4.07.2015

Na saúde e na doença.

Ainda não nos tinha acontecido, mas chegou a vez de ficarmos os três doentes. Os três não, os quatro, que nem a minha mãe se livrou. E é do piorio! A sério, é tão difícil ser mãe, estando doente!

Primeiro foi a Isabel, perdeu o apetite, apesar de nós insistirmos e insistirmos e insistirmos para que comesse qualquer coisa. Começou com cocós moles (que pensei serem do dente canino a nascer), mas duas noites depois estava com vómitos, a vomitar água e pouco mais. Foram três dias sem comer grande coisa e a deixar-nos os nervos em franja.

Quando começou a melhorar, foi a vez da minha mãe. Depois, o David que, coitado, ainda por cima teve de ficar com a Isabel sozinho enquanto eu estava a trabalhar. E eu, mesmo tentando passar entre as gotas da chuva, também não me livrei. Estive a trabalhar muito mal-disposta e durante a noite foi o vê se te avias! Como é que nos levantamos para socorrer um filho a chorar, completamente azamboados, frágeis, com náuseas e vómitos?
Bem, três das baixas já estão operacionais. Só falto eu. Socorro!

Não sou mãe galinha, sou informada!

A verdade é essa. 

Não há coisa que me enerve mais do que "no meu tempo não fizeram assim e não morri". Tu não, mas que a taxa de mortalidade infantil era muito mais elevada, era. 

(passem para o fim se quiserem ler três coisas que me salvaram a vida, até lá é um desabafo)

Desde antes de me tornar Mãe que me tornei uma devoradora ávida não só de livros, mas de artigos da internet, de fóruns de mães, de grupos no Facebook. Tudo para que não me escapasse nada ou, melhor, para que sentisse que não me escapava tudo. 

Um ano de Mãe e sinto que não devia ter lido tanta coisa. Houve muita coisa desnecessária e que teve o efeito contrário ao suposto: em vez de ficar mais confiante, fiquei mais insegura. O efeito de estudar muito acaba sempre por ir dar à máxima de Sócrates (não à desse, à do outro): "Só sei que nada sei". 

E entramos assim, num ciclo. Acho que todas as mães assumem para si próprias a missão de serem as melhores mães do mundo. Não imagino ninguém que pense: "quero ser uma mãe mais ou menos que é para ver se não me canso muito".  Por acaso conheço quem o pense (e até fico mal disposta), mas gosto de acreditar que essa pessoa acha que, na mesma, está a fazer o que está certo.

A diferença está no que achamos ser "o melhor". Como sempre. Aliás, se todas considerássemos que o melhor é o mesmo, seria esquisito e andávamos todas a arrancar o cabelo umas às outras por causa do mesmo tipo.

Uma coisa não percebo. Por que é que me sinto altamente julgada e às vezes até gozada por ser uma mãe que estuda, que investiga? Sei que, quando sentimos estas coisas, o princípio está em nós. É como quando acreditamos que todos nos acham gordas. Quem acha isso antes de toda a gente somos nós. "Eles" podem nem ter pensado nisso.

Ok. Admito que possa estar em mim (não admito assim tanto). Não acredito no instinto maternal tanto assim. Acho que estamos constantemente preocupadas com tudo no que toque à saúde e bem-estar deles e, por isso, poucas coisas nos escapam. Estamos num constante estado de alerta. A maternidade há algum tempo que deixou de ser tão natural quanto deveria. Já não vemos as nossas mães a cuidarem dos nossos irmãos, já não as vemos a dar de mamar... E, pior! Agora por causa do conhecimento, muitas das coisas que supostamente estavam certas para as nossas avós e mães estão não só postas em causa como também são perigosas. 

Eu estudei tudo o que podia sobre como tratar um recém nascido, sobre amamentação, sobre alimentação, sobre os sonos, sobre doenças, .... 

Desvantagens: 

Um enorme sentimento de frustração quando as coisas não batem certo.

Não ter ninguém com paciência para nos ouvir quando queremos partilhar o que sabemos.

Passar por algumas fases de desespero por haver opiniões contraditórias, até sabermos o suficiente para conseguirmos distinguir o que é de confiança. 

Vantagens: 

Falharmos menos. 

O bebé comer melhor, dormir melhor, estar mais feliz, ter mais saúde do que, provavelmente, se não lesse. No meu caso, pelo menos, é mais do que verdade.


Tendo em conta esta lista na minha cabeça, como não optar por saber mais coisas sobre a minha filha? Fiquei chocadíssima também com a reportagem da alimentação na SIC. Os pais "que nunca pensaram nisso" e que foram indo. Não quero ser desses pais. Corrigir os erros "mais tarde" é "mais tarde" e não gosto disso. A minha filha não é um crash test dummie.


Coisas que me "salvaram a vida": 



- Este artigo. Finalmente percebi por que é que a minha filha, durante semanas, não queria outra coisa que não mamar. E entendi também por que é que às vezes ela parecia um monstro que não parava de rabujar e que me fazia questionar a minha vontade de ser mãe de mais um. Isto fez com que conseguisse manter a amamentação até agora e parte da minha sanidade mental. Tenho muitas mais lições e importantíssimas para partilhar sobre amamentação, mas sinto que já não podem comigo e, portanto, vou dar um intervalinho.

O escuro produz melatonina, a hormona do sono.

- Eles têm mesmo de parar e de ficar num ambiente mais escuro para se acalmarem. Podem não parecer ter sono na sala com a televisão aos berros, com os brinquedos irritantes, mas se formos adaptando o ambiente, eles quebram.  Fisicamente ficam mesmo com sono no escuro (tal como nós!). 

