Esta é uma história com final feliz, graças à persistência de uns pais, que confiaram no seu instinto e perceberam que a filha não estava bem. E graças à quarta pediatra que eles consultaram. Sim, a quarta.  
Desde sempre que me bato com esta dúvida: até que ponto temos de seguir todos os conselhos e recomendações do pediatra? Até que ponto tudo o que ele diz é lei? Como filtrar?
Do sono à alimentação, passando pela vacinação, pelo peso e pelo desenvolvimento, o envolvimento do pediatra na vida do nosso filho é enorme e ainda bem. Mas como devemos gerir as nossas opções? O pediatra recomenda iogurte, mas e se nós não quisermos dar? Claro que somos nós que decidimos, mas até que ponto a opinião de um especialista não nos condiciona e não começamos a pôr algumas decisões em perspectiva?
E por mais bons médicos que nos pareçam, devemos confiar cegamente neles? Desde a hora exacta para a introdução da banana, à resposta por SMS sem os estar a observar ou à unha encravada, terão eles a resposta certa para tudo? A medicina não é uma ciência exacta, por isso, não devemos, por vezes, confiar mais no nosso instinto?
"Se não confias completamente no pediatra do teu filho, muda". Até faria sentido, mas acho que esta é uma falsa questão, porque devemos confiar, sim, mas não cegamente, porque nenhum médico tem o dom da omnipresença e omnipotência. Se dominam muito bem um assunto, podem não estar 100% informados noutro, já que a investigação nas mais diversas áreas está em permanente ebulição.
Estes pensamentos já me assaltavam algumas vezes e então quando conheci a história da Ana (nome fictício), com mais dúvidas fiquei. 
Então a Ana, com dois anos, após dar umas gargalhadas ou tossir, dava umas guinadas com a cabeça para trás e desatava a chorar, aparentemente cheia de dores.
Os pais não acharam aquilo normal e foram ao pediatra de sempre. "As crianças tão pequenas não têm dores de cabeça, não deve ser nada". Não contentes, pediram opinião a um segundo pedriatra: "dores de cabeça com essa idade não é possível". Exames? Nada. 
Foram ao médico de família. Nada.
Foram ao médico de família. Nada.
Foram ao pediatra número 3, desta vez já com a gravação de um daqueles episódios estranhíssimos.
"Se a minha filha não tivesse nenhum problema físico, teria certamente do foro psicológico, mas alguma coisa era.", pensava o pai. O terceiro pediatra, mesmo com o vídeo, não quis fazer exames.
Aqueles pais não descansaram e foram com a Ana a mais uma pediatra. E desta vez, tudo foi diferente. Ela achou aquilo tudo muito estranho e mandou fazer vários exames e um TAC. No TAC, o resultado: uma doença congénita no cérebro - malformação de Chiari, tipo 1, uma doença a que até o Doctor House já dedicou um episódio. Em menos de uma semana, foram vistos por um neurocirurgião e a Ana foi operada.
Dá que pensar, não dá? Até que ponto todos nós faríamos o mesmo? O nosso instinto levar-nos-ia sempre a procurar mais uma opinião? E mais uma? E mais uma?...
Confiam cegamente no (vosso) pediatra?













