6.11.2019

O que fariam vocês?

Ontem, quando o avião aterrou, estavam as duas a dormir. Eu estava sozinha com elas. Levantei-me, mochila às costas, saco com os documentos e livros de colorir, uma num braço e a outra no outro. Pousaram as cabeças e continuaram a dormir. E eu continuei corredor fora. Não houve ninguém que me oferecesse ajuda. Atenção que não estou a fazer queixinhas. Quando escolhi ir de férias com elas e com o meu irmão, já sabia que ele regressaria 4 dias mais cedo e que regressaríamos à noite, tarde, e que isto poderia acontecer. No entanto, tive esperança que o carrinho estivesse à nossa espera logo no corredor, como já me aconteceu algumas vezes. Mas não. Paciência, vamos lá, não encontrei outra solução. Felizmente, uns metros depois, a Isabel disse-me ao ouvido: "mamã, estás pesada, eu posso ir a pé". Não estão bem a ver o meu coração a explodir de alegria. Inesperado. Único. À meia noite e meia a minha filha estava, contra todas as expectativas de uma criança de 5 anos cansada, a ser tudo aquilo que eu precisava - uma ajuda. 

A Rita Ferro Alvim, que foi connosco, não é para aqui chamada. Além de vir mais atrás no avião, tem uma filha pequena que também estava a dormir e um filho também pequeno e muito fez ela depois ao ficar à espera do carrinho, que não vinha, e a ir buscar-me o carrinho às bagagens de formato irregular, que ficavam só no sítio mais distante possível - o que dá sempre jeito para quem tem bebés. Confesso que nunca me tinha acontecido - costumam ou entregar logo à saída no corredor ou estar logo no tapete das malas. Só lhe tenho de agradecer a companhia e a ajuda.

Isto não é, volto a frisar, um ataque a ninguém. Nem eu tenho a certeza do que faria numa situação destas ou se sequer ainda "via" alguma coisa àquela hora. Quero acreditar que sim, sei lá. Uma senhora com alguma idade, já no tapete das malas, quando me sentei no chão com a Luísa a dormir no colo e a Isabel encostada, se ofereceu para ajudar em alguma coisa. 


Mas pus-me a pensar em duas coisas:

- se calhar as pessoas têm medo de se oferecer para dar colo a uma criança que não seja "delas"

Uma vez li um post da Joana Gama que falava de um certo desconforto que cumprimentassem a Irene com abraços ou a agarrassem - já não me lembro bem - e percebi que somos todos muito diferentes no que diz respeito a limites, medos, corpos, etc.
Eu não vejo, à partida, razões para temer, nestes assuntos. Sou das que não fica melindrada com o facto das minhas filhas trocarem de fatos de banho na praia e fiquem um bocadinho nuas com receio de que haja predadores algures. Ou que mostrem mamas com estas idades. Ou que o animador da piscina a leve às cavalitas ou lhe faça cócegas. Por favor! Por que havemos - sempre - de pensar o pior? Que clima de suspeita é esse que se foi criando? Não sou ingénua, não, mas acho que o clima de medo com que querem que vivamos ou em que escolhemos viver também não nos faz bem enquanto sociedade. Ensinarmos aos nossos filhos o consentimento e os limites, sim, claro, não os obrigarmos a irem ao colo de outra pessoa, caso não queiram também me parece óbvio, mas calma! Nem 8 nem 80. E já nem falo das casas abertas para os vizinhos nas aldeias, que acho que isso já não existe, mas acho que andamos a ficar um bocado medrosos de mais, e que isso impede que se construam "aldeias" de entreajuda: "ficas aí um bocadinho com o meu filho para eu ir ali ao banco?", dito à vizinha do lado. Estamos a perder, cada vez mais, um olhar atento ao outro e às necessidades do outro e isso também nos prejudica a nós, num todo, enquanto comunidade.

