2.16.2015

11 meses assim

11 meses feitos hoje. 
A manhã foi passada com a avó, a tarde com a mãe. Não houve creche para ninguém: conjuntivite. Agora dorme a terceira sesta do dia. Sempre bem-disposta, risonha, a dançar e a brincar.

Podia escrever o quão felizes têm sido estes 11 meses, o quão cúmplices somos. Mas, em vez disso, deixo-vos as imagens desta tarde.








Folheou o livro dos 11 meses vezes sem conta (todos os meses lhe compro um) e gostou de tocar nas diferentes texturas, menos na da pasta de dentes, um bocado pegajosa.

Com um nariz de palhaça do outro lado e um carrinho do pato Donald que ela adora, incentiva-a a atravessar o túnel. Atravessava e roubava-me o nariz.






Recompensa: beijos e mais beijos. Tardes assim são impagáveis. 

Afinal havia outra (#08) - Viver no campo ou o elogio das coisas simples

Lá fora, nos dias quentes cheira a flores e a alfazema; nos frios, a terra molhada. E a chaminé dos vizinhos não cheira a fumo, mas a pão quente. Cá dentro, as tábuas de madeira rangem como quem se queixa da idade e o teto não é baixo, mas aconchegante. 


A primeira vez que a Maria Rita entrou na nossa casa ainda morava na minha barriga. Com uma noção espetacular de timming, achámos que bom bom era fazer a mudança com uma recém-nascida nos braços. No dia em que ela nasceu, o pai trouxe os avós e os tios a conhecerem a casa e eu, que sou dada a atribuir significados especiais às coisas, achei que isso ia dar sorte – vá-se lá saber porquê!  
Tinha apenas uma semana de vida quando a trouxemos cá. Lembro-me de olhar para ela, toda enroscadinha no sling, enquanto esperava que nos abrissem a porta, e de não saber se aquela sensação quentinha vinha do corpo dela colado ao meu, ou do coração, que transbordava de coisas boas.
Quando me perguntam sobre como é viver numa aldeia normalmente digo só que adoro, porque na verdade apetecia-me fazer poesia – soubesse eu fazer poesia! – sobre isso. Eu gosto de tudo. Tudo. E para mim os defeitos nas ombreiras das portas ou nas esquinas da parede não são imperfeições, são traços de personalidade. 

A nossa casa não tem número, tem nome. E eu acho que isso lhe dá mais alma – mesmo que se chame “Casa da Mó” e mó nem vê-la! Na verdade, na parede lê-se “Cãsã dã Mó”, mas isso é porque os outros donos tiveram preguiça de esperar pelos azulejos dos “A” normais e compraram com til…
Aqui, aprendi que a felicidade não é algo abstrato que paira no ar ou que habita os nossos desejos. Ela está nas coisas mais simples, em momentos específicos do dia-a-dia. Quando as minhas filhas correm caminho fora até casa dos vizinhos sinto uma felicidade imensa por toda esta liberdade, por terem espaço para crescer... com espaço. Por saber que toda a gente aqui lhes quer bem. A Avó ‘Melita, o Ti’ Toino, a Ti’ Margarida. Todos. Uma família que nos foi dada como um prémio na raspadinha: não fizemos nada, tivemos só sorte – muita sorte - e eles estão aqui para nós.
Ou até quando o portão da vizinha fica aberto para podermos ir até lá com as miúdas, porque elas adoram apanhar laranjas e limões e espreitar as galinhas. É como se tudo fosse um bocadinho nosso. As próprias hortas acabam por ser também um bocadinho nossas, porque os legumes e as frutas vão aparecendo à nossa porta, consoante o que a terra dá. E nós também deixamos o portão aberto, para um café, para uma conversa, para verem as miúdas e saberem que estão melhores da constipação.   


