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2.11.2018

Não quero dividir a minha filha.



Não tenho muito más lembranças de andar sempre com um saco para a frente e para trás à sexta-feira e ao domingo. Era rápida a fazer a mala para a casa do pai. Eram só dois dias e a roupa que levava não era minimamente relevante. Não naquela idade.

Gostava até de voltar "à casa do pai" e de ver as minhas coisas de lá.

Como se fossem mais privadas, mais secretas. Não tinha a minha roupa, não sentia que me incomodasse levar o saco, mas não queria que a Irene passasse por isso.

Então, tanto eu como o pai dela tentamos minimizar essa gestão. Ela tem roupa na casa da mãe e do pai. A única coisa que vai de um lado para o outro todos os dias de dormida é o coelhinho com que dorme e o boletim de saúde e cartão de cidadão. De resto, claro que há bonecos preferidos que têm de fazer a viagem, daqueles que vão mudando todas as semanas.


casa
Fotografia por 
The Love Project


Por outro lado, não me parece saudável esta divisão tão estanque dos objectos. Lembro-me que sentia que era duas pessoas, mudando até de voz consoante o pai com quem estivesse. Eles são muito diferentes um do outro, também tive que me adaptar muito. 


Queria que a Irene visse as coisas como fluídas. A casa do pai e a casa da mãe são só sítios dela e ela não está dividida. Já vos contei que não falamos mal um do outro, ok, mas como continuar esta filosofia noutras coisas?

A roupa do pai e os pijamas da roupa do pai que vêm para cá, vão devolvidos. A roupa da mãe também. E há brinquedos que não queremos que saiam das nossas coisas senão "fica sem eles". Por isso a solução que temos arranjado é: duplicar quando necessário.

A Irene tem uma viola pequenina (acho que é um ukelele, afinal) que ama na casa do pai e, para não andar com ela para a frente e para trás, comprei-lhe uma também. Tem a azul na casa do pai e a rosa na casa da mãe.

Vamo-nos entendendo aos poucos.

O ukelele chega na terça-feira, vai-se passar. :)

Cabelo por: Nela Cabeleireiros


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2.05.2018

E definir a custódia?

A brincar, a brincar já passou quase um ano desde "o meu" divórcio. Nem sempre é fácil, mas tanto o pai da Irene como eu continuamos a ter uma das coisas que mais nos ligou: o humor. É o que nos tem ajudado a lidar periodicamente com birras, maus humores ou incompreensões de parte a parte (se nos entendessemos mesmo bem, teríamos continuado juntos, "lolinho"). 




Como os meus pais também se divorciaram, não me custou muito imaginar as coisas pela perspectiva da Irene, o que eu queria para ela, o que eu acharia melhor para ela de acordo com os meus princípios e aquilo que quero transmitir à Irene adaptado à minha visão da família (podemos estar divorciados, mas acho que somos uma família na mesma).  Não teço aqui comentários a outras maneiras de organizar as coisas, cada família saberá melhor o que funciona para a(s) criança(s) e para os adultos envolvidos. 

Apesar do Frederico e eu termos acordado que ele poderia ver a Irene sempre que quisesse durante a semana desde que dormisse em minha casa (claro que se um dia quisesse dormir com ela, nunca diria que não), acordámos que o cenário standard seria: todas as quartas-feiras a iria buscar à escola e depois a levaria a minha casa para jantar; e que, de resto, seria fim-de-semana sim, fim-de-semana não. 

Porém, achei que, para a Irene, passar do registo em que estava para este registo abruptamente dadas todas as outras mudanças envolvidas (deixar de viver com o pai, por exemplo) seria demasiado intenso e, por isso propús irmos mais devagarinho: desde que nos separámos até agora, a Irene dorme todas as sextas com o pai e vem ter com a mãe ao final da tarde de Sábado. Assim tem metade do fim-de-semana para cada um e tem sempre um dia por semana, todas as semanas para sentir o pai a dar-lhe banho, a adormecê-la, a cozinhar para ela... 

