6.14.2015

Quero que a minha filha seja aquilo que ela for.

Princesa ou super-herói. Frágil ou implacável. Que gosta de desporto ou que prefere ler. Que se veste de cor-de-rosa e plumas e pinta as unhas. Ou que prefere andar de ténis ou Dr. Martens. Até se se quiser vestir à rapaz, e ser tratada como tal, como a filha da Angelina Jolie e do Brad Pitt (aqui). Apesar da minha panca por roupas femininas e pelo quarto cor-de-rosa, cá em casa há carrinhos e há bolas, que ela adora.

Não escrevo isto para ficar bem na fotografia. É mesmo, mesmo o que eu sinto. Quero que a minha filha seja a minha filha. Que não seja feita à minha imagem. Que não faça escolhas para me agradar. A vida é a dela. Eu já fiz as minhas escolhas. Já me deram margem para ser aquilo que sou. Deixaram-me ser chorona, sensível, meiga. Deixaram-me gostar de princesas, de ginástica, de danças de salão. Deixaram-me andar de poupa com gel no cabelo e com saias rodadas. Depois deixaram-me vestir calças de veludo e Dr. Martens. Um dia apareci em casa com um brinco no nariz e não criticaram a minha escolha. Deixaram-me experimentar o Cardio Kick Boxing, as aulas de guitarra e o basquetebol. Deram-me margens para eu ser o que eu quisesse. 

Tento, mas não consigo imaginá-la, daqui a uns anos, de maneira nenhuma. Só sei que vai ter olhos grandes e pestanudos, cabelos escorridos, provavelmente será alta. De resto, está tudo indefinido. Acho que é por não ter grandes expectativas em relação aos detalhes da personalidade dela, dos gostos pessoais, da profissão. Só a imagino com um grande sorriso. Quero-a feliz. Todos os pais o desejam. Vou educá-la para gostar dos animais, para gostar da natureza e da rua, para gostar de música. Vou ensiná-la a dançar para afastar as neuras e a tristeza. Vou educá-la para que goste de abraços e de pessoas, para saber pedir desculpa e para ser trabalhadora e esforçada. Poderá vir a ser tudo isto. Poderá não vir a ser nada disto. Será ela. Tímida ou extrovertida. A preferir ficar em casa ou a gostar de rua. A ser cientista ou dançarina. Vou estar a assistir, da primeira fila. A dar-lhe conselhos, mas a deixá-la ir. Se quiser voltar à estaca zero e recomeçar, cá estarei para apoiá-la.



Fotografia -  The Love Project Fotografia

Não quero cá princesas.

Não sei bem explicar porquê, tal como a maioria das opiniões estúpidas que tenho. 

Não gostava nada que a Irene fosse uma daquelas raparigas das "princesas" e dos "brilhantes". Claro que, se for, não vou não lhe dar as coisas só porque eu não goste delas. Até se ela quiser brincar com carros eu dou, não tenho medo de lhe dar e que ela fique machona por causa disso. 

Aliás, ela já vai ficar um bocado machona só por ser minha filha. Espero. Se não ficar, claro que é bem aceite, mas preferia ficasse mais machona que "florzinha". 

Gosto das meninas que fazem imenso desporto, que se dão bem com rapazes e que não têm problemas com raparigas. 

Gosto das meninas que se esfolem num jogo de basquete (nunca hei de gostar de ver isto em português) e queiram retomar o jogo minutos depois, em vez de ficarem o resto do jogo a fungar com algo nos joelhos que já nem lhes dói. 

Claro que tudo isto é baseado em estereótipos imbecis para os quais não tenho fundamentação, mas é algo que sinto. 

Talvez até por eu ter receio de não conseguir partilhar o mesmo entusiasmo pelas coisas que ela poderá gostar. 

Associo as meninas dos brilhantes e dos cor-de-rosa àqueles cães pequeninos. Muito dependentes. 



Claro que todas as meninas são queridas, mesmo as mais delicadas, as mais frágeis, as mais mimosas. 

Seja a minha filha como for, vou amá-la da mesma maneira. Posso é precisar de treinar o meu sorriso amarelo sempre que ela quiser andar de tule. :)

6.13.2015

Furar as orelhas de bebés: Sim ou Não?

Uma petição no Reino Unido quer impedir os pais de furarem as orelhas de bebés e crianças pequenas, uma "forma de crueldade e abuso infantil", segundo o documento.

"Dor severa e medo são infligidos às crianças desnecessariamente para satisfazer a uma vaidade dos pais. Outras formas de danos físicos às crianças são ilegais - então não deveria ser diferente".
Se quiserem ler mais sobre esta petição, a informação está aqui, na revista Crescer, da Globo.

Muitos dos pais que optam por furar as orelhas das filhas, em bebé, fazem-no por acharem que dói menos, uma vez que o lóbulo da orelha é mais fino. Outros por considerarem que, mesmo que doa, se vão esquecer mais facilmente da dor. 


Até ter sido mãe, nunca tinha pensado muito nisto. Sou daquelas que até achava graça e não me chocava minimamente. Agora ainda não choca, não fico exaltada, mas quero dar essa escolha à Isabel. Ela até pode não querer nunca usar brincos. Já faço tantas escolhas por ela, sem saber se têm a ver com a futura personalidade, que acho que não tenho de fazer mais uma. Ela pode não se identificar. Não lhe quero impingir mais nada.

Além de não me imaginar a fazer-lhe furos (feridas por cicatrizar), que lhe possam causar dor (eu acredito que dói, durante e depois, por experiência própria), por razão nenhuma que eu considere forte o suficiente. É capricho, é vaidade.

Vi estes vídeos (e mais alguns...) que só reforçaram mais a minha postura neste assunto:




Seja por dor, por susto com o barulho, pelo aparato, as crianças choram. Não gostei de ouvir os risos dos adultos, confesso. Nem o "vai ficar linda!". Nem o "tadinha", num tom de pena, misturado com risinhos, nervosos, presumo. No fundo, sabemos que não está ali nada de bom, mas são "males que vêm por bem", para evitar dores maiores no futuro.


Claro que há outros assuntos que nos deveriam inspirar maior preocupação e não sei sequer se faz sentido esta petição. Mas pensar sobre as coisas nunca fez mal a ninguém, não é verdade?

Qual a vossa sensibilidade sobre este assunto? Faz-vos confusão, acham normal, ou nim? O que dizem os pediatras sobre isto?