Tem sido uma fase particularmente difícil. No meu caso os
meses mais difíceis com o Sebastião não foram os primeiros três, como para a
maioria das mães. Tive um bebé tranquilo, que dormia imenso, que acordava para
mamar, dava um ar de sua graça e voltava a adormecer. Para mim o difícil é
agora. Um bebé de cinco meses que desde há um mês quase não dorme nada. Birras
monumentais para adormecer, no início ao fim do dia, agora ao longo do dia
inteiro, muitos despertares nocturnos, muitos pedidos de atenção durante o dia,
muito colo, muita agitação e muita resmunguice. Se antes podia sentar-me a
jantar descontraída com o meu marido, talvez ver uma série, irmos até casa de
amigos, agora tudo isso está fora de questão. Já li três livros diferentes
sobre o sono, tenho pesquisado imenso, tentei uma rotina, não funcionou, tentei
outra, voltou a não funcionar. Há dias em que não sei bem para onde me virar. O
que fazer a seguir. Se aquela é a hora em que lhe devo dar banho, se lhe dou
mama antes ou depois, se o mantenho connosco ou se o levo para a cama. Há dias
em que estou perdida com tanta informação. Em que falo ao telefone com amigas
de amigas que são mães na réstia de esperança que me digam alguma coisa que não
saiba já. Há dias em que me sento a olhar para ele enquanto chora
descontroladamente, depois de eu já ter tentado tudo, colo, mama, banho,
música, white noise, e choro também. Ou rezo baixinho. Há dias em que estou
quase quase a descontrolar-me e pego no telefone só para ouvir outra voz,
apenas alguém que me diga que vai correr tudo bem. Para respirar fundo. Mas depois
percebo que, na verdade, não está lá ninguém. E que toda a gente se pode ir
embora, excepto eu. Que o pai está em viagens de trabalho, que a avó está a
trabalhar e longe de nós, que as amigas têm pouca experiência. E toda a gente
faz aquele sorriso condescendente quando digo que tenho sono, muito sono. E até
acham estranho porque ele tem um ar tão bem disposto e dizem que vai passar.
Mas não passa. Não passa e nós, mães, não nos podemos ir embora. Não podemos
bater com a porta e voltar quando nos apetecer. Porque tudo o que queremos
naquela altura, não é de alguém que venha com mais uma teoria de como fazer o
seu bebé dormir em três dias, nem de histórias da carochinha de alguém que
tentou qualquer coisa e resultou, nem de novos conselhos para nos baralhar mais
os dias. O que nós queremos, verdadeiramente, e não temos coragem de pedir, é
de alguém que nos bata à porta, passe uma mala com um pijama e uma escova de
dentes para a mão e diga “Esta noite trocamos, vais para minha casa e eu fico
aqui.” Porque todos os bebés são diferentes e o que resulta com os outros pode
não resultar com o nosso. A única coisa que permanece é o que sentimos. E toda
a solidão, frustração e cansaço que está cá dentro, passa para dentro deles.
Como se fossem esponjas. Agora digam-me, qual é a sensação de tentar adormecer
quando se sentem desamparadas?
Joana Diogo
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