- se calhar as pessoas acharam que se eu precisasse de ajuda, pediria

Não sei se ganhámos vergonha de pedir ajuda. Se calhar sim. Como se fosse significasse fraqueza. Queremos provar aos outros que está tudo controlado, que somos muito fortes e práticos e que somos capazes. Assumimos a responsabilidade de tudo, por inteiro: "os filhos são meus, aguenta". Eu já comecei a conseguir pedir mais ajuda, até para poder ir fazer coisas que não são assim tão importantes - por exemplo, no outro dia pedi à minha cunhada para me ficar com as miúdas para eu ir jantar fora ou assim, já nem sei. Não era para ir trabalhar, nem para resolver nada sério. Era simplesmente para ir espairecer e estar com amigos. E então? Correu tudo bem. Um dia, se ela ou outra pessoa qualquer me pedir ajuda, por saber o bem que me soube, vou querer retribuir, em dobro até. Favores em cadeia! Uma utopia? Talvez.

Mas bem, se fossem no mesmo voo que eu e só tivessem uma mochila para levar (e estivesse tudo okay com as vossas costas, etc), o que acham que fariam? E se fossem vocês as mães com duas crianças ao colo, pediriam ajuda? Acordavam-nas?

P.S. Aproveito para vos convidar a verem o primeiro vídeo do A Mãe é que sabe AJUDAR que já saiu no Youtube! Aqui!

27 comentários:

  1. Acordava pelo menos a mais velha! Tentava sp n viajar sozinha a essa hora, mas sem drama, se acontecesse acordava-as sim

    ResponderEliminar
  2. Olá, Joana! Enquanto pessoa que adora crianças e que facilmente brinca com crianças em aviões, filas de supermercado, elevadores o que seja... Reconheço que nem todos os pais são simpáticos ou "vêem com bons olhos" essas interações. Quero acreditar que estaria atenta o suficiente para pedir ajuda. No entanto, reconheço que poderia ficar reticente com a resposta. De facto, a maioria dos pais, por desconfiança, medo ou o que seja, não deixaria os filhos ou as coisas com qualquer pessoa (principalmente num aeroporto), acredito eu. De qualquer modo, cabe-nos reverter esta tendência. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, eu percebo isso tudo e foi por isso que fiquei a pensar. Talvez eu seja demasiado relaxada, porque num voo com tugas, a chegar a Lisboa, identificados, não imaginava que pegassem numa delas e a levassem.

      Eliminar
  3. Olá Joana, eu era capaz de oferecer ajuda...já me aconteceu precisar imenso de ajuda e na altura so tinha uma filha e as pessoas que estavam comigo simplesmente não ajudaram, mas atenção, eu devia sem dúvida ter pedido, as pessoas não são todas iguais e não nos leem pensamentos isso é certo. Beijinhos às princesas

    ResponderEliminar
  4. Joana, com toda a certeza que oferecia ajuda se visse uma mãe com 2 crianças ao colo. Mas se fosse eu, também não pediria ajuda, e provavelmente acordaria a mais velha. Concordo quando diz que já não há hábitos de pedir ajudas a vizinhos, infelizmente... Muitos já nem os conhecem, quanto mais. Mas estou consigo, não deixaria d fazer nada por ir sozinha com crianças ��

    ResponderEliminar
  5. Eu julgo que lhe oferecia ajuda para carregar as malas/sacos/mochilas, mas não para pegar numa das crianças. Penso que seria estranho, ou demasiado íntimo, vá, e o pai/ mãe poderiam sentir tb algum desconforto. Eu não o faria com os meus filhos, p. ex (tb tenho 2). Agora, ajuda com a bagagem, claro que sim. São os serviços mínimos da boa educação 🙃

    ResponderEliminar
  6. Quando estava gravida da minha filha mais nova, o meu filho então com 5 anos adormeceu no comboio. Na hora de nos levantarmos para sair na estação tentei acorda-lo e ele estava ferrado. Pensei para comigo: "como é que eu vou fazer?"Confesso que fui tentando acordá-lo calmamente mas na tentativa que uma alma caridosa se apercebesse e oferecesse ajuda.Não foi preciso muito. Um cavalheiro que estava perto de mim ofereceu-se logo, não para levar o meu filho pois não fazia ideia que eu estava gravida, mas para me ajudar com a bagagem.Felizmente tenho tido boas experiências,mas vivendo numa cidade grande não tenho grandes expectativas. E sim nós mães não pedimos ajuda pois achamos que somos umas super mulheres...e a verdade é que no que toca ás crias somos mesmo.Eu ajudaria, aliás o meu marido é daquelas pessoas que ate leva as compras a casa da senhora idosa que encontra na rua com dificuldades.Mas também sei que no seu lugar não pediria ajuda. Somente porque acredito sempre que serei capaz...

