3.25.2021

Estou com mais 15 kgs

Pensei muitas vezes se deveria escrever este título. É um bocadinho clickbait, é certo, porque sei que este é um tema que nos interessa a todas. E ainda continuamos a gostar muito de falar em kgs, mesmo que eles, por si, possam ser relativos. 

No meu caso, não os vejo como a maior das minhas preocupações no momento, mas acabam por ser mais uma coisa a acrescentar à lista de mudanças na minha vida.

Primeiro: o meu ponto de partida para estes 15 kgs são uma época em que treinava 3 vezes por semana, fazia pilates e ioga, tinha os meus horários, as miúdas andavam felizes na escola, não havia cá pandemia, podia viajar e andava feliz (com as minhas oscilações normais, mas bem). Depois seguiu-se um período menos bom, mas não deixei de treinar (até pelo bem que me fazia à cabeça) e de estar o mais "seca" que estive, com 64. Estava com menos 6 kgs (e bastante mais massa muscular) do que o meu peso "de toda a vida", que ronda ali os 70kgs. Nunca me senti tão bem fisicamente. 

Comecei a trabalhar em TV em dezembro desse ano - 2019 - e começou o "descalabro". Sem grande tempo para treinar, petiscar a toda a hora no escritório enquanto editava, um Continente mesmo ali em baixo para ir comprar rebuçados... puff ganhar 5 kgs foi bem fácil. Depois pandemia, filhas em casa, teletrabalho no início, sem trabalho uns 3 meses, pães e bolos dia sim-dia sim, pumbas... mais uns quantos. Nessa altura já nem me pesava, só via a roupa a ficar cada vez mais apertada e a ter de comprar calças novas. Estes últimos meses fizeram o resto: ansiedade, separação, stress, confinamento, Covid e muito tempo deitada, vício do açúcar e de estar sempre a morder alguma coisa, cozinha ali mesmo ao lado... nem preciso de dizer mais nada, não é?

Não tenho um discurso nem de vitimização nem de culpabilização. É o que é. As nossas circunstâncias, aquilo que somos em cada momento, as nossas dores e falta de tempo para tudo - e disponibilidade mental - levam-nos a estes períodos e nem sempre temos forças para mudar. A mim, acontece-me muito aquele "perdida por cem"...

Quando acho que estou pronta para a mudança, para voltar a comer bem (de forma balanceada) e a fazer mais exercício, acontece qualquer coisa - neste caso, a minha última doença. 

Esta semana, comecei por comer bem, muitas saladas e legumes no forno, proteína, alguma fruta... e ontem já cedi aos doces. Não descansei enquanto não estraçalhei um bolo enorme que enviaram cá para casa (tive de o deitar o resto fora - que odeio - para não continuar a comê-lo quase de forma compulsiva, imaginem. Iria comê-lo inteiro sozinha, eu conheço-me). 

Tinha recomeçado a correr 5kms e andava toda contente, mas agora não me sinto nem com força anímica nem com vontade. Queria tanto reconquistar essa vontade! Como se faz? Como se dá o clique? Já nem me lembro.

Não tenho propriamente uma meta que envolva números: "perder x kgs" - o que acho que facilita, mas não queria ir por aí. A minha meta é: ficar mais saudável, ter menos sono (também não ajudam os anti-histamínicos que ando a tomar, está quase a acabaaaaar, yeah), ter uma pele menos flácida... Às vezes olho para as minhas pernas e vejo nelas o corpo da minha avó Isabel: herdei muito a estrutura dela, era alta, como eu, cintura alta - ou quase sem cintura também-, pés e mãos muito parecidos. Curioso, agora que me lembrei dela, as pernas flácidas são mesmo irrelevantes. Que saudades!

E é muito isto. Claro que procuramos a melhor aparência possível, claro que andamos a correr todos um bocado atrás de um ideal qualquer que alguém se lembrou de criar... mas o que importa mesmo é cuidarmos de nós, como um todo, sem cobranças loucas e ideais irreais.

A teoria está lá e prática?...

Como estão vocês? O que têm feito por vocês e o que querem fazer?

                                           


3.22.2021

Afinal as mães ficam doentes.


Acho que se contam pelos dedos de uma mão as vezes em que fiquei doente nos últimos 7 anos. Aconteceu algumas vezes toda a família ter gastro e a mim nada pegava. Tinha um quase-orgulho em ter uma saúde de ferro, confesso. E era um alívio.

Agora, são raros os meses em que não tenho alguma doença, algum vírus, alguma bactéria. 

Claro que foram muitas as transformações neste último ano. Primeiro, ficámos em quarentena; depois, fiquei sem trabalho uns meses. Para compensar, desde a primeira semana de agosto que não tenho férias, a somar ao facto de ter ficado em isolamento com crianças em casa, zooms, desgaste e stress. Separação, mudança de casa, de rotinas, de tudo. Nem por isso andei a comer melhor ou a praticar mais desporto, a dormir bem, a fazer meditação e afins. Nada. Piloto automático e a parar só quando sou obrigada a isso: quando estou doente. 