Terrores nocturnos

- Saber o que são terrores nocturnos fez com que eu não quisesse atirar-me de uma janela quando vi a Irene a ter um pela primeira vez. Apesar de não concordar (ou de não conseguir) com o que a literatura diz para fazer nessas circunstâncias, saber o que é, é importantíssimo. 

- Saber mais sobre alimentação

O BLW é uma óptima maneira de iniciar e manter o interesse da criança pelos alimentos. É a maneira mais natural. Optei por conciliar a maneira tradicional com essa. Por ler muito sobre o assunto e, neste caso, graças a uma conversa com a Joana (obrigada) fiquei a saber que é um grande erro dar cogumelos e carne na mesma refeição (demasiada proteína, sobrecarrega os rins). 

- Os recém nascidos devem dormir de barriga para cima

Para evitar a tal morte súbita. Na maternidade ainda os põem a dormir de lado, apesar das recomendações. São coisas que só sabemos se nos informarmos.

4.06.2015

Se não lhes damos sopas de cavalo cansado...

... por que razão lhes damos açúcar? Por que razão lhes damos prémios em gomas e doces, "caso comam a comida toda" ou "caso se portem bem"?


Lembro-me de pedir Capri-Sonne à minha mãe e dela não mo comprar. Que raiva que aquilo me dava. Lembro-me de lhe pedir Calippo e dela me dizer para comer antes um gelado de leite. Acabei por gostar - até hoje - de Mini Milk, do Epá e do Perna de Pau, mas o meu preferido de todos era o Pé, cor-de-rosa clarinho, de sabor suave a morango, em que eu comia dedinho a dedinho, saboreando tudo devagar.

Ainda hoje sou gulosa, apesar do bom trabalho de casa que os meus pais fizeram. Adoro comer e, azar dos azares, adoro doces. Mas a verdade é que enquanto fiz dieta, o açúcar não me fazia assim tanta falta. Foi como fazer um desmame e no, "dia do estrago", a sobremesa deixou de me saber tão bem e aquele prato mais calórico também. Fritos até me deixavam enjoada.

A minha dieta foi sol de pouca dura. Perdi o peso que queria, mas os maus hábitos mantêm-se. Não sou regrada, como muita porcaria e comida processada, como gomas, gelados e chocolates. Não tudo no mesmo dia, mas vou comendo várias vezes por semana.

Depois de ver a reportagem mais comentada e partilhada de sempre da SIC (aqui), "Somos o que comemos", fiquei mal-disposta. Já tinha lido algumas coisas sobre alimentação (para fazer tudo certinho com a Isabel), mas aqueles 42 minutos foram determinantes para definir aquilo que eu quero para a minha filha. E se quero para ela, também tenho de querer para mim, porque eles são esponjas e só lá vão com bons exemplos. Acredito no comedimento e não sou de medidas drásticas, mas acho que, devagarinho, tenho de fazer algo por mim e pelos meus.

Para quem não teve tempo de ver a reportagem, que aconselho vivamente, ficam alguns dados a reter: 

- O AÇÚCAR É O MAIOR VENENO QUE DAMOS ÀS CRIANÇAS. Pois se nos preocupamos tanto em pôr protecções nas portas para eles não se meterem a beber Skip líquido, por que não encaramos isto como um problema urgente e grave?

- O açúcar causa dependência, como o tabaco ou o álcool (o álcool vem precisamente do açúcar). Se não lhes damos sopas de cavalo cansado nem lhes pomos um cigarro na boca, por que lhes despejamos pacotes de açúcar goela abaixo?

- 8 em cada 10 mortes na Europa devem-se a uma má alimentação e à ausência da prática de exercício físico

- A pediatra aludiu a um caso de um bebé de 10 meses com 21 quilos. SIM, isto existe e em Portugal

- Há crianças e adolescentes com doenças que dantes atribuíamos aos mais velhos: diabetes, hipertensão, colesterol elevado

- Os alimentos que ingerimos (cereais, fruta, leite e derivados) já têm o açúcar necessário e importante para a nossa vida; tudo o resto é dispensável (até o fiambre tem açúcar!...)

- É urgente aprender a olhar para os rótulos e não basta encontrar a palavra "açúcar": glícidos, dextrose, maltose, frutose, xarope de milho - todas estas designações acabam por ser sinónimos, não havendo "açúcar", mas açúcares

- Vários tipos de CANCRO, uma das principais causas de morte no mundo, pode ser evitado com uma boa alimentação, assim como com a prática de exercício físico

- As crianças portuguesas consomem açúcar desde os 12 meses e aos 4 anos mais de metade bebe refrigerantes açucarados e 65% come doces todos os dias

- Os pais não devem ficar descansados só porque o filho, apesar de comer doces, é "magrinho", porque há doenças que não se vêem, mas estão lá


Entre muitas outras dicas, como reduzir o consumo de iogurtes açucarados, de pedaços líquidos, queijinhos e suissinhos (carregadinhos de açúcar), leites de "crescimento", nada de pão de forma embalado (antes pães escuros), água e mais água às refeições... e - muito importante - não ir na cantilena do "coitadinho do menino".

Eles só sentem falta daquilo que conhecem. É nisto que penso mil vezes antes de dar porcarias à Isabel, que tirando uma bolacha Maria por dia, não come mais nada processado com açúcar (e experimentou no outro dia uma bolacha da Irene do Celeiro, sem glúten e sem açúcar e gostou). 
Até o iogurte que come dia sim, dia não, é natural, sem açúcar. "E ela consegue?", "Não é azedo?" perguntam vocês. Consegue, não conhece outros. E eu já vou começando a conseguir também, porque é tudo uma questão de hábito.