4.03.2015

Afinal Havia Outra (#18) - 1640 gramas

Já comecei e deixei a meio este post inúmeras vezes. Não é fácil escrever sobre aquela que foi a tua primeira casa. Foi lá que viveste até ao dia 21 de março, o dia do início da primavera, o dia da tua alta. Lembro-me bem desse dia. Chovia a potes e aqueles breves minutos à espera que o pai parasse o carro à entrada das urgências pareciam uma eternidade. Já no carro, sentei-me ao teu lado no banco de trás, agarrada aos teus pequenos dedos olhava para ti e sentia-me a mãe mais feliz e mais insegura do mundo. Gostaria que entendesses o que sinto cada vez que vamos à maternidade, é uma mistura de gratidão e angústia, um nó na garganta e uma sensação estranha de conforto, a vontade de seguir em frente mas ter medo de esquecer. Quando passo por lá à noite tudo isto torna-se ainda mais intenso... As noites, as noites eram o pior, António. Saíamos para comer qualquer coisa e na maioria das vezes ainda voltávamos às 10 ou 11 da noite para te desejar boa noite. Estacionávamos nas ruas já vazias, completamente exaustos mas sempre a passo acelerado, cumprimentávamos o segurança que já sabia de cor o número do teu berço e seguíamos pelos corredores fora, eu com o chá de funcho na mão, o pai carregado com esterilizadores, bombas de leite ou a ceia preparada pelas avós. Desinfetávamos as mãos, deixávamos os casacos no cacifo e sentávamo-nos finalmente ao teu lado. Na sala, agora escura e quase silenciosa - não fosse o barulho constante das máquinas e do rádio propositadamente lá colocado durante a noite - ficávamos nós os três e os outros bebés. Aproveitávamos essas horas calmas para falar com as enfermeiras sobre a tua evolução e tirávamos dúvidas sobre como cuidar de um bebé tão pequeno em casa. Saímos de lá com uma boa preparação, aprendemos mais naquelas noites do que em todos os livros e cursos de preparação para o parto juntos. 

Às enfermeiras ganhámos um carinho especial, elas não se limitavam a tratar de ti, elas cuidavam de ti, davam-te colo, falavam contigo... Esméria, Ângela, Manuela, Rute, Tânia, Ana Lúcia, Sílvia, estes serão sem dúvida alguns dos nomes cujos rostos jamais esqueceremos.

Rita Carvalho

Ajudem-me a dar cabo deste sacana!

É o inimigo número um de recém papás. É o inimigo número um de mães galinha. É o inimigo número um de bebés que demorem imenso tempo a adormecer e acordem com o cair de uma agulha.

Ajudem-me, por favor: se foram capazes de inventar um aparelho que aquece comida, sem precisar de fogo, como é que não foram capazes de fazer com que a porta do aparelho não fizesse barulho?????????



É este o sacana! É este que já me provocou algumas discussões familiares por eu achar que tem o barulho equivalente ao de uma bomba atómica e achar necessário fechar sempre a porta da cozinha para o utilizar enquanto a Irene está a dormir. 

Os pipis (salvo seja) até se aguentam, não fazem muito barulho. Agora a sacana da porta? Porquê? Por que é que faz tanto barulho?

Uma vez o meu marido até achou pertinente fechar o microondas às quatro da manhã. Claro que acordou a malta toda. 

Já tentei todas as manobras possíveis e imaginárias, mas mesmo com cuidado aquilo faz um estrondo enorme. 

É só o meu que é parvalhão?

Sou eu que sou passadinha?

Os vossos também fazem barulho?

Ajudem-me a dar cabo deste sacana!

4.02.2015

Um fenómeno muito estranho se passa nesta casa.

E não me estou a referir a este texto de hoje, em que choveram dezenas de comentários de fazer chorar as pedras da calçada. OBRIGADA por nos amarem tanto quanto nós vos amamos. OBRIGADA por nos ouvirem - falar para uma parede não teria a mesma graça. Convosco não há monólogos e até já sei de cor vários nomes de quem nos acompanha e isso só pode significar que já somos um bocadinho família.


O fenómeno de que vos quero falar é outro e passa-se dia sim, dia sim.

Ponho a comida da filha a aquecer. Provo. Está frio. Ponho a comida a aquecer de novo. Está a escaldar. Deixo arrefecer. Ponho-me a entretê-la e às vezes dou-lhe fruta ou pão. Esqueço-me da comida. Fica frio. Ponho a aquecer. Fica no ponto. Ela não quer.

É isto.