1.16.2019

Quem era eu há 10 anos?

Sinceramente não sei.

Andei aqui a fazer umas viagens pelas minhas pastas de fotografias para tentar lá chegar mas nem tenho bem a certeza do que fiz em em 2009, muito menos de quem era. Tinha 22 anos, fiz os 23 nesse ano. Tinha tirado Ciências da Comunicação, na NOVA, tinha estagiado na TVI, em informação, tinha ido para Londres uns meses, aperfeiçoar o Inglês e tirar um curso de TV e trabalhar num restaurante chinês, tinha regressado para ter o primeiro trabalho na área (onde recebia 500€ a recibos verdes e trabalhava de uma forma desumana - despedi-me logo após um mês e arranjei trabalho dois dias depois -), pus-me numa pós-graduação em apresentação de TV na Autónoma enquanto trabalhava na Duvideo, uma produtora onde fiz vários programas, como jornalista, locutora, alguns vídeos institucionais... e onde conheci o David. Foi nesse ano que conheci o David. Mentira, foi nesse ano que começámos a namorar, conhecemo-nos no anterior. 

Não sei bem quem era. Não vale dizer "a mesma", que isso não é verdade. Tinha muitos sonhos e tudo me parecia possível. Neles incluía casar, ter filhos, três ou quatro, trabalhar em televisão, viajar muito. O David nunca tinha andado de avião e nós resolvemos logo ali o assunto: Londres num mês, Florença, Veneza e Milão noutro. Tarifa pela primeira vez (a minha, que ele ia desde pequenino). Tínhamos a vida toda pela frente. Nesse ano o David começou a trabalhar na SIC, além da Duvideo. Eu comecei a fazer locuções e ficámos mais desafogados. Comprámos uma máquina fotográfica das boas. Íamos ao cinema muitas vezes, muitas, mesmo muitas. Ele levou-me ao Festival Marés Vivas, no Porto: foi esta a nossa primeira "escapadinha". Aldeias do Xisto depois. Ahhhhhh tão bom recordar. Esta liberdade toda, este futuro todo.

Dez anos depois, estamos mais velhos, mais cansados. Temos os pés mais assentes na terra. Dificilmente conseguiremos comprar uma casa um dia. Dificilmente conseguiremos dar a volta ao mundo. Temos mais presente o "agora". Já nos morreram pessoas queridas, já apanhámos sustos e a vida já nos mostrou que a família está em primeiro lugar. Temos uma família e passou a ser ela a nossa prioridade. Somos 4. Eu já percebi que nada é definitivo, que vamos sempre a tempo de mudar. Ainda sonho com viagens, mas já não tenho uma sede que me deixe angustiada. Já sei que a felicidade se constrói e dá trabalho. Tenho a escoliose mais acentuada, mais marcas no corpo, mais flacidez. 

Há algumas coisas que nunca mudam: continuo a ser despistada, a perder chaves de casa e carteiras e cartões. A protelar algumas coisas. A não adorar exercício físico (ou pelo menos os recomeços). A adorar ver filmes (e séries). A não gostar de falar ao telefone. A adorar chocolate e gelado e doces, comida no geral. A ter muito prazer em escrever. A sentir-me uma miúda.

Não sei quem inventou este desafio dos 10 anos, mas gostei!

Venham mais dez. Com saudinha da boa e amor no coração.


Em Tarifa, com o vestido que o David me tinha oferecido nos anos

Opa... 


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1.15.2019

De uma vez por todas: não há colo a mais!!!

Este vai com exclamações até dizer chega: a sério que em 2019 (!!!) eu ainda leio comentários nas redes sociais, extremamente sábios, a aconselhar maior ponderação na hora de dar colo, não vá o bebé ficar mimado, viciado ou manhoso?!! Viram? Mais exclamações.

Vamos lá por partes.

