3.01.2020

"Ainda és minha amiga, filha?"

Não sei como é que vocês são, mas eu tenho algumas missões importantes (ou prioritárias) daquilo que quero transmitir à Irene. Uma delas é que ela fique bem ciente do amor incondicional que sinto por ela e de que ela merece. 

Digo-lhe muitas vezes, quando há momentos de maior conflito, que ela não se preocupe porque "portes-te bem ou mal, estejas zangada ou contente (ou eu), a mãe nunca deixa de gostar de ti". Porque é verdade.

E tenho-lhe dito isso e mostrado sempre. 

No outro dia, estava furiosa e não consegui lidar bem com uma birra dela de cansaço. Acabei por ser mais assertiva e isso desencadeou nela uma reacção mais descontrolada. Acabou por se ausentar para o quarto porque, como disse ela: "Mãe, não estou disponível para conversar contigo". 


Acabámos por falar as duas sobre o que aconteceu. Expliquei-lhe que estava numa semana difícil e que a paciência não era algo tão fácil quando me sentia daquela maneira. Ela disse que também tinha reagido como reagiu porque não sabia como fazer melhor. Concluímos que é um trabalho que vamos desenvolver as duas em conjunto e que vamos melhorar e ter mais calma sempre que conseguirmos. 

No silêncio, enquanto a adormecia, bateu-me a culpa e saiu-me um "ainda és minha amiga, filha?". 


Ela respondeu:


"Mãe, então mentiste? Disseste que mesmo chateada ou quando nos zangamos que somos sempre amigas e agora perguntas isso?"


Ela tem razão. E eu tive a confirmação de que estou a fazer um bom trabalho. Não me agrada esta fase de tudo o que não coincida seja mentira, mas tem 5 anos, é normal. 

No entanto, ela deu-me o que lhe dou: amor incondicional. 

Ainda que haja muita coisa que falhe, que não seja exímia (não dá para ser, por favor), fico feliz que, tendo algumas prioridades, esteja a conseguir passá-las à minha filha. 

Quais são as vossas? 


7 comentários:

  1. Às vezes nos momentos mais pequenos (em tempo), chega-nos a confirmação do bom trabalho que fazemos todos os dias. Parabéns a ti!

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  2. Espero que este post seja um post comico para bem da sanidade mental da crianca Irene

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  3. Não estou a aguentar a resposta "não estou disponível para falar contigo", com 5 anos. lol Cheira-me que a minha Maria Limão vai ser dessas.Parabéns pelo excelente trabalho.

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  4. Cheira-me que a Irene, mais cedo ou mais tarde, vai começar (se é que não começou já) a detectar essa tua insegurança, esse teu medo de que ela deixe de gostar de ti, essas tuas fragilidades, essa tua constante preocupação e auto-imposta tensão em "não falhar", em "fazer um trabalho perfeito" na educação dela, essa culpa. Para além do mau exemplo que lhe dás, quando ela detectar e perceber isso, vai ter-te na mão. O que é péssimo. Penso que devias trabalhar com a tua psicanalista de onde é que virão esses sentimentos e essas culpas e sobretudo essa exigência doentia que tens contigo própria

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    1. Tão verdade...

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    2. Concordo a 100%. Joana, tu lês tanto sobre parentalidade, pensas tanto sobre tudo, esmiúças todas as pequenas coisas, e depois fazes uma pergunta dessas "ainda és minha amiga, filha?"??? Isso transmite tanta insegurança...
      Como quase todas as mães, também sinto culpa por um dia menos bom, mas mais depressa digo à minha filha que a amo muito, mesmo quando ralho, do que pergunto se ela ainda gosta de mim! Nós somos o adulto, devemos transmitir confiança e não insegurança.

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  5. A Irene é mesmo esperta. Parabéns Joana, és um espetáculo! You go girl

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