10.30.2016

A importância de sermos dois.

Ontem fomos jantar os dois sozinhos pela primeira vez desde que a Luísa nasceu. Foi a segunda vez que me afastei da bebé: só a tinha deixado a dormir para ir ao velório do meu avô. Ontem parecia que tínhamos uma missão secreta e fizemos um trabalho de equipa perfeito: cada um entrou num quarto e deixámos as miúdas a dormir em pouco tempo (o David adormeceu a Luísa e eu a Isabel), saímos sorrateiramente dos quartos e pisgámo-nos sem deixar rasto. Duas horas e meia depois estávamos de volta com um sorriso nos lábios, como se nada tivesse acontecido, como se fosse um segredo só nosso. Soube-nos bem. 

Sei que muitas de vocês não o conseguiriam fazer, sei que muitas outras já o teriam feito. Somos diferentes e temos necessidades e vontades diferentes e é nessa pluralidade que, para mim, reside a magia de estarmos neste mundo (que pirosada, eu sei).

Senti-me preparada e confiante. Maquilhei-me, deixei o cabelo meio despenteado para fingir que até nem estou careca, vesti um casaco giro de cabedal - que nem foi preciso graças à noite de verão que estava - e lá fomos nós até ao Festival de Gastronomia.  Achei que o risco de não correr bem era pequeno face ao bem que me (nos) podia fazer. Se tivessem acordado, estava cá a minha mãe, que fez um bom trabalho comigo e com o meu irmão (eheh), e - mesmo que não tivesse dado conta - estávamos a 20 minutos de distância. A Luísa já tinha dormido a noite toda na noite anterior e calculei que, por não ter feito mais febre nem ter já grande tosse, o fizesse de novo. Deixei leitinho, mas a minha intuição dizia que não iria ser preciso. Não foi. Dormiu a noite toda, assim como a Isabel, que já não o fazia há algum tempo. Tivemos um bónus: além de termos ido namorar, dormimos bem. Os astros conspiraram e eu senti-me ainda mais realizada. 

Para mim, a vida mudou muito depois de ser mãe. Teve de mudar. Os horários são diferentes, as preocupações são outras, as rotinas são importantes, as sestas, a alimentação, as noites: pouco ou nada permanece igual. É o expectável, é assim que tem de ser. Não acredito muito no "continuei a fazer exactamente as mesmas coisas", nem acho que faça sentido. Percebo que os bebés se possam adaptar a muitas das nossas rotinas anteriores, mas acho que também nós temos de nos moldar às necessidades deles. É uma questão de bom senso, de ir apalpando terreno, é ir pesando tudo numa balança e percebendo o que nos faz bem a todos, em conjuntoTambém é verdade que um bebé vem tirar, pelo menos numa fase inicial, alguma disponibilidade mental ao casal, enquanto parelha. Passam a ser um trio, um quarteto, a virar alguns - muitos - interesses para o(s) rebento(s) e às vezes esquecem-se de que já cá estavam antes e que sabe bem tirar um bocadinho do dia, da semana, para eles, seja no sofá da sala, num banho, a ver uma série, enroscadinhos, seja a ir dar um passeio, jantar fora, um cinema. Sabe bem dar as mãos e andar abraçados sem ter uma mala cheia de fraldas a pender. Sabe bem dizer uns disparates, trocar uns beijos mais demorados, comer umas tapas, sem ter de limpar um ranho, dar um colo, acalmar uma birra. Mesmo que as conversas vão ter a eles, mesmo que eles estejam presentes no nosso pensamento e entranhados na nossa pele. Ainda bem. Mas é bom distanciarmo-nos umas horas para poder parar e ouvir o coração a bater forte, ter saudades e voltar para eles.

Isto quando quisermos, se pudermos, se fizer sentido, se estivermos preparadas.




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e o @aMaeequesabe também ;)

8 comentários:

  1. E como sabe bem as vezes sermos só dois... mas as saudades de quando nos separamos é maior que a vontade sermos só dois... mas temos qque ser fortes e aproveitar o momento...