- São... BEBÉS! Se não estivéssemos à espera de lhes dar colo, de os cheirar todos e de os querer engolir com beijos, teríamos adoptado um já com uns 18 anos. Ou comprado um tapete.

- Muito certo que agora nos vão cair aqui muitas histórias de bebés que não suportavam colo e que só queriam estar, no mínimo, a 12 km de distância dos pais e que a primeira palavra que aprenderam foi "larga-me", mas o mais comum é um bebé precisar do conforto do colo, uma vez que vem num estado de "prematuridade" chamada exterogestação. Há todo um trimestre cá fora de adaptação e essa adaptação não deverá ser à bruta: "chora para aí que é para não fazeres causa-efeito choro-colo que eu não nasci ontem, seu espertinho."

- O expectável é que um bebé precise de se sentir confortável, precise de colo, de embalo, da temperatura do nosso corpo e do nosso cheiro, do bater do coração. Afinal de contas esteve 9 meses todo enroladinho, embalado e quentinho e sai cá para fora, sente demasiado espaço à volta, sente frio, fome, tem cocó, cheiros estranhos, barulhos diferentes e adivinhem onde é que eles se sentem melhor, regra geral? Isso, ao colo.

Também a mim me disseram isso. Quando eu ia acudir ao choro da Isabel, tinha ela semanas, e me diziam para "deixar chorar" - porque ela não podia aprender que sempre que chorava eu estaria lá, que os bebés têm manhas -, eu ainda não tinha lido nada sobre o assunto, mas o meu instinto sempre me disse que essas teorias não fariam sentido. Primeiro porque eu a amava mais do que tudo no mundo e não conseguia estar confortável sabendo que ela não o estava; depois porque não percebia que ensinamento era esse que lhe iria passar: "a mãe não vai estar sempre que chores, faz-te mulher". Queria mesmo passar-lhe a ideia contrária, queria dar-lhe segurança: "sempre que chorares, a mãe vai fazer das tripas coração para minimizar isso. Conta comigo". E quem diz mãe, diz pai, que o David também nunca caiu nessa teoria. Claro que, se eu precisasse de tomar banho e ela estivesse ali na espreguiçadeira e tivesse de chorar um minuto, eu, a certa altura, já conseguia tirar o champô do cabelo, cantava e fazia palhaçadas, mas não saia a correr, como se o mundo fosse acabar. Ela esperava um minuto. Nas viagens de carro, igual. Mas, se eu pudesse, se eu tivesse bracinhos, saltava logo para o meu colo. 

Não acho que tenha uma filha mal-habituada, manhosa, e coisas que tais. Vejo-a uma criança querida, feliz, independente q.b. com as exigências próprias da idade. Desafiante. Curiosa. 

E se com a primeira filha dei colo o mais que pude, com a segunda filha não saiu dele, já que fiquei em casa um ano e meio com ela.* Não acredito que o amor estrague. O amor dá segurança, dá confiança, cria cumplicidade. O amor gera amor. 

Regras? Sempre.
Mas colo é amor. Não há regras para ele. Há regras para além dele.

Fotografia: Susana Cabaço
* muito babywearing: essencial.

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1.14.2019

"Se é para terem uma vida estúpida, mais vale não os terem"

A propósito do cansaço dos pais e das divisões domésticas (post aqui), recebemos um comentário que me fez pensar (apesar de o querer rebater): obrigada por isso. 

Neste momento, o David está numa fase em que precisa de trabalhar mais horas (sem que isso tenha a ver com o facto de eu agora trabalhar como freelancer e não ter um ordenado fixo, só para que conste), tenho de ser eu a estar. A ser mais mãe. Com todo o lado maravilhoso que isso tem (adoro ter agora mais tempo para elas, estar com elas, conversar, abraçá-las e amá-las), também recai sobre mim gerir mais. Gerir as refeições, as compras, as guerras entre elas, as birras e até algumas decisões, que às vezes têm de ser imediatas e em que nem o whatsapp nos safa. E isto cansa, às vezes. Na minha visão hipotética das coisas o preferível seria "ambos fazem tudo" - cuidar da casa, cuidar dos filhos. Mas nem sempre isso é o melhor para a família no seu todo, ou nem sempre isso é possível: há fases e nem todos os trabalhos são iguais e têm a mesma flexibilidade, exigências, horários, turnos, etc. Não tem de ser tudo medido a régua e esquadro e as cedências também deviam fazer parte do "contrato".

