Andamos a negligenciar isto. Às vezes por opção, na maior parte das vezes sem possibilidade de escolha. As crianças passam menos tempo ao ar livre na rua do que um recluso. Isto devia fazer-nos pensar. Aceitamos, sem muito a fazer, já que o tempo não estica entre o corridinho trabalho-casa, que a rua fique reservada para o fim-de-semana (e às vezes só quando não chove...). Aceitamos que, nas escolas, isso não seja uma prioridade. As crianças vêem a luz da rua no trajecto casa-escola e na maior parte das vezes dentro de um carro ou de um transporte público. Achamos normal que, em muitas creches, os miúdos não vão à rua antes de terem 2 anos, com a desculpa de que nem todos andam pelo próprio pé ou de que "alguns pais não querem, porque podem constipar-se (what?!)".
Às vezes, num país ainda por cima, com um clima convidativo, há escolas em que os miúdos só saem à rua, ao recreio, lá para o fim da primavera. Continuamos a sacudir a água do capote, a achar que é um problema menor, quando todos os estudos indicam que é muitíssimo importante! E É PRECISAMENTE O CONTRÁRIO! "A brincadeira no exterior, nomeadamente em contacto com a natureza, tem implicações ao nível de neurotransmissores como a serotonina. “As emoções positivas que advêm de brincar nestas condições estimulam até o sistema imunitário, em vez de o enfraquecer como muitos pensam”, afirma, explicando que “a serotonina está associada a este brincar no exterior, sujar e desorganizar a arrumação da vida certinha e limpinha” ", como explica Helena Águeda Marujo neste artigo do Observador.
Segundo um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, brincar na natureza tem efeitos benéficos uma vez que uma bactéria presente na terra (a Mycobacterium vaccae) ajuda a ativar a serotonina , contribuindo para a regulação do humor, sono e apetite.
Segundo um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, brincar na natureza tem efeitos benéficos uma vez que uma bactéria presente na terra (a Mycobacterium vaccae) ajuda a ativar a serotonina , contribuindo para a regulação do humor, sono e apetite.
Sem contar que a luz do dia é fundamental para o ritmo cicardiano, que, por sua vez, influencia todos os ritmos fisiológicos do corpo humano, a digestão, o crescimento, o sono, a renovação de células, etc, etc, etc. Se há problemas a nível do sono, é possível que uma das causas seja a privação de luz da rua (e esta?). "Para que tenhamos reservas satisfatórias de melatonina durante a noite, temos que aumentar a nossa exposição à luz durante o dia. Uma caminhada de uma hora ao sol da manhã, por exemplo, já garante um bom índice de produção de melatonina durante a noite, a luz controla tanto o desencadear do sinal como sua duração. (POVOA, 1996) in "Luz, sono e saúde", de Sílvia Maria Carneiro de Campos - artigo completo aqui.
Por todas estas razões, tenho pena das crianças que não vão à rua. E dos pais delas que, muitas vezes, não têm outra hipótese e que transportam esse peso (transportei-o durante o primeiro ano da Isabel na creche, quando nem sempre dava tempo de a levar a passear durante a semana).
Lamento também pelos que não permitem que os filhos vão à rua, na hora do recreio, por receios pouco informados, na minha opinião, e que, por isso, limitam que os filhos dos outros vão [mas também não percebo por que razão não há alternativa para que uns vão com uma responsável e outros fiquem na sala, com outra].
Além disso, eu tenho horários privilegiados, por isso, posso levá-las ao parque depois da escola.
Mas e se/quando deixar de ter?
O que posso fazer para que elas não respirem ar puro só ao fim-de-semana?!
O que podemos, todos juntos, fazer em relação a isto para mudar mentalidades e exigir que o ensino veja como premente e extremamente importante a vida ao ar livre, a brincadeira ao ar livre?!
[Não são perguntas retóricas, ajudem-me a pensar. Ajudemo-nos].
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