... por que razão lhes damos açúcar? Por que razão lhes damos prémios em gomas e doces, "caso comam a comida toda" ou "caso se portem bem"?
Lembro-me de pedir Capri-Sonne à minha mãe e dela não mo comprar. Que raiva que aquilo me dava. Lembro-me de lhe pedir Calippo e dela me dizer para comer antes um gelado de leite. Acabei por gostar - até hoje - de Mini Milk, do Epá e do Perna de Pau, mas o meu preferido de todos era o Pé, cor-de-rosa clarinho, de sabor suave a morango, em que eu comia dedinho a dedinho, saboreando tudo devagar.
Ainda hoje sou gulosa, apesar do bom trabalho de casa que os meus pais fizeram. Adoro comer e, azar dos azares, adoro doces. Mas a verdade é que enquanto fiz dieta, o açúcar não me fazia assim tanta falta. Foi como fazer um desmame e no, "dia do estrago", a sobremesa deixou de me saber tão bem e aquele prato mais calórico também. Fritos até me deixavam enjoada.
A minha dieta foi sol de pouca dura. Perdi o peso que queria, mas os maus hábitos mantêm-se. Não sou regrada, como muita porcaria e comida processada, como gomas, gelados e chocolates. Não tudo no mesmo dia, mas vou comendo várias vezes por semana.
Depois de ver a reportagem mais comentada e partilhada de sempre da SIC (
aqui), "Somos o que comemos", fiquei mal-disposta. Já tinha lido algumas coisas sobre alimentação (para fazer tudo certinho com a Isabel), mas aqueles 42 minutos foram determinantes para definir aquilo que eu quero para a minha filha. E se quero para ela, também tenho de querer para mim, porque eles são esponjas e só lá vão com bons exemplos. Acredito no comedimento e não sou de medidas drásticas, mas acho que, devagarinho, tenho de fazer algo por mim e pelos meus.
Para quem não teve tempo de ver a reportagem, que aconselho vivamente, ficam alguns dados a reter:
- O AÇÚCAR É O MAIOR VENENO QUE DAMOS ÀS CRIANÇAS. Pois se nos preocupamos tanto em pôr protecções nas portas para eles não se meterem a beber Skip líquido, por que não encaramos isto como um problema urgente e grave?
- O açúcar causa dependência, como o tabaco ou o álcool (o álcool vem precisamente do açúcar). Se não lhes damos sopas de cavalo cansado nem lhes pomos um cigarro na boca, por que lhes despejamos pacotes de açúcar goela abaixo?
- 8 em cada 10 mortes na Europa devem-se a uma má alimentação e à ausência da prática de exercício físico
- A pediatra aludiu a um caso de um bebé de 10 meses com 21 quilos. SIM, isto existe e em Portugal
- Há crianças e adolescentes com doenças que dantes atribuíamos aos mais velhos: diabetes, hipertensão, colesterol elevado
- Os alimentos que ingerimos (cereais, fruta, leite e derivados) já têm o açúcar necessário e importante para a nossa vida; tudo o resto é dispensável (até o fiambre tem açúcar!...)
- É urgente aprender a olhar para os rótulos e não basta encontrar a palavra "açúcar": glícidos, dextrose, maltose, frutose, xarope de milho - todas estas designações acabam por ser sinónimos, não havendo "açúcar", mas açúcares
- Vários tipos de CANCRO, uma das principais causas de morte no mundo, pode ser evitado com uma boa alimentação, assim como com a prática de exercício físico
- As crianças portuguesas consomem açúcar desde os 12 meses e aos 4 anos mais de metade bebe refrigerantes açucarados e 65% come doces todos os dias
- Os pais não devem ficar descansados só porque o filho, apesar de comer doces, é "magrinho", porque há doenças que não se vêem, mas estão lá
Entre muitas outras dicas, como reduzir o consumo de iogurtes açucarados, de pedaços líquidos, queijinhos e suissinhos (carregadinhos de açúcar), leites de "crescimento", nada de pão de forma embalado (antes pães escuros), água e mais água às refeições... e - muito importante - não ir na cantilena do "coitadinho do menino".
Eles só sentem falta daquilo que conhecem. É nisto que penso mil vezes antes de dar porcarias à Isabel, que tirando uma bolacha Maria por dia, não come mais nada processado com açúcar (e experimentou no outro dia uma bolacha da Irene do Celeiro, sem glúten e sem açúcar e gostou).
Até o iogurte que come dia sim, dia não, é natural, sem açúcar. "E ela consegue?", "Não é azedo?" perguntam vocês. Consegue, não conhece outros. E eu já vou começando a conseguir também, porque é tudo uma questão de hábito.