Eu sei: é uma resposta do meu corpo à forma como o tenho tratado. Foi infecção urinária no final do ano, seguida de covid em janeiro e agora herpes zoner. 

Se não tivesse sido uma seguidora a alertar-me para a possível zona (fui à farmácia e não souberam dizer-me o que eu teria - parecia picadas de inseto, mas estava a alastrar), mais tarde teria atuado. Liguei para a Saúde 24 e o médico arriscou logo dizer que era zona, mesmo sem ver (tais eram as coincidências com a listagem de sintomas), e reencaminhou-me para as urgências. Às 2h e tal da manhã estava a levar corticoides e mais não sei o quê para acalmar as dores e as comichões. 

A zona (conhecida como cobreiro em algumas zonas do país) é uma doença infecciosa, da família da varicela. Não terei apanhado com ninguém, mas simplesmente "reativei" o vírus da varicela que tinha apanhado em miúda (o vírus invade as terminações nervosas da pele e migra até algumas cadeias de gânglios localizadas próximo à medula espinhal e ao cérebro, conseguindo, assim, permanecer “escondido” do sistema imunológico por períodos que podem durar décadas). Na semana passada, deixou de se esconder. Dá dores fortes, nevrálgicas, ardor, sensação de queimado, comichão... uma série de coisas que não matam, mas moem. Eu achava que tinha sido picada e feito alergia e que estava com um torcicolo, mas afinal era tudo a mesma coisa. Peito, costas/ombro, pescoço, cor cabeludo, tudo se encheu de borbulhas e de dores. Felizmente, a tomar 5 coisas diferentes e ao fim de 5 dias, os sintomas melhoraram e muito. 

Psicologicamente, estou melhor. No início, perguntava-me "porquê eu?", desabafava "outra vez" e achava que não ia ter coragem de enfrentar tantas dores de novo. Tive e tenho, para muito mais. Tenho de ter, que outra hipótese há?


Agora tenho enchido o meu corpo de sopas e vegetais, nutrientes com fartura, para ver se reforço este sistema imunológico, que anda mesmo em baixo. 

Afinal, as mães também ficam doentes. É pena só sabermos parar e olhar para dentro quando algo de maior nos abala e nos obriga a isso. O nosso corpo vai dando tantos sinais, mas só com um grande abanão percebemos que temos de MUDAR. Mudar a forma como comemos, mudar a forma como andamos a pensar, a falar para nós próprios, a forma como nos damos aos outros, a forma como andamos a trabalhar, o stress, que deixamos apoderar-se de nós... 

Quero voltar a fazer exercício, pelo menos 3 vezes por semana, voltar a meditar e exigir menos de mim noutras matérias. Quero estar melhor, menos doente, quero ser uma mãe melhor e mais forte. Deixar de tapar o sol com a peneira e só pedir ajuda quando já é tarde.

Afinal, as mães ficam doentes. 



3.02.2021

Já não me sinto tão culpada

Num ano de pandemia, já passei por vários estados. Já me senti culpada por não conseguir chegar a todas as frentes, trabalhar bem, ajudá-las na escola, fazer refeições decentes. Já dei tudo o que tinha para que tivessem estímulos e se sentissem motivadas, já relaxei e pensei que "já estarmos todos vivos é uma sorte", já me senti extremamente frustrada, já chorei com elas, já me enchi de coragem e tive esperança. Já vivi dia após dia, mas também já quis fechar os olhos e acordar um mês depois.


Já pensei, mais do que uma vez, "elas ficam bem" e já lamentei várias vezes por este ano cheio de mudanças, por mais uma festa de anos da Isabel sem amigos, pelas saudades que têm das primas, dos avós, da vida sem grandes restrições. Claro que relativizo, claro que penso na sorte que temos. Mas nem por isso consigo levar tudo de ânimo leve.

Uma das coisas que me fazia sentir culpada era sair para ir trabalhar e ter de as deixar em casa. Gravações em televisão significa que já não as vejo nesse dia, que já não as deito e aconchego. 

Agora já não me sinto tão culpada. Percebi que a culpa, neste caso, não leva a lado nenhum. Que não me ajuda a ser melhor. Nos dias em que estou com elas, dou o meu melhor (e não me condeno quando não estou capaz de dar mais). Claro que ainda me sinto assoberbada quando tenho as duas em zoom a chamarem de um lado, a outra do outro e eu a ter de me concentrar a trabalhar. Claro que lamento não ter uma maior organização, preparar refeições com antecedência, calendarizar melhor tudo, mas QUEM TEM? Quem estará a ser capaz de fazer tudo e de manter a sanidade?

Deixemos a culpa de lado. Isto não é fácil e ponto final. Encorajemo-nos uns aos outros, ouçamos os desabafos uns dos outros e mantenhamos a coragem. Não somos culpados, caraças. Força a todos!