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11.17.2019

Chamei o 112 e não sabia se podia sair de casa.

Não se ponham com "ai, lá está a Gama com os títulos sensacionalistas" porque foi mesmo o que aconteceu. Confesso que só agora, passado uma semana, consigo escrever sobre o assunto porque tive ainda de me reequilibrar. Perdi um bom pedaço do sentimento de segurança relativamente à nossa casa e acho que só agora estou a recuperar. 

Ora, só para que tenham uma noção, era uma da manhã. Aqui a gorda já tinha adormecido a ver uma série da Netflix e comido meio kg de amendoins. De repente, ouve uma explosão. Acorda um bocadinho, mas pensa "caramba, os meus sonhos estão a ficar mesmo vívidos..." e manteve-se deitada. Vou só parar de falar de mim na terceira pessoa, vá. Depois, começou a cheirar-me a bolo (??) e a borracha queimada. Por acaso - não é meu costume levantar-me - levantei-me para ver o que se passava e, quando fui à cozinha, já não conseguia ver nada. Estava tudo cheio de fumo e tornava-se impossível respirar. Corri para fechar a janela oscilo-batente e também fechei outras janelas que estavam assim para arejar a casa.

Reparei que a loja do r/c estava a arder. E apressei-me a ligar para o 112. Disse onde era o incêndio e perguntei se podia sair de casa e o técnico disse-me que não sabia. Irritou-me na altura porque "é esta a utilidade do serviço de emergência??", mas depois lembrei-me que o senhor sabia lá como é que estava a minha casa, se era um prédio ou não ou o quer que fosse. Antes assim do que me mandar sair e ficarmos as duas fritas à saída do apartamento... 



Os bombeiros chegaram rápido, ainda que me tivesse parecido uma eternidade. A minha querida vizinha veio bater-me à porta quando acordou para me avisar do incêndio e acho que aí saí "do choque" e apercebi-me que tinha de tomar decisões. Acordei a Irene e pu-la na casa da vizinha a brincar com a filhota bebé (acho que acabou por não ser grave para nenhuma das duas visto que puderam brincar enquanto os adultos se esvaiam de pânico). Depois fui fazer uma mala com o mínimo indispensável: documentos, carregador telemóvel, medicamentos para as convulsões da Irene e ténis para ambas. 

Ficámos à espera de saber se o fogo tinha ficado controlado. Os bombeiros depois vieram com uma ventoinha gigante ventilar a nossa casa, mas era impossível dormir aqui durante mais de um par de dias. O ar estava irrespirável. E ainda bem que a vizinha nos deu guarida. Afinal já eram praticamente 4 da manhã. 

Na manhã seguinte, reparo que a casa continua sem condições para ser habitada e que tinha de ser feita uma limpeza a fundo, assim como pintar as paredes. Assim foi. Mas, como vos disse, só agora, uma semana depois é que estou a voltar a sentir-me segura aqui, por muito tonto que isso pareça porque seria altamente improvável voltar a acontecer o mesmo. 

Lado positivo? A relação com os vizinhos ficou mais próxima, fomos dormir a casa do meu pai e foi uma noite gira, a Irene passou o dia com a avó e foi ao cinema e eu passei a dar ainda mais valor ao conforto que temos por termos uma casa porque foi terrível não ter onde estar durante esses dias. 

Já passou. Já está. 

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