E é tudo bonito e perfeito? “Mães que sabem”, esta que vos escreve nasceu e cresceu em Lisboa e contava os dias para ir de férias para a “terra”, para fugir da cidade. E se há sonhos que estão tão longe de se tornar realidade, porque é que não agarramos com as duas mãos aqueles que só dependem de nós? A nossa casa custou o mesmo que um T2 nos arredores de Lisboa. Depois, claro, há as portagens, a gasolina e o saber que não levo menos de 35 minutos a chegar a casa. Mas para mim, compensa cada minuto e cada cêntimo. Porque no final do dia regresso a casa, ao sítio onde somos mais família, ao sonho que um dia tivemos, ao chão que range e ao teto que aconchega.

Catarina Raminhos, mãe da Maria Rita e da Maria Inês

Manual de sobrevivência para uma mãe que está em casa

Faz dia 21 de Março um ano desde que tomo todos os dias conta da minha bebé e em casa. Sou uma privilegiada e, ao mesmo tempo, uma óptima candidata a um esgotamento nervoso.

Há amor, é verdade, há muito amor, mas... também há muito, muito enervamento.

É como dizem os concorrentes dos reality shows: "são 24h sobre 24h, voz, ai... Teresa!"

Ainda bem mas... MEU DEUS!

Fica aqui um resumo das coisas que me apercebi que nos fazem bem (às duas e, vá, aos três porque o meu marido também leva por tabela, obviamente):





1- Tomar banho todos os dias

Tem um efeito especial em nós - já para não falar da higiene, claro. Tomar banho faz-nos sentir mais capazes, mais bonitas, com mais força e com menos cansaço. Parece que é uma espécie de reset. Mesmo quando a noite do dia anterior foi tão calminha quanto ver pessoal a dançar Afrobeat, ganhamos uma meia hora de energia e duas de paciência. 

Mães de recém-nascidos: aproveitem uma altura em que eles estejam mais calminhos, deitem-nos na espreguiçadeira ou numa alcofa de maneira a que consigam vê-los da banheira com a cortina um pouco aberta e pronto. Se for preciso alguma coisa, não demoram a lá chegar. Podem desfrutar de um banho calmamente. E sim, nós ouvimo-los a chorar, mesmo que eles não estejam quando estamos longe deles. 

2- Mudar o pijama ou, idealmente, vestir roupa confortável mas não de dormir.

Mais uma vez: "já para não falar da higiene, claro". Se nos aprontássemos todos os dias um bocadinho, mesmo que não saíssemos de casa era mesmo óptimo. Vestirmo-nos faz com que estejamos mais perto daquele papel que desempenhamos numa vida mais "activa" (refiro-me a quando vamos trabalhar) e vamos buscar também as qualidades que mais usamos nessas alturas: organização, responsabilidade, paciência, etc. Não digo pintarmo-nos loucamente como se fossemos a Paula Bobone ou como se soubéssemos que íamos encontrar o amor da nossa vida, mas um creminho hidratante e mudar a roupa, já é bom!

3- Ter um plano diário.

Por muito insignificante que seja: ir aos correios, passear ao jardim, ter de ir à FNAC, etc. Ter um plano diário faz com que consigamos diferenciar os dias uns dos outros e também que nos dê algum objectivo além de lidar com o bebé.

Sentimo-nos "úteis" e levamos o bebé connosco a passear. Um óptimo dois em um. É muito apetitoso gastar dinheiro, principalmente no Inverno que saímos mais para centros comerciais mas façam como eu e não tenham dinheiro na conta. É isso.

Se os fãs da Sofia da Casa dos Segredos também que quiserem passar dinheiro, eu dou o meu NIB sem problemas. Também sou uma mãe coragem e leoa, o que quiserem que justifique.

Sei que é uma segunda referência ao programa, mas é o que se vê cá em casa à noite. Não digam ao meu marido que escrevi isto que ele gosta de dar aquele ar de que é muito machão e depois delira com estas bimbalhadas como eu.

4- Ter uma rotina de arrumação da casa.

