1.12.2020

Com que idade já podem?

Uma coisa que tenho percebido nestes 5 anos e meio é que de nunca deixamos de ter dúvidas, quando somos mães. Quer dizer, pelo menos eu vou tendo sempre.
Acho que é inerente à maternidade. Eles crescem, mas nem por isso as dúvidas são menores. Muda talvez a intensidade, a urgência de saber, já não nos culpabilizamos tanto se ficam doentes, mas nunca se sente que se sabe tudo.

Há dúvidas que vou mantendo sempre: estarei a fazer o melhor para elas? Como é que resolvo este conflito entre as duas? Estou a ser demasiado intransigente? Estou a ser demasiado permissiva?

Eu acho que, tendencialmente, sou pouco "galinha". Raramente penso que o pior pode acontecer, em cada situação. Por exemplo, se sobem a uma árvore, não penso automaticamente que vão cair (e mesmo que esfolem o rabo todo - já aconteceu à Isabel, coitada - acho que para a próxima vai ter ainda mais destreza e coragem). Se vão em passeio com a escola, não fico nada preocupada (mesmo nada). Só muito curiosa. Se estão com os avós / tios, não ligo de hora a hora para saber como está tudo a correr. Confio. Se me pedem para cortar fruta, dou a faca quando acho que já têm alguma motricidade fina e percebem as minhas instruções. Ensino logo a subir escadas e a descer. Já cheguei a achar que tinha qualquer ligação interrompida no circuito-mãe. "Se calhar, é normal sentir-se mais medo do que eu sinto", pensei já várias vezes. 

Posto isto, no outro dia a Isabel ofereceu-se para ir à mercearia buscar qualquer coisa que faltava. Acho que aveia. "mãe, dás-me um euro e eu vou lá num instante". 
Fiquei a pensar naquilo. Acho que qualquer outra pessoa pensava "nem pensar, só tens 5 anos". E eu disse-lhe que agradecia imenso e que sentia um orgulho enorme por ela se ter oferecido, que era uma ajudante a sério, mas que ainda não deveria ir sozinha.
E ela: "mas é já ali". Aproveitei para lhe dizer que, mesmo sendo já ali, não deveria ir sozinha porque poderia cair e precisar de mim. Aproveitei para lhe dizer que, um dia que for sozinha, daqui a um ano, mais ou menos (?), nunca pode entrar no carro de ninguém nem ir para casa de ninguém, mesmo que dissessem que eram meus amigos.

Ela quase me fazia um eye-rolling a dizer "sim, já tinhas dito isso".


Cara de felicidade. Hoje. 

Mas sabem que o meu instinto mais primário seria deixar? Tive de controlar isso mesmo, usando a razão. A mercearia é mesmo já ali atrás do prédio, em 3 minutos estaria em casa, eu com essa idade já fazia recados e distâncias maiores. Só que "eram outros tempos", "outra cidade" e - se calhar - outra consciência. Nem sei bem se, em termos legais, se pode deixar uma criança, com esta idade, sozinha. Pode? Eu vejo crianças a brincar ali no pátio em baixo sem adultos, mas não faço ideia se se pode. Pode?

E vocês? Como se sentem em relação à "liberdade" deles. Têm muitos medos? 






1.11.2020

Este blog vai acabar?

Tem sido como uma relação: com altos e baixos. Com paixão e desencantamento. Com fases de maior euforia e, depois, fases de menor interesse. Já houve uma altura em que publicávamos quase sem falhar 3 posts por dia, depois passámos a dois e depois passamos a poucos mas bons e a um vídeo e um podcast por semana. 

Mas, entretanto, a vida vai acontecendo. Ambas saímos dos nossos trabalhos e, por isso, dedicámo-nos com força e alma a este projecto. Creio que a alma continua a cá estar, mas talvez nos tenha falhado a força e o tempo. A Joana agora trabalha algures com um horário fechado e, por isso, não nos temos conseguido encontrar. 

Sempre tive medo que o blog acabasse. Sei como sou com compromissos. Mesmo que me doam os pés ou as mãos ou o coração, não consigo evitar continuar. Fui educada assim o que tem o seu lado bom e mau. Bom porque sou de "confiança", mau porque mesmo quando não gosto das coisas ou quando naquele momento não me estão a saber bem, continuo com elas na mesma. 

