11.21.2014

Os primeiros dias longe de ti, filha

Três dias. Vou estar três dias sem te ver, sem te dar colo, sem te dar mama. E ninguém me obrigou, eu quis. Quis ir com o teu pai. Quis sair de Portugal, quis ir ver o Mundo. Pela primeira vez sem ti, meu Mundo. Tu pela primeira vez sem mim.

Não foi fácil decidir. Ir ou ficar? Estive umas semanas a pensar se seria capaz. Sou. Vou ser. Vou. Vou, com o pensamento em ti, tenho a certeza. Mas vou tentar aproveitar a viagem, já que não vou estar aqui. Vou estar lá e aqui.

Qual é o dia certo? Com quantos meses ou anos devemos afastarmo-nos um fim-de-semana dos filhos? Quando é que as mães se sentem preparadas?

Ainda não tenho a certeza se tomei a decisão certa. Só lá saberei. Ou no aeroporto, ao chegar às partidas. Ou quando fechar a porta de casa, contigo do lado de dentro. Ou quando te der o último beijinho antes de sair. Só de pensar nisso, choro. Eu sou eu e tu. Custa tanto. Se já custa agora, vai custar ainda mais.

Mas eu vou. Porque preciso e o teu pai também. São três dias a dois. Quando sairmos, já vamos estar a chegar. Vai passar rápido. E vai ser bom: vou dormir, vou passear, vou namorar. O teu pai é o meu amor. Os dois juntos fazemos sentido, a fazer uma das coisas de que mais gostamos, viajar. Para o ano vens connosco. Vamos ver o Mundo a três, prometo-te.

Vão ser os primeiros dias longe de ti, com 9 meses. Para a maioria das mães é cedo, eu sei. Para mim também era. Nunca pensei conseguir ir. Mas vou. Vou e volto. Ficas com a pessoa em quem mais confio, logo a seguir ao teu pai. A minha mãe.

Até já, filha



11.20.2014

Milf

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Respira fundo, Joana. Sorri.

Desde o momento em que anunciamos que estamos grávidas até aos miúdos terem uns 62 anos, há sempre opinanços sobre tudo e mais alguma coisa. Tudo o que fazemos está errado, mas, claro, "cada um sabe de si". Tudo o que fazemos vai torná-los umas bestas insensíveis e egoístas, mas "a mãe és tu".
Tudo tem um "mas". "Mas tu lá saberás...". "Mas o filho é teu..." Verdades de la Palice que não insinuam mais do que um "estás a fazer tudo errado, mas depois não digas que eu não te avisei":

Sou uma pessoa pacífica. Não sou boa a comprar guerras e quase sempre ignoro comentários menos felizes. Mas naquela fracção de segundo antes de respirar fundo e fazer um sorrisinho amarelo, o que me apetecia responder mesmo, mesmo era isto:

- Pegá-los ao colo torna-os dependentes
- Ai não me digas! O meu maior sonho era que a minha filha de dois meses já fosse independente e andasse por aí no Urban a comer gajos dançar sem me dizer a que horas chega a casa. Que chatice ter de lhe dar colo, conforto e amor enquanto ela me deixa e precisa.
Respira fundo, Joana. Sorri.

- O teu leite não presta
- Sabes o que não presta? O teu córtex pré-frontal e a tua boca mal cheirosa de onde só saem asneiras sem o menor cabimento. Informa-te e depois vem falar comigo.
Respira fundo, Joana. Sorri.

É preciso deixar os bebés chorarem
- Sabes quem é que eu deixava chorar, se pudesse? Essa tua cara que nem com três plásticas e dois peelings ia ao sítio, depois de te dar a lição que tu mereces. Está explicado porque é que ficaste tão mal acabadinha.
Respira fundo, Joana. Sorri.

Tens de a ensinar a dormir a noite toda
- Nem sabes a missa à metade. Comecei agora com o reflexo condicionado do Pavlov, a seguir vou dar no reforço positivo com ossinhos como presente para ela morder quando se portar bem e, se não resultar, já contratei o Encantador de Cães para vir cá domesticá-la.
Respira fundo, Joana. Sorri.

Ui! Não tens o parto planeado, estudado ou minimamente definido? Boa sorte...
- Minha grandessíssima amiga, não te preocupes que vou já fazer uma maquete e apontar todas as instruções para dar ao médico na hora do corta e cose. Vai dar imeeeeenso jeito, quando tudo correr exactamente ao contrário. E descansa que "exactamente ao contrário" não é empurrarem a bebé para dentro de mim novamente.

Haja paciência.
Respirem fundo e sorriam.