No entanto, tem vindo a crescer em mim outra perspectiva. Não sendo hipócrita, claro que a nível de gestão de tempo é muito mais prático ficar um fim-de-semana para cada um - tanto para poder passear sem a Irene como para poder passear com a Irene. Neste momento, tendo só a tarde e a manhã de domingo para ir aos avós ou para passear com ela, cada escolha se apresenta como uma decisão importante por ser "o meu fim-de-semana com ela". 

Idealmente, em breve iremos começar a cumprir o acordo tal como tínhamos previsto. Sendo que nada é estanque. E qualquer excelente ideia se sobrepõe e é conversada. A Irene tem a sorte de ter dois pais que - independentemente dos altos e baixos - comunicam um com o outro e, por isso nada precisa de ser tão recto e castrador. 

Aquilo que sei é que nenhum de nós alguma vez irá falar mal do outro em frente à Irene. Nunca o desautorizaremos e não a tentaremos virar contra o outro. E isto, para ambos, é regra de ouro. Seja qual for a birra do momento entre os dois - se houver - a mãe da Irene é sempre maravilhosa e a melhor mãe do mundo e vice-versa. 

Fotografia: Yellow Savages 

Mais uma mudança. Tudo com calma. 



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6.11.2017

Primeira noite com ela na casa do pai (e primeira noite sem ela).

Há uns bons meses, quando fantasiava com a primeira noite sem a Irene, estava longe de imaginar que seria por me ter separado e por ela ir dormir à casa do pai. Apesar de termos concordado que fico com a custódia dela, que ela vai fim-de-semana sim, fim-de-semana não para a casa do pai, todas as sextas e durante a semana sempre que o pai quiser (desde que a traga a hora de iniciar a rotina de sono), as coisas têm ido devagarinho.  

Assim que o pai teve o quarto dela pronto na "casa do Pai", fiquei entusiasmada por poder incentivar a dormida. Não quero que ela perca a ligação com o pai enquanto cuidador e fique só pai "de fim-de-semana". Tudo isso depende da relação que construirem os dois, mas dormir em casa do pai é fundamental, o pai cozinhar para ela, dar-lhe banho, verem os dois televisão, fazerem planos... 

Estava feliz por ambos e ainda estou. A Irene precisa de sentir o toque do pai, o cheiro do pai, ouvi-lo gargalhar, fazer as brincadeiras que só eles sabem, sentar-se no colo do pai, pentear o pai, pregar-lhe sustos, ver o amor profundo nos olhos do pai... Só se vêem essas coisas estando, sentido, com calma. 

Ontem foi a primeira noite na "casa do pai" e foi também a nossa primeira noite separadas. Estava confiante que iria ser simples, mas não foi. Quando a deixei lá, ele fez-me notar que dei umas 3 vezes o mesmo recado e acabou por me sair (surpresa) "isto não está a ser fácil para mim". Facilmente me desfiz em lágrimas enquanto "corria" para a saída (a Irene não viu nada) e disse: "é a primeira vez que durmo sem ela, não é fácil". 

Dei-me uns minutos de tristeza esquisita. Porque não era tristeza, era... Desconforto. Fui eu que incentivei a dormida, quero muito que ela durma mas... e quando chegasse a casa e visse o quarto dela vazio? 

"Ela está com a outra melhor pessoa para cuidar dela em todo o mundo".

Segui e fui correr. Corri 5 kms e passou-me (reportagem no meu stories no meu instagram). Fiquei feliz pelos dois, apesar de ter sido difícil adormecê-la. Ela percebe que quando está com o pai que é o tempo dos dois e que, quando está comigo também. Não chamou por mim. E por que haveria de o fazer? :)

Voltou hoje às 11 da manhã. Tranquila. Descansada. Sem saudades minhas. Feliz. Pronta para outra e eu também.  






Coisinhas giras: 

Fotografias - Joana Hall


Colar do coração e brincos - Our Sins 

Relógio - Timex 


Para ler: 


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