3.05.2020

Deixem os pais serem pais!

Este post não é para toda a gente, é para mães que, tal como eu, sentiram uma vontade visceral de se ocuparem a 100% dos filhos desde que nasceram e, por qualquer que tenha sido o motivo, a verdade é que, desde que nasceu a Irene que me encarreguei de fazer praticamente tudo o que tinha a ver com ela (excepto a comida porque o meu ex-marido está a passar ao lado de uma grande carreira como chef).




Ontem, ao ver o primeiro episódio do documentário Babies que está na Netflix (recomendo vivamente, pelo menos o primeiro episódio ;)) fiquei a par de algumas descobertas fantásticas que vários investigadores fizeram. Nada que não vos tivéssemos já mostrado num dos vídeos em que entrevistámos a Constança Cordeiro Ferreira do Centro do Bebé. Aliás, vou deixá-lo aqui para verem: 



Sem querer pronunciar-me demasiado aprofundadamente para não vos induzir em erro, fizeram dois tipos de medição, uma que dizia respeito à oxitocina e aos seus níveis durante a gravidez e pós parto na mulher e no pai. E, além disso, depois fizeram scans que evidenciavam a activação da "amígdala" (parte do cérebro que evidencia a preocupação intensa com os filhos) nos casais em que a mãe assumia o papel de "principal" cuidadora e em casais homossexuais só com pais masculinos. 
Do que percebi, a oxitocina é idêntica tanto para a mãe como para o pai. A ligação aos filhos é igual caso haja contacto e envolvimento. E esse envolvimento é estimulado quantas mais "tarefas" cada um desempenhar. Quanto mais estiverem, brincarem e cuidarem dos bebés, maior o apêgo e a ligação. Tanto nos pais como nas mães.  Isto significa que, tal como disse a investigadora, "ser mãe/pai é uma escolha que vai além da biologia", tem muito a ver com a ligação. Coisa que já todas sabíamos, mas vê-lo provado não deixa de ser interessante, não é? 

Depois, por sabermos que as mães são quem tem o sono mais leve (por causa da activação da tal amígdala), quiseram perceber porquê. Comparando com os tais casais em que não há mãe, repararam que os homens também têm essa "capacidade" e que é idêntica. E isto através de exames ao cérebro, por isso não há dúvidas. 
Quis partilhar isto convosco porque no caso de se sentirem assoberbadas por "terem que fazer tudo" e na eventualidade de se sentirem "culpadas" por delegarem o que estão a fazer ou até se tiverem pouca tolerância a que outras pessoas se ocupem dos vossos filhos (falo aqui do pai), percebam que ao fazerem-no estão não só a providenciar maior felicidade a quem se envolva como aos vossos filhos e que estão a permitir que uma relação mais íntima, mais profunda se desenvolva entre eles. 

Só para deixar a nota que "a Mãe é que sabe" como título deste blog, não é para excluir os pais, mas sim para deixar um espaço de segurança grande a quem está a gerir a família, isto é: não comentemos e não nos metamos na vida uns dos outros que "só quem lá está é que sabe". Neste caso, como somos mães, falamos de mães, mas queremos muito que os pais também sabem e, tal como se vê, podem gostar tanto, saber tanto e envolver-se tanto quanto as mães. 

Espero que seja motivação suficiente para não sermos tão fuçonas - nos casos em que isto seja aplicável, claro. 
Ainda no documentário, também foi giro ver os resultados da experiência "Still face" em que puseram uma dezena de mães em frente a bebés, brincando com eles e, de repente, deixando de reagir aos mesmos, ficando com uma cara serena mas sem interagir. Os bebés procuram a reacção da mãe, provando que, desde sempre, estes nascem com skills sociais  de leitura e reacção de quem os rodeia.

Não querendo ser spoiler, também estudaram o impacto do estilo parental no desenvolvimento do cérebro dos bebés e, para agrado de TODAS e TODOS que lêem este blog, também ficou evidente que a resposta rápida de consolo aos nossos filhos lhes providencia um sentimento de segurança que permite que estejam aptos para explorar o mundo de forma saudável e dando um enquadramento mais saudável a todas as aprendizagens. Ainda que, com a experiência STILL FACE se tenha visto que, ao não se responder imediatamente, o bebé se incline para descobrir formas de se auto-acalmar, embora o nível de cortisol possa não descer e possa causar entraves numa relação mais calma entre os dois. 
Não há mimo a mais, malta! :)

3.01.2020

"Ainda és minha amiga, filha?"

Não sei como é que vocês são, mas eu tenho algumas missões importantes (ou prioritárias) daquilo que quero transmitir à Irene. Uma delas é que ela fique bem ciente do amor incondicional que sinto por ela e de que ela merece. 