Olha que lindas e novas, ahaha ;)


Para além disso, sempre senti que era a menos "estrela" deste blog. As publicações que a Joana Paixão Brás escreve são, normalmente, na mouche. E eu, com os meus estádios emocionais vários desde que a Irene nasceu e também ter passado pelo final de um casamento, não tinha muita personalidade para dar, a não ser uma escrita meia automática e sempre com um instrumental soturno a acompanhar. Entretanto já estou viva. E bastante viva. Demasiado talvez. ;)

Isto de dizer que a Joana é a "estrela", não tem a ver com ego, acho eu. Tem a ver com sentir que ela é que é a alma realmente blogger daqui - basta verem pelo instagram dela - e que eu tenho sido mais uma espécie de marketeer e de, bem, pensadora geral, vá. 

Acho que a Joana deveria escrever um livro e acreditar nela ao ponto de perceber que tudo o que quiser fazer, consegue. Ao mesmo tempo pensava que, se ela acreditasse nisso, que desaparecia aqui do estaminé. 

A vida vai acontecendo, também tenho um pouco mais focada no banana-papaia, isto dos mundos digitais, dos blogs e dos algoritmos também tem mudado e não que andemos um pouco "à toa", mas temos sentido que não é "necessária" uma presença constante, mas sim estruturada e variada. 

Gostaríamos, no entanto, de saber mais sobre o que gostariam de saber. Quais as idades dos vossos filhotes. Que dúvidas têm, tudo. Não nos falta inspiração, mas não queremos que a nossa relação convosco falhe. Tem sido uma longa e ópppptima viagem. E não gostaria que terminasse. 

É só uma fase, mas cá estamos ;)





1.08.2020

Subornei a minha filha.

E isto vai contra todos os meus princípios. Quem nos segue sabe que tento ser o máximo consciente no que toca a isto da parentalidade, tendo noção das consequências que os meus actos implicam no crescimento dela e querer ser uma boa referência. Não quero dizer com isso que lhe negue a observação do lado menos bom da vida, isso já me passou. Já deixo que ela me veja triste, que saiba quando estou doente, etc. Mas não consigo ser outra coisa que não cuidadosa com aquele que considero ser o bem mais precioso para mim e também para o Mundo. Gostava muito que todos os pais tivessem a capacidade (não tão exageradamente, se calhar) de reconhecer a gigante influência que têm no crescimento dos filhos e, por isso, de quererem (se pudessem) ser melhores todos os dias, mas sei que a vida e os nossos próprios problemas por resolver nos impedem de nos vermos com transparência, misericórdia e, acima de tudo, calma. 





No entanto, a Irene hoje acordou demasiado cedo. Tem estado cansada. Durante as férias fez sesta todos os dias (porque ainda precisa) e na escola não tem essa oportunidade. Começou a chorar desalmadamente a dizer que não queria ir para a escola. E eu, em vez de me posicionar como aquele apoio normal e tentar desconstruir os seus sentimentos e ajudar a arrumá-los, dei-lhe espaço, simplesmente. Disse para que “quando passasse” viesse ter comigo. Demorou (a miúda é orgulhosa), mas veio. Abracei-a muito e não me apeteceu estar com conversas. Já era tarde e não queria pesá-la ainda mais com reflexões, também não me parecia o momento certo. Perguntei-lhe o que é que podia fazer para a ajudar e, surpresa das surpresas (nem por isso) disse-me que gostaria que lhe comprasse um brinquedo. 

Disse que sim. 

Acabou a birra. Continuou com sono e irritadiça, mas a manhã correu melhor e foi para a escola tranquila. 
Confesso que estava à espera de me sentir mais culpada por ter tomado uma atitude que, em princípio, não concordaria e que levanta precedentes, mas é o chamado “caguei”. Caguei mesmo e até estou meia orgulhosa. 

O mais chato disto é ter-me comprometido com ir comprar o raio do brinquedo, apetece-me 0 enfiar-me num centro comercial na quinta-feira, mas vá.