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  2. Esta é também a minha visão Joana, aos 3 meses da L saímos para ir ver um dos jogos da selecção nacional no Europeu. Foram 2 horas mas soube mesmo bem! Jantar ainda não fomos porque infelizmente ela não adormece facilmente nem faz boas noites mas várias vezes já fomos almoçar ou à sessão da tarde no cinema :-)

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  3. Eu sou das que não deixa o meu filho com ninguém, não me sinto bem, só de pensar estremeço. Acho que ele é minha responsabilidade e que é comigo que ele se sente bem. Mas é claro que todas as opiniões são válidas temos é de viver bem com elas

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  4. Não sou mãe, sou "madrasta" (essa palavra horrível... que a Disney desgraçou...), e por isso obviamente que esse sentimento de perda, de vazio e de inquietação não o sinto. Por isso quero falar do outro sentimento, e esse sim conheço bem, o de poder voltar a ser só um casal por momentos.
    Esse espaço é fundamental e retemperador. Faz falta a todos: a nós mulheres, ao casal, aos miúdos.
    É de extrema importância voltar a onde tudo começou: ao tempo em que éramos só 2 (isso efectivamente nunca aconteceu, eles já existiam obviamente). Voltar ao tempo em que as atenções eram só entre dois seres que se amavam e queriam estar juntos.
    O dia-a-dia é capaz de corroer o amor mais sólido: birras, TPC, roupa para passar, dores de barriga, Lista de supermercado, noites mal-dormidas,etc. E poder olhar olhos nos olhos da pessoa que escolhemos sem o "onde está o comando?", ou o "odeio essas ervilhas nojentas!", ou o "Paaai! Já fiiiiiiz!", é algo brutal!

    Por isso, vão, relaxem, sem medos ou proíbições. Eles, os pequenos, ficam sempre bem.

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  5. Para mim é tão necessário deixa-los para ir trabalhar como para arejar a cabeça e namorar com o meu marido.

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  6. Eu saí, pela primeira vez, depois de ter sido mãe do meu primeiro filho, tinha ele 6 meses. Ficou com a minha mãe. Foi estranho, mas ao mesmo tempo sabia que ele estava super bem cuidado. Foi quando foi possível, mas se tivesse sido antes, era. Acho importantíssimo continuarmos a ser dois depois de sermos 3, 4, 5... Hoje tenho dois filhos, casada há 14 anos e continuamos a fazer de tudo para termos momentos só nossos. E com os miúdos a crescer cada vez é mais frequente isso acontecer. Nesta fase já são eles que imploram para ir dormir aos meus pais, ou á minha irmã para brincarem com os primos. :) Uma vez por ano e eles vão acampar durante uma semana. É a nossa semana! :D Mesmo a trabalhar, todos os dias saímos nem que seja para jantar. Que continuem a investir na vossa felicidade conjugal, para serem ainda melhores pais, é o que vos desejo! ♥

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  7. A minha filha tem quase dois anos e nunca sai sem ela. Ainda não senti essa necessidade mas compreendo e respeito totalmente quem o faça. Acho que não o faço apenas porque quero aproveitar tudinho dela... sei que daqui uns anos vou morrer de saudades destes anos. Que era só "nossa". Podia aproveitar para sair quando ela dorme como a Joana fez...mas eu sou mais do tipo lontra cansada que não tem forças para sair do sofá...

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  8. Acho que é uma coisa um pouco inconsciente essa ansiedade de deixar os bebés sozinhos. Quando são deixados com pessoas de confiança, não me parece que haja razão para medos. Os bebés só querem comer e dormir, coisa que, por umas horas, tanto lhes dá quem quer que seja que lhe dê de comer ou os ponha a dormir. É o instinto de mãe, bem sei, mas ás vezes (muitas) devemos por-nos do lado de fora da cena para deixarmos de lado a ansiedade.

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