Digo-lhe muitas vezes, quando há momentos de maior conflito, que ela não se preocupe porque "portes-te bem ou mal, estejas zangada ou contente (ou eu), a mãe nunca deixa de gostar de ti". Porque é verdade.

E tenho-lhe dito isso e mostrado sempre. 

No outro dia, estava furiosa e não consegui lidar bem com uma birra dela de cansaço. Acabei por ser mais assertiva e isso desencadeou nela uma reacção mais descontrolada. Acabou por se ausentar para o quarto porque, como disse ela: "Mãe, não estou disponível para conversar contigo". 


Acabámos por falar as duas sobre o que aconteceu. Expliquei-lhe que estava numa semana difícil e que a paciência não era algo tão fácil quando me sentia daquela maneira. Ela disse que também tinha reagido como reagiu porque não sabia como fazer melhor. Concluímos que é um trabalho que vamos desenvolver as duas em conjunto e que vamos melhorar e ter mais calma sempre que conseguirmos. 

No silêncio, enquanto a adormecia, bateu-me a culpa e saiu-me um "ainda és minha amiga, filha?". 


Ela respondeu:


"Mãe, então mentiste? Disseste que mesmo chateada ou quando nos zangamos que somos sempre amigas e agora perguntas isso?"


Ela tem razão. E eu tive a confirmação de que estou a fazer um bom trabalho. Não me agrada esta fase de tudo o que não coincida seja mentira, mas tem 5 anos, é normal. 

No entanto, ela deu-me o que lhe dou: amor incondicional. 

Ainda que haja muita coisa que falhe, que não seja exímia (não dá para ser, por favor), fico feliz que, tendo algumas prioridades, esteja a conseguir passá-las à minha filha. 

Quais são as vossas? 


2.17.2020

Ter uma filha é bom para o engate.

Desta é que não estava à espera!

Depois de me ter divorciado, quase imediatamente a seguir (credo, até parece que houve falcatrua, mas não houve), entrei numa relação de dois anos com alguém que conhecia desde sempre (assim parece ainda mais, mas não). E, assim sendo, não tive aí grande tempo no "engate" nem a ver o que pingava ou não.

Na minha cabeça - como já aconteceu tantas outras vezes relativamente a tantas outras coisas - abracei-me a um raciocínio que, afinal, não veio a verificar-se muito verosímil: achei que, por ser mãe (e divorciada) que o meu tempo de mercado já tinha acabado. 

Ao que parece, nem por isso.
E, se calhar, até antes pelo contrário?

Longe de mim querer dizer que ter uma criança é igual a ver um rapaz a passear um cão de forma amorosa num parque, não estou a dizer que seja... um isco poderoso, mas talvez seja algo que até funcione a nosso favor. Um bocadinho, vá. 

A conversar com um rapaz, daqueles que se conhecem nas aplicações mas, que por acaso, muito simpático e até que sabe escrever e pensar (choque total), ele disse-me que abaixo dos 30 as miúdas ainda lhe parecem muito imaturas e que, acima dos 30, parece que está tudo com pressa para ter filhos. 

Perceberam onde quero chegar? Ah, pois! Isto é: já estamos despachadinhas e, portanto, em princípio, o nosso relógio biológico não fará muito parte da equação. 

Por outro lado - isto já ele não me disse - acho que verem-nos a sermos mães ou saberem que o somos, activa ali o complexo de Édipo e desejam sentirem-se os nossos meninos. Ou, numa perspectiva menos patológica (ahah), vêem-nos como viáveis para procriação e criação de família, o que será atractivo para a maior parte da malta, tendo uma perspectiva relacional, claro. 


De facto, ainda ninguém fugiu quando disse que sou mãe de uma menina de 6 anos. Mas também não tenho tido engates que se tenham transformado em algo mais, não tenho apresentado ninguém à Irene nesse modelo.

Talvez o problema seja depois, quando for para começar a apresentar e as dificuldades na dinâmica, já que se atalham ali uns anos e algumas decisões e se acaba por receber o filho "de outra pessoa" que, depois, também acaba por ser um bocadinho nosso...

O meu principal desafio é encaixar vida social no meio de uma custódia não (muito) partilhada. Acabo por ter só fim-de-semana sim, fim-de-semana não para estar mais à solta (se é que me entendem).

Qual tem sido o vosso feedback? Ser mãe é tesudo ou não?



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Fica também aqui um dos nossos vídeos da semana no instagram, aqui falei sobre como comuniquei (ou não) à Irene sobre o final da minha última relação: