Ui a história do meu casamento. Ui! Vou tentar resumir e também dar a versão alargada, já agora. Leiam, leiam que tenho uma pergunta para vos fazer no fim, 'tá bem? Bigadax (estou a gozar, não escrevo assim - mas falo).
Versão alargada (que, por acaso, é um excerto do meu livro que deveriam mandar vir que é porreirito hehe):
"Nunca tínhamos andado numa limosina, mas foi assim que saímos do aeroporto. Estavamos todos espapaçados por causa da viagem de mais de dez horas e com escala em Londres: cheiravamos a pessoas do metro, o nosso cabelo dava para fritar rissóis, o nosso corpanzil estava a ressacar de doses normais de tabaco (visto que comprámos as pastilhas de nicotina e, só com uma na boca, parecia que tínhamos engolido dois maços e meio de SG Ventil de uma só vez …
Independentemente do nosso espapaçamento, sabíamos que estavamos a caminho de um dos melhores momentos da nossa vida. Para o meu agora marido, estávamos cada vez mais perto do restaurante de um dos chefes preferidos dele. Para mim, era porque iamos para um hotel (adoro hóteis) e também porque nos íamos casar, exacto. Chegámos ao hotel e não tivémos tempo sequer para deixar as coisas no quarto. Largámos a mala no bengaleiro e fomos numa outra espécie de limonsina para o registo. Foi ali que ficámos oficialmente casados, mas não ligámos nenhuma até porque parecia a entrada das urgências de um hospital no interior. Dali fomos conduzidos para a capela. Levamos o nosso cestinho para pôr as alianças. É um cestinho onde comemos pele de leitão frita ou lá o que era com farinheira ou alheira e polvilhada com açúcar no restaurante onde fui pedida em casamento. Tenho tanta capacidade para descrever comida como para depenar soummiers por isso aconselho falar com o chef Vitor Claro do restaurante "Claro!" para se saber ao certo o que ele põe no tal cestinho e que roça o divino (que bem podia ser o nome de um porteiro de uma discoteca) - esta é uma crónica sobre o dia do nosso casamento e falei de leitão, não deve ser surpresa nenhuma para quem souber com quem estou casada.
Tínhamos o tal cestinho, mas não tinhamos alianças. Como não era o que mais importava, escolhemos as mais baratas de todas. Eram gordas (as alianças) e de leitão… Ai, não é leitão! É latão! Eram gordas e de latão, pelo que sabíamos que não iam durar para sempre, ao contrário do nosso matrimónio, claro (ohhhhhhhhhhhhhhh). Depois de compradas as alianças, lá ficámos encostados, de braço dado, à porta da sala onde casam os bêbados de álcool e de amor (ohhhhhhhhhhh), à espera que pusessem a tocar a música “do costume” (para eles, não para nós que não casamos por desporto). Como é que estava vestida? Com a roupa que levei para a viagem. Estava de calças de ganga, umas botas de salto-alto rafeirinhas que comprámos no Alegro, uma camisola da Zara, um lencinho com borboletas que a minha tia de Paris me ofereceu há uns anos e, obviamente, roupa interior. É uma coisa que gosto de fazer: usar roupa interior. O meu marido estava todo charmoso como é costume: uma camisa às riscas azuis que lhe realça a cor dos olhos (que não são azuis), umas calças de… A roupa do homem não interessa, pois não? Não. Nem a minha interessava. Queríamos lá saber da roupa.
Interessa muito mais dizer que a capela era tão pequena que mesmo a música de casamento editada ao máximo era demasiado longa para os quarto ou cinco passos que tinhamos de dar até ao altar. Assim que a música começou, andámos dois passos, esperámos dez segundos e só aí chegámos ao sítio suposto: ao pé do “minister” e do homem que carregou no rec da handycam que estava num tripé ao lado dele.
