Foi bom. Foi mau. Foi assim-assim. Foi terrível. Foi das melhores coisas de sempre e chegou ao fim.
Amamentar foi das melhores experiências da minha vida. A primeira vez foi mágica. Assim que puseram a Isabel da minha maca, a minutos de ter nascido, ela soube logo o que fazer. Fomos juntas até ao nosso quarto, unidas. Foi a
mamar, timidamente. Os dias que se seguiram foram de preocupação na hora
da mama. Adormecia. Molha pé, despe, aperta pé, mexe na orelha, mexe
no queixo. O sono falava mais alto. Perdeu algum peso. Ainda
no hospital, a médica que lhe deu alta sugeriu suplemento. Tive dúvidas,
mas quis confiar em mim, no meu instinto. Não dei. Estava bem, não
parecia ter fome.
Já em casa, a subida do leite. Horrível. Dores e
mais dores. Parecia que ia rebentar e ela não dava vazão. Vidrinhos no
peito, dores lancinantes quando mamava e antes e depois. Pedia ao
pai da Isabel para me apertar um pé com toda a força possível. Só queria deixar de
sentir aquelas dores. Podiam ser outras. Aquelas não. Experimentei
todas as mezinhas, o saco quente, o banho, a massagem. Depois o saco
frio, creme, o próprio leite, a bomba. Fiz de tudo. As dores eram
enormes. Ninguém me tinha avisado que podia
ser assim. Não sabia. Doeu mais do que o parto. Chorava a dar de mamar.
Aquele momento supostamente tão lindo, tão próximo, era um inferno. Mas
ia passar. Tinha de passar. Eu só perguntava "isto vai passar, não vai?".
"Vai, isso passa", respondiam. Um mês. Um mês inteiro com dores na mama
esquerda. Naqueles
momentos lembro-me de pensar nas mães que desistiam. Percebi. Percebi tão bem.
Passou.
Um
mês depois, amamentar era bom. Era um momento só nosso, mágico. As dores tinham ficado
no passado. Valeu a pena. A satisfação dela a mamar compensava tudo. Finalmente tudo corria bem.
Depois vieram as cólicas
a mamar ou o que era aquilo. Contorcia-se, chorava, tinha fome mas causava-lhe dor. Até parecia que ouvia o som do leite que lhe chegava ao estômago. Foi difícil. Tinha de me levantar,
tentar distraí-la e lá ia mamando. Malditas cólicas. Passaram as
cólicas. Voltou a mamar bem. Mas foi sol de pouca dura.
Biberão.
Esse grande "aliado" quando fui trabalhar, no dia em que fez três
meses, revelou-se o maior inimigo da amamentação. Deixava leitinho e bebia no biberão. Acontece que se
começou a habituar ao facilitismo do biberão, a mama dava muito mais
trabalho... Prestes a fazer 4 meses, preferia o biberão. Pedi conselhos,
liguei para o SOS Amamentação, pediatra, tudo. As reservas de leite
congelado estavam a acabar. Sabia que se não mamasse, dificilmente a
bomba iria ajudar tão bem na produção de leite. Comprei suplemento, pelo
sim, pelo não. Não queria deixar de ter
leite. Não depois de tanto esforço. Não depois de ser o nosso momento.
Uns dias a tirar pouco, a tristeza a apoderar-se. Mamava bem durante a
noite e de manhã. Às vezes à tarde também. Fiz de tudo.
Comecei a conseguir produzir mais leite para ela mamar e para guardar. Dei-lhe
algumas vezes suplemento, porque tinha fome e descongelar ia demorar
muito tempo. Chorar com fome, não! Queria ouvir aqueles sons de prazer a
mamar, qualquer que fosse o leite.
Até que fui à
clínica Amamentos pedir ajuda. Tinha ela 4 meses. Melhorou. Ficou a mamar muito melhor. Estava
fartinha da bomba, mas continuei a tirar leite mais um mês para a minha ausência. Por ela, tudo.
Até aos 9 meses mamava de manhã e à noite e ao fim-de-semana sempre que queria.
Aos 9 meses e 3 dias foi a última vez. Ausentei-me um fim-de-semana e quando voltei ela não quis. Não conseguia. Pareceu-nos doente, fomos ao hospital: pneumonia. Internada 5 dias e sempre a recusar a mama. Tentei tirar leite, mas nada de jeito.
Nova consulta com uma especialista, procurei ajuda, comprei uma máquina nova. Banhos com ela, pele com pele, danças, brincadeiras e nada. Não consegui fazer com que ela quisesse mamar de novo.
E esta semana decidi: chegou ao fim a nossa maminha. Foi bom, não me posso esquecer daqueles olhos a olharem bem nos meus, daquele mimo todo, daquela cumplicidade. Foi também mau, mas consegui superar sempre as dificuldades.
Decidi não continuar a tentar, bem comigo e até com um certo alívio porque não vou arrastar mais esta situação. Pus definitivamente um ponto final. Uns dirão que foi cedo, outros que já foi muito bom. Para mim, nem sempre foi bom, foi bom, foi mais ou menos, foi das melhores coisas e já tenho saudades. Pode ser que com um(a) maninho(a) ela queira voltar a mamar, quem sabe? Não me importava mesmo nada.
Entretanto, e como a amamentação não é tudo, vou continuar a ser tão boa mãe como fui até aqui. E não sou mais nem menos do que quem amamentou 30 meses ou do que quem amamentou apenas um. Nem mais nem menos do que quem odiou e desistiu, nem mais nem menos do que quem teve a melhor das experiências. Amor e cumplicidade entre mãe e filha há-os de várias formas.
*imagem we heart it