ou uma simples virose, faz-nos ser Mães. Mães daquelas que afastam os lobos nos sonhos deles. Mães com maiúscula. Mães feitas de camadas, impermeáveis, indestrutíveis. Mesmo que tenhamos uma lágrima prestes a sair.
Tê-los a arder em febre, no nosso colo, moles, com um choro em gemido que dificilmente conseguimos confortar, é dilacerante.
Passa. Não sei se nos torna mais fortes, como diz o ditado. Nem tudo o que não nos mata nos faz bem. Mas isto é ser Mãe. É ganhar calo. É estar. É pôr o coração ao alto e acreditar que tudo vai passar. Pensar que eles vão ficar mais fortes. Que faz parte. Não tarda muito, esta fase passa. Virão outras, das cabeças partidas. Nunca mais teremos descanso.
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*imagem WeheartIt |
Ser mãe é conviver com o risco, toda a vida. Aguentemo-nos. Finjamos que temos super-poderes para que ao menos eles acreditem.