    ResponderEliminar
  7. É uma situação deveras "difícil"... Não sei se ofereceria colo, não sou muito receptiva a que estranhos peguem nos meus filhos ao colo daí não sei se ofereceria esse tipo de ajuda com medo da reação da mãe/pai... Só na situação real o poderia dizer! Provavelmente perguntaria se precisa de ajuda e como poderia ajudar... iria buscar as malas, o carrinho, a comida, e mais que fossem preciso para ajudar... Isso tenho a certeza!!!

    ResponderEliminar
  8. Realmente não sei se me oferecia para pegar nalguma das meninas, mas oferecia a minha ajuda para carregar tudo o resto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois, eu acho que oferecermo-nos para levar crianças que não são "nossas" ao colo, na nossa sociedade, já é visto como algo estranho... Mas até sinto uma certa pena...

      Eliminar
  9. Flávia Rosado11:52 da tarde

    olá pessoal!
    O meu marido é camionista, então fui muitas vezes às compras com o carrinho de bebé e o supermercado ao mesmo tempo, sozinha. Umas vezes havia senhores que me ajudavam a levar o carrinho das compras para o carro outras vezes não tinha tanta sorte. Fazer as coisas sozinhas às vezes é dose. É complicado perceber que todos sabem ver mas ninguém sabe ajudar. Será que já não se sabe ajudar? Já ajudei tantas mães e pais. Mas eu acho que hoje em dia as pessoas também têm medo de pedir ajuda, sim. 😢 devia haver mais entre-ajuda entre as pessoas ❤️ Beijinhos grandes

    ResponderEliminar
  10. Eu ofereço ajuda quando vejo país sozinhos mas porque sou mulher. A minha cara metade já ofereceu e levou com um olhar que claramente estava a julgar se ele era pedófilo pelo que nunca mais ofereceu (não julgo!!!)

    ResponderEliminar
  11. Olá Joana, viajei várias vezes sozinha com a minha filha desde os 3 meses de idade.
    Ao ler o post lembro-me de uma situação em especifico. Estava de pé, no meio do corredor do avião com uma bebe de 7/8meses ao colo, uma mochila e uma bagagem de mão. Tinha de colocar a bagagem em cima e não houve uma alminha que oferecesse ajuda;olhei em volta e algumas pessoas até evitavam contacto visual. Um senhor de meia idade sentado num dos lugares do meio cruzou olhares comigo e eu perguntei se me podia ajudar, mas ele tava meio "preso", então perguntei se ele não se importava de segurar na bebé enquanto eu tratava das malas e afins e lá ficou ele, a segurar na Alice que olhava para ele muito admirada com a barba.
    Quero acreditar que se fosse eu do outro lado perguntaria se a pessoas precisava de ajuda.

    ResponderEliminar
  12. Raquel Vale10:14 da manhã

    A primeira opção seria acordar a mais velha. A pedir ajuda pediria ao pessoal de bordo.

    ResponderEliminar
  13. A situação era fácil de prever, por isso explicava à mais velha, pelo menos, que iria ser acordada quando chegássemos a Lisboa. Talvez seja atitude de má pessoa, mas não me ofereceria para pegar numa bebé.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não previ porque me têm dado o carrinho sempre à porta :)
      Não acho que se seja boa ou má pessoa em nenhum dos casos ;)

      Eliminar
  14. "Ou que o animador da piscina a leve às cavalitas ou lhe faça cócegas. Por favor! Por que havemos - sempre - de pensar o pior?"

    Era mesmo necessário esta parte? Um pouco mais de compreensão pela sua parceira de blog não lhe ficava nada mal.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não me estava a referir nada à parceira do blogue. Estava a referir-me a uma coisa que aconteceu no hotel onde estive e que adorei ver. Não percebi...

