11.05.2020

Ninguém te diz que ser mãe é difícil?

"Ninguém te diz que ser mãe é difícil". Mito. Acho que o que não falta mais por aí, de há uns anos para cá, é gente a queixar-se. A desabafar. A gritar o quão difícil, e por vezes solitário, pode ser este papel da maternidade.

Foi  um bocadinho esse o nosso papel de início, quando criámos o blogue. Mas não nos enganemos. Já muita gente nos tinha dito que era difícil. 

Claro que muitas mães andaram a dourar a pílula durante alguns anos - acho que era para elas acreditarem nisso. A emancipação trouxe-nos também isso: a pretensão de sermos capazes de tudo. Queremos (continuar a) ser boas profissionais, miúdas espertas, com (alguma) vida social, buço feito, e queremos ser mães, presentes. Ah! E a casa não se limpa sozinha. Não queremos falhar em nada.

Mas muita gente já tinha gritado por socorro, pedido ajuda. Nós é que não estávamos dispostas a ouvir. Convenhamos: antes de sermos mães, quão interessadas estávamos em ouvir falar sobre maternidade? Em ler sobre amamentação? Em querer perceber ciclos de sono? 

E o meu ponto aqui é: se tivéssemos lido, ouvido, visto: o que teria efetivamente mudado? Talvez não nos cobrássemos tanto. Não sentíssemos que estávamos a falhar. A Joana Gama uma vez confessou-me que, por eu ter parido a dar gargalhadas, ela andou alguns meses a esconder o quão traumatizante teria sido o seu parto. Acho que escondeu até para ela própria. Não me apercebi e nós até falávamos todos os dias, imaginem.

Nós tendemos a ativar um modo de sobrevivência e a relativizar algumas coisas para superá-las. Mas acho que é importante continuarmos a partilhar o bom e o mau. Saber que não fui a única pessoa a adormecer a filha a chorar (eu, não a filha - quer dizer, a filha também), que não era a única com dúvidas, arrasada quando ela não comia nada, triste quando não consegui que voltasse a mamar, com 9 meses, depois da pneumonia.



Este espaço tem sido isso: um espaço de partilha. E, apesar de, ao fim de 6 anos, já termos mais equilíbrio em cima da bicicleta, a corrente de vez em quando ainda sai. E temos de sujar as mãos para a colocar no sítio. Talvez já não seja tão visceral, tão duro, mas continua a ter as suas dificuldades.

E quais são as minhas maiores dificuldades e medos neste momento, perguntam vocês? Vamos à lista:

    - andar a sentir-me constantemente cansada

    - não me andar a alimentar propriamente bem

    - não ter tido tempo para fazer desporto (ou motivação?)

    - não conseguir gerir muito bem as crises entre as duas miúdas, que se magoam e aleijam à séria

    - não estar a encontrar ferramentas decentes para as birras da Luísa, que me parecem cada vez maiores

    - ter a casa sempre num caos (ando a pensar seriamente em investir em alguém, nem que seja 4h por semana...)

-     ter receio de que voltemos a estar confinados (não só pela minha sanidade mental e de deixar de ter trabalho, mas receio da ansiedade generalizada, dos despedimentos, dos negócios a falir, das depressões...).

O que é que muda depois de fazer a lista? Nem sei. Mas é como ir ali ao campo mandar um grande grito. É lançar para o universo e ver o que vem de volta. Feito.

Quais têm sido as vossas dificuldades enquanto mães, enquanto mulheres, e o que é que esta pandemia ainda veio piorar - ou até melhorar - nas vossas vidas?


1 comentário:

  1. Os conflitos entre irmãos é o que mais me custa na maternidade. Quando estou só com um, tudo flui em harmonia. Conseguimos ter tempo de qualidade e se for preciso também consigo trabalhar. Quando estão os três juntos vivemos em conflito. A mim custa-me muito e não consigo falar sobre isto com ninguém. O que me dizem é que é normal, faz parte, os irmãos são todos iguais. Começei a dizer que estava tudo bem e acabou.
    À medida que crescem os desafios são maiores, cada vez é mais difícil ser mãe.

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