1.05.2016

Mas têm sempre de me chamar mãe?

Adoro que me chamem de mãe... adoro! Tudo começou com as enfermeiras do hospital (acho que até foi nas aulas de pré parto) e adorei. 

É esse um dos meus novos papéis, sou mãe e adoro.

Agora... sempre que ligar para uma escola para saber das mensalidades têm que me chamar mãe e mamã 48 vezes?



Eu bem sei que é porque não querem decorar o nome de toda a gente e porque assim parece tudo "muito familiar e amoroso", mas já me enerva. Vou começar a chamá-las de "funcionárias", tipo isto: 

- Bom dia XXXX.

- Olá, bom dia, estou a pensar em inscrever a minha filha em Setembro e vai ter dois anos e meio, preciso das informações normais para poder tomar decisões, etc.

- Olhe, mamã, a minha colega que costuma tratar disto, não está cá, mãe. Mas, mãe, posso dar-lhe algumas informações que jugo serem correctas para a mamã ficar a saber. Pode ser, mãe?

- Ok, funcionária. Diga lá o que souber na mesma, funcionária. Aqui a mãe (não a sua, apesar de insistir em tratar-me assim), quer muito saber, funcionária.

Será que está comprovado que ao chamarem-nos de "mãe" que amansamos? Reparo que quando é a pediatra da Irene a dizer que fico a sentir-me quentinha por dentro e acalmo-me um bocadinho, mas ao telefone e tantas vezes!!!!!

E vocês, mamãs? Gostam deste mamã em excesso ou sou eu que tenho tido azar, mamãs? Ok, mamãs? 

Mães que odeiam ser mães

Uma amiga disse-me para escrever no google "odeio ser mãe" e ver o que de lá saía. Alertou-me para o facto de haver blogs de Mães que odeiam ser mães. Calculei que as houvesse, mas nunca me passou pela cabeça que poderiam ser tantas. De facto, apesar da minha experiência ser altamente compensadora, faz sentido haver casos em que não o é. Pessoas que não sentem o tal amor incondicional e que se arrependeram do passo que deram. É difícil, estando no pólo oposto, compreender o que está na outra margem. Mas tento não julgar. Só imagino o inferno que deve ser confrontarmo-nos, todos os dias, com um papel para o qual não somos desenhadas. E que papel! O mais importante de todos, aquele que define e molda a vida de outra pessoa, por quem somos responsáveis. Não consigo imaginar (até dói) o que poderá ser olhar para um bebé, para uma criança, que nos tem como ídolos, como referência máxima, que precisa tanto de nós, que nasceu de uma decisão nossa, sem ter culpa de nada... olhar para ela e não sentir o que é suposto? Achar que pode ser "só" uma depressão pós-parto, mas esse sentimento prolongar-se pela vida fora? Que tormento! Como vivem estas mulheres? Como sobrevivem? Passou-me, por momentos, a palavra "egoísmo" pela cabeça - ou pelo coração - mas mais uma vez esforcei-me por não julgar. Muitas delas não conseguem sequer contrariar esse sentimento, desajustado daquilo que é expectável aos olhos da nossa sociedade. Não deve haver coisa pior que alguém não conseguir sentir-se Mãe. Ser mãe e não ser, no coração. Que dor. 

Talvez por isso seja cada vez mais imperativo desconstruir a maternidade romântica em que a sociedade nos quer fazer acreditar. Deixarmo-nos de falinhas mansas quando o assunto é sério. Mostrar a realidade. Nem sempre é bom ser Mãe. Nem sempre é fácil. E às vezes é difícil a vida toda. E mais, nem toda a gente quer ser mãe. Temos de parar urgentemente com esta coisa da pressão do "vais ficar para tia" ou do "então é para quando?" ou do "não sabe o que é o amor a sério". Pararmos com este endeusamento da maternidade e com o bullying contante a quem decide não ter esse papel. Parece que uma vida só é legitimada quando se é Mãe. Como se as outras vidas, de quem escolhe não o ser, fossem menores. Como se essas pessoas fossem egoístas. Como se elas não conhecessem o verdadeiro significado do amor. Por que julgamos tanto quem sente as coisas e a vida de maneira diferente da nossa? Para nós é tudo lindo e maravilhoso e mesmo quando não é, compensa tudo. Mas quem nos diz que para a vizinha da frente compensaria? Talvez se parássemos com esta pressão social, as "mães que odeiam ser mães" pudessem ser menos. Talvez houvesse menos pessoas a sofrer, em silêncio. E menos crianças que não são amadas como merecem ser. 


 
 *Fotografia We Heart It

Percebem agora por que sou a mulher mais feliz do mundo?



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