O comentário:

"Todas as tarefas e despesas devem ser logo divididas como se o casal estivesse separado. Quer esteja ...ou não. A criança deve ter dois progenitores que são os dois cuidadores e adultos de referência para a criança. 
Não precisam, nem devem cuidar deles em conjunto. Devem é fazer as atividades de lazer juntos. É suposto tirarem muito prazer disso. Ora, tal não vai acontecer se estão ambos exaustos.
Ou pior ...se há uma/a claramente muito mais sobrecarregado.
Por exemplo, as mães que amamentam não deviam fazer mais nada se não cuidar de si e fazer só as tarefas leves e gratificantes com os seus filhos. O que amamentam e os outros, se os têm. 
2 Uma empregada doméstica é fundamental. 
As tarefas domesticas basicas não podem ser asseguradas a 100% por um pai e uma mãe sob pena de destruirem a sua relação como casal e pior...destruirem a sua relação com os filhos. 
Se é para arranjarem uma vida estúpida e de má qualidade para as crianças e para as mães/ pais, mais vale não os terem".

Concordo com parte da premissa, acho importante e preferencial que a criança tenha os dois cuidadores de referência a educá-la e também em momentos de lazer; não vejo que este modelo funcione com todas as famílias, há vários tipos de famílias, vários tipos de trabalhos e acho redutor que sintamos que toda a gente se deverá moldar a esta forma de pensar, que já parte do ponto de vista "privilegiado". Há uma coisa chamada "desemprego" que afecta muitas famílias em Portugal. A maior parte das pessoas, dos casais, não têm dinheiro para ter uma empregada doméstica. Só com esse critério podem ter filhos? Não. As crianças também ficam a saber, desta forma, que os pais (ou a mãe ou o pai) sabem fazer tudo, são autónomos, e que na vida há lazer e descanso mas também há responsabilidades e deveres. Que organizar, cozinhar e gerir uma casa pode ser gratificante. "Bullshit" pensam vocês. Sim, sim. Eu adorava ter alguém que todos os dias estivesse lá em casa a limpar, arrumar e a fazer as refeições, mas, nem nos tempos em que eu e o David talvez tivéssemos conseguido, antes de sermos pais, isso aconteceu. Claro que se eu tivesse alguém que me assegurasse o trabalho "de sapa", para que eu pudesse só dar banho, jantar, brincar e contar histórias, seria menos cansativo; mas também gosto que as minhas filhas saibam - a sério que sim - que podemos transformar momentos de responsabilidade em momentos felizes e de entreajuda. Ponho-as a limpar, a ajudar, a aspirar, a separar a roupa escura da clara, a cozinhar comigo (ainda hoje de manhã fizemos waffles juntas)... e consigo transformar obrigações em brincadeiras e em momentos em família! Às vezes até cantamos e dançamos pelo meio. Gosto e até acho que lhes estou a dar ferramentas importantes.

Posto isto, já aprendi que não há fórmulas únicas e taxativas e que não devemos definir o que os outros devem fazer com os nossos olhos. E muito menos sou pessoa para dizer "então não os tenham". Cada um faz o que consegue e pode, cada família luta para ser melhor e, na minha opinião, não temos de estar à espera de ter uma empregada em casa ou nem sequer um contrato de trabalho das 9h às 5h para decidirmos ter um filho.

E sim, podemos queixarmo-nos e desabafar depois, quando estivermos cansados.




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