Uma coisa que tenho percebido nestes 5 anos e meio é que de nunca deixamos de ter dúvidas, quando somos mães. Quer dizer, pelo menos eu vou tendo sempre.
Acho que é inerente à maternidade. Eles crescem, mas nem por isso as dúvidas são menores. Muda talvez a intensidade, a urgência de saber, já não nos culpabilizamos tanto se ficam doentes, mas nunca se sente que se sabe tudo.
Há dúvidas que vou mantendo sempre: estarei a fazer o melhor para elas? Como é que resolvo este conflito entre as duas? Estou a ser demasiado intransigente? Estou a ser demasiado permissiva?
Eu acho que, tendencialmente, sou pouco "galinha". Raramente penso que o pior pode acontecer, em cada situação. Por exemplo, se sobem a uma árvore, não penso automaticamente que vão cair (e mesmo que esfolem o rabo todo - já aconteceu à Isabel, coitada - acho que para a próxima vai ter ainda mais destreza e coragem). Se vão em passeio com a escola, não fico nada preocupada (mesmo nada). Só muito curiosa. Se estão com os avós / tios, não ligo de hora a hora para saber como está tudo a correr. Confio. Se me pedem para cortar fruta, dou a faca quando acho que já têm alguma motricidade fina e percebem as minhas instruções. Ensino logo a subir escadas e a descer. Já cheguei a achar que tinha qualquer ligação interrompida no circuito-mãe. "Se calhar, é normal sentir-se mais medo do que eu sinto", pensei já várias vezes.
Posto isto, no outro dia a Isabel ofereceu-se para ir à mercearia buscar qualquer coisa que faltava. Acho que aveia. "mãe, dás-me um euro e eu vou lá num instante".
Fiquei a pensar naquilo. Acho que qualquer outra pessoa pensava "nem pensar, só tens 5 anos". E eu disse-lhe que agradecia imenso e que sentia um orgulho enorme por ela se ter oferecido, que era uma ajudante a sério, mas que ainda não deveria ir sozinha.
E ela: "mas é já ali". Aproveitei para lhe dizer que, mesmo sendo já ali, não deveria ir sozinha porque poderia cair e precisar de mim. Aproveitei para lhe dizer que, um dia que for sozinha, daqui a um ano, mais ou menos (?), nunca pode entrar no carro de ninguém nem ir para casa de ninguém, mesmo que dissessem que eram meus amigos.
E ela: "mas é já ali". Aproveitei para lhe dizer que, mesmo sendo já ali, não deveria ir sozinha porque poderia cair e precisar de mim. Aproveitei para lhe dizer que, um dia que for sozinha, daqui a um ano, mais ou menos (?), nunca pode entrar no carro de ninguém nem ir para casa de ninguém, mesmo que dissessem que eram meus amigos.
Ela quase me fazia um eye-rolling a dizer "sim, já tinhas dito isso".
Cara de felicidade. Hoje. |
Mas sabem que o meu instinto mais primário seria deixar? Tive de controlar isso mesmo, usando a razão. A mercearia é mesmo já ali atrás do prédio, em 3 minutos estaria em casa, eu com essa idade já fazia recados e distâncias maiores. Só que "eram outros tempos", "outra cidade" e - se calhar - outra consciência. Nem sei bem se, em termos legais, se pode deixar uma criança, com esta idade, sozinha. Pode? Eu vejo crianças a brincar ali no pátio em baixo sem adultos, mas não faço ideia se se pode. Pode?
E vocês? Como se sentem em relação à "liberdade" deles. Têm muitos medos?