O minister, dotado de uma intensidade característica da sua especialidade, começou a falar umas coisas em inglês sobre amor e compromisso. Foi breve. Estávamos tão contentes e felizes que nos concentrámos em apertar a mão um do outro. Eu chorava. O meu namorado estava todo orgulhoso e com uma expressão e uma linguagem corporal que, certamente, se irá repetir no dia em que a nossa filha nascer. Nunca esteve tão bonito.
Repetimos aquelas palavras em inglês um para o outro. Ele disse tudo correctamente, mesmo com os nervosos e as mãos a suar. Eu troquei-me nalgumas coisas e chamei-lhe meu “wedding husband” nos votos. Não foi por nervosismo, não. Uma curiosidade sobre mim: gosto de acrescentar ditongos aleatoriamente (para mim, “ditongos”, faria mais sentido se fosse dintongos, mas tudo bem). A minha filha há de crescer a dizer que tem vontade de ir fazer “xin-xin”.
Naquele momento oficializámo-nos como um. Nenhum dos dois alguma vez quis casar. Foram precisos uns copos de vinho para ser pedida em casamento, mas não o obriguei a nada. No dia a seguir ainda não se tinha arrependido e nem eu. E agora, estamos ainda mais casados por já só faltar um mês e meio para sermos três.
Claro que, depois da capela, fomos para o hotel, fazer o que toda a gente está a imaginar. Achei que o meu marido merecia ter um momento daquilo que ele considera verdadeiramente erótico: jantar.
Ficámos três noites em Las Vegas e há um ano. O início do início deste teu início que está quase a começar.
Sinceramente, deixo ficar a última frase porque, apesar de não fazer grande sentido, há de haver alguém que descobre um significado bonito e que faça dela uma citação sentimental bimbalhota. Gosto de terminar assim: terminando o que nunca termina pois terminar trata-se de um começo que o coração envolve nas asas da criatividade.
Pumba, mais uma. Nicholas Sparks, aqui vou eu!
Parabéns, “wedding husband”. Ah! O meu marido disse-me agora que o que comemos no cestinho no "Claro!" é massa de coscorões com açúcar e canela, em vez de pele de leitão. Pronto."
GAMA, Joana. Estou Toda Grávida, Chiado Editora, Lisboa.
Versão Curta:
Ele viu-me a actuar numa noite de stand-up comedy e achou-me piada. Começamos a falar, começamos a namorar, pouco tempo depois casamos em Las Vegas, transcrevemos o casamento para Portugal e decidimos ter a Irene. Tudo isto em menos de 3 anos. Deve fazer agora três anos, não sabemos.
Questão:
Neste momento (e já há um ano) estamos os dois 24 horas por dia em casa juntos. Eu tive o privilégio de poder gozar uma licença sem vencimento durante um ano e ele é argumentista freelancer. Somos muito felizes, adoramos estar juntos, a nossa compatibilidade não está em causa. Acho que desafio mais complicado que este, só o da distância intercontinental. Penso muito nas mães que ficam em casa com os filhos e que não têm ninguém para as ajudar. No meu caso, parece-me dificultar muitas vezes o meu "trabalho". O meu marido não tem paciência para ler as coisas que eu leio, a maior parte das coisas que lhe digo "parecem não fazer sentido algum" e sou muito ansiosa, coisa que o deixa enervado. Quando, por acaso, está um de nós sozinho com a Irene, as coisas correm muito mais smoothly. Sou muito muito chata e ele é muito pouco tolerante ao meu índice de "chatemento" se não lhe fizer sentido. E, apesar de me respeitar sempre nas minhas decisões no que toca à Irene (és o maior, amor), é muito difícil tê-lo de coração nas coisas que lhe peço para fazer que, para ele, não tenham lógica. Desde a não aquecer leite materno no microondas (que pode ser aquecido, mas que mata algumas das propriedades por isso, no meu entender, não se deve aquecer), enfim, sou muito comichosa.
E gostaria de saber se somos todas em relação aos nossos maridos ou se devo poupar uns tostões e internar-me algures (desde que tenha wireless, senão faleço).