De preferência de manhã quando o bebé ainda não está rabugento. Não digo dar uma volta à casa tipo Cinderela sobre o efeito de bebidas energéticas, mas dar aquela "voltinha": fazer as camas, organizar a casa de banho, tirar e por a loiça na máquina, etc. Fingir que se limpou tudo. Vocês sabem como é, que eu sei. Até podem acender aquelas duas velas grandes do Ikea para cheirar a lavadinho e tudo. 

5- Dormir sempre que o bebé dorme ou, pelo menos, uma das sestas.

É mesmo muito muito complicado irmos dormir quando estamos cansadas. Andamos a manhã inteira a sonhar que o bebé adormeça e, finalmente, quando adormece ficamos tipo estúpidas a olhar para a televisão a ver programas tão pouco produtivos como o FaceOff da Sic Radical. Temos de ser mais espertas e de nos obrigar a ir dormir. É como ir ao ginásio. Sabemos que nos vamos sentir bem, mas só no fim, claro.

6- Não querer ser muito produtiva.

Se fizermos muitos planos e quisermos acabar muitas coisas, além de ser muito complicado conseguirmos e de, no final, nos podermos sentir menos capazes, acaba por ser contraproducente quando o bebé estiver mais rabugento: "ainda tenho que ir fazer isto, ainda me falta acabar aquilo... assim não consigo fazer nada!!"

Logo se vê. Eu, por exemplo, há um mês que estou para escrever uma peça. Não é por preguiça, a sério. Estou louca para deitar as mãos à massa, mas isto de "não trabalhar", dá muito, muito, muito mais trabalho do que pensava.

7- Se o bebé está birrento é só estar lá para ele.

Está muito ligada à sugestão anterior. O melhor é mesmo dedicarmo-nos ao bebé, com tempo e calma quando ele precisa. É desesperante (para os dois) se tentar fazer algo ao mesmo tempo porque começa a vê-lo como um empecilho às outras coisas que está a tentar fazer. Aquela dica de não se olhar para o relógio quando se amamenta em livre demanda acho que se aplica em todas as outras ocasiões (menos na hora de dormir). Faz birra? Vamos a isso. Temos tempo. "Temos", mais ou menos.  Espero que o Manoel de Oliveira tenha menos tempo que eu. Começa a ser assustador.

8 -  As pilhas do bebé não duram para sempre. 

"Não dorme agora, dorme depois" - disse-me o pai de três filhos pequeninos e ficou-me sempre na cabeça.

"As pilhas vão acabar" -  para dizer como mantra nos momentos mais complicados.

O importante é manter uma atmosfera calma para os dois. 

9 - Ressalvar com os amigos com quem combina alguma coisa que tudo pode ser alterado conforme a disposição do bebé

Evita enervamentos a toda a gente, mais a nós que, geralmente, os outros chegam atrasados a tudo. 

10 - Vestir sempre o bebé 

Torna-se mais rápido sair entre mamadas e sonos e é menos um entrave a uma possível saída espontânea. Não que o bebé estivesse nu, claro. 

11 -  Ter noção de que ver televisão - ainda para mais sozinha - é uma perda de tempo. 

Estar em casa, apesar de as vezes poder ser muito difícil, é uma dádiva para se poder dar mais ao nosso bebé. Lá por estarmos "habituadas a isso", vai ser como a gravidez: vamos ter muitas, muitas saudades, "apesar de tudo". 


12 -  "Isto é só uma fase".  

É fácil desesperar quando as coisas não correm bem, mas vai haver uma idade em que vão acordar sozinhos e fazer o seu próprio pequeno almoço. 

13 - "Limpa-se amanhã".

Não deu para limpar hoje a casa? Limpa-se amanhã. Ou depois. Ou depois. O importante é aspirar para o miúdo não andar alimentado a bolas de cotão.



Mais conselhos? Acho que só temos a ganhar se trocarmos dicas umas com as outras :)

*Imagem do site We Heart It.