Vais
ficar viciado no colo. Na mama. Nas minhas mãos que te confortam até
adormeceres. Nos meus beijinhos pelo corpo todo logo pela manhã. No
facto de assim que choras eu pegar em ti e mostrar-te que estás em
segurança. Em adormeceres na nossa cama de madrugada quando tens noites
mais agitadas. É isto que me dizem de ti, filho. Que tens um mês de vida
mas já tens manha, que sabes manipular-nos a fazermos o que queres. Que
vais ser uma criança dependente.
És
o meu primeiro filho, não sei se estou a fazer tudo bem ou tudo mal.
Estou a fazer o melhor que sei. A seguir o meu instinto. Aquilo a que já
quase ninguém dá importância. Preferem regular-se por horários,
biberons, regras estipuladas e choros constantes. Eu prefiro seguir o
amor. Porque dar-te colo quando choras, alimentar-te quando queres e
mostrar-te que estás em segurança quando acordas no meio da escuridão e
do silêncio, é fazer-te crescer com amor. E o amor é a base de tudo.
Pelo menos de tudo o que está certo. É a base de uma infância feliz, das
hormonas que te dão leite, de uma família equilibrada e de adultos
conscientes e humanos. É o amor que vence sempre. Qualquer luta ou
batalha, qualquer medo que se atravesse à nossa frente.
Fala-se
tanto de traumas de infância, de adolescentes rebeldes, de
psicoterapeutas para resolver problemas psicossomáticos, de dizer sim ou
dizer não. Mas continuamos a cruzar-nos com pessoas que assim que olham
para nós decidem aconselhar “não o habitue ao colo”, “deixe-o
acalmar-se sozinho”, “não lhe dê mama sempre que quiser, senão não quer
outra coisa”, e tantas outras barbaridades. Pais que se queixam de não
compreender os filhos, mas que os deixam horas a chorar no berço
ignorando completamente os pedidos dos mesmos. Que fazem cursos
pré-parto, pesquisam todos os sites possíveis, lêem todos os livros
sobre bebés, mas ignoram tudo porque a vizinha lhes disse que as teorias
estão todas erradas.
Não
sei se tens manha, se me manipulas, se já vens ensinado, se nunca mais
vais adormecer sozinho ou aos dez anos ainda vais queres passar a
madrugada na minha cama. Mas sei do que precisas agora. Do que me pedes.
Do medo que tens do escuro e do silêncio. Do colo que te faz já sorrir
para mim. Do amor que tenho para te dar e da segurança que me exiges. É
por isso que vamos ignorar o mundo à nossa volta e crescer os dois no
que é certo para nós, no que nos faz felizes, com ou sem manha, mas com
muito colo pelo meio.
Joana Diogo
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