      Eliminar
    2. Então lê os posts da JG, que talvez já percebas. :)

      Eliminar
  15. Tenho 3 filhos e sempre viajei muito com eles. Nesse caso tinha acordado a mais velha quando estivéssemos a aterrar apesar de não ter qualquer problema em pedir ajuda sempre que preciso (inclusive aos vizinhos!). se visse essa situação podia propor ajuda para carregar a mochila ou algo de género mas não para levar as crianças ao colo: primeiro porque acho que podem andar sozinhas, depois porque muitos pais não gostam.

    ResponderEliminar
  16. Não sei se eu gostaria que alguém carregasse as minhas filhas... talvez as mochilas e tal. Mas uma das coisas a fazer é certificar-se a entrada do avião que o carrinho das crianças da mesma forma que teria sido entregue a entrada do avião ser-me-ia devolvido no mesmo local obrigatoriamente.
    Quanto ao aeroporto de Lisboa, sim o tapete de mercadoria fora de formato não poderia ser mais fora de mão, principalmente nestes casos.
    Eu ofereceria ajuda sem problema se o pudesse fazer, mas se tivesse no lugar da Joana, talvez acordasse a mais velha, que poderia não gostar, mas seria menos um peso no colo. Talvez acordar um pouco antes do avião aterrar para a ir preparando mentalmente. Outra opção teria sido viajar noutro horário, mas nisso entendo que às vezes não dá, pq já me aconteceu a mim querer mais cedo e não dar. Vida de mãe não é fácil!

    ResponderEliminar
  17. Olá Joana. Como mãe de dois meninos, e como alguém que viajou sozinha com eles durante 3 anos sozinha (estivemos a viver fora) entendo perfeitamente. Comecei nesta aventura tinha o mais pequeno 1 ano e o mais velho 4. Voos em saia de casa à 00h e chegava à outra casa às 16h, sempre com escala pelo meio. Muitas vezes acordei o mais velho e pedi-lhe ajuda com a mochila dele e com um ou outro boneco. Mas muitas vezes também deixei-os dormir, não tinha coragem de os acordar. Fiz escalas sozinha, muitos voos sozinha e sem dormir. Por vezes simpaticamente alguém me ajudava, mas muitas vezes ninguém me perguntava nada. Senti muitas vezes que olhar para o lado é mais fácil e mais confortável. Também não sou de pedir ajuda, mas aceitei sempre que ofereceram. E agradeço muito aos desconhecidos que alguma vez ajudaram. Entendo todas as opiniões, mas ajudar não custa nada e sabe tão bem...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ou seja, a Sandra não tinha de pedir ajuda mas os outros tinham de a ajudar?

      Eliminar
  18. Eu cá acho que membro da tripulação deveria ter oferecido ajuda... Sobretudo porque o carrinho não foi entregue à saída do avião porque o devem ter despachado para o porão. E ficou evidente que precisava dele.

    ResponderEliminar
  19. Boa noite, leio este post e não consigo evitar pensar que há aqui uma mistura de temas. Não vejo nada mal pedir ajuda, oferecer ajuda para levar uma bagagem, etc mas não consigo entender o à vontade de oferecer ou aceitar que um filho vá ao colo ou interaja de forma física com um desconhecido... Seja de que forma for. Não digo isto por desconfiar das intenções das pessoas mas por uma questão de princípio. Se a teoria base é "não falar com estranhos" as ações devem corresponder.

    ResponderEliminar
  20. Aconteceu-me parecido há pouco tempo. Cheguei tarde a Lisboa, a minha filha adormeceu e eu sozinha grávida com as malas. O que me salvou foram os carinhos de criança do aeroporto, a Joana não viu? Se calhar não estão em todas as portas de embarque.
    Recebi muitos sorrisos de apoio mas tb ninguém se ofereceu ou me deixou passar a frente na fila do controlo de passaporte, isso pareceu-me triste mas também confesso que não pedi.

    ResponderEliminar
  21. Passar a criança a dormir para o colo de um desconhecido, não o faria... Pedir ajuda a alguém, n sei se o faria, pois sou muito envergonhada, mas também nunca passei por isso, como tal só estando na situação para saber como agir. Mas sei que se visse alguém nessa situação, eu perguntaria se precisava de ajuda.

    ResponderEliminar