8.07.2019

Querem desanuviar o cérebro?

Óptimo. 

Tenho arranjado algumas artimanhas para "desaparecer" quando preciso porque, sejamos francas, às vezes é mesmo preciso. Um dos meus sítios preferidos para estar é a piscina do Hotel Intercontinental Cascais-Estoril.

Chamem-me betinha por ter ali a praia à mão de semear e preferir a piscina, mas quando digo "desaparecer" é evitar também muito contacto com pessoas. Não que as odeie muito mas, nestes dias, quero higiene visual de seres humanos. 

Além de ser um sítio onde me sinto com alta privacidade (as cadeiras têm disposições pontuais em que sentimos até que a piscina é só para nós), a piscina é de um extremo bom gosto e claro que tem um serviço de bar a acompanhar. 

Já é a segunda vez que lá vou e continua a ser, pela localização, dos meus sítos preferidos na linha. Obviamente que a companhia também faz toda a diferença ;) Não vale a pena irem lá com alguém que não gostem muito porque não vai ser o hotel que vos vai salvar... digo eu! ;)

Vejam só esta entrada com o paraíso como destino... 

Vá, só para terem uma ideia melhor do que falo... 

A menina até se deixou fotografar relaxada. 

E este não é o caso daqueles hóteis que é tudo muito lindo e, depois ao jantar, afiambramos um bitoque com medo do resto do menu. Até eu que não como peixe nem nada que venha do mar tive um jantar fabuloso. E não foi do vinho a falar. Só bebi um copito (embora isso em mim chegue para cantar Shania Twain em 2019). 


Se repararem olhei para uma foto minha na banheira e tive vontade de beber. Vida de pseudo influencer é assim. Lidar. 



Obviamente não fui eu a comer isto, mas quem o comeu adorou. ;)


Filetito (isto sei dizer o que é, apesar de não comer ;))

E algo que pedimos numa de "não entra mais nada", mas evaporou em 3 ou 4 minutos. A sobremesa de chocolate... 
Fotografar comida é sempre injusto, mas neste caso confirmo que o sabor era... acho que voltarei só por ela, até. 

Se foi esquisito terem impresso fotografias minhas e terem colado no quarto? Foi um bocadinho, mas não foi isso que não me permitiu descansar e aproveitar o hotel ;)

Nem o pequeno almoço com esta vista... estão convencidas? 
Eu estou.

O problema de conhecer estas coisas boas é de nos ficar a apetecer ir vezes sem conta... Oh well.

Quais são os vossos hóteis preferidos e, já agora, piscinas em Lisboa ou arredores onde possamos ir sem estadia? ;)



8.06.2019

Já quis morrer.

Estou sempre a pensar em maneiras de vos animar a noite. Achei que este post vinha a calhar. 

É mentira. 

No outro dia, quando fui passar férias com a minha melhor amiga a Armação de Pêra, num dos últimos dias decidimos ir dar um longo passeio pela praia. Sem levar telemóveis. Fizemos praticamente a praia toda. Soube-nos bem. Cantámos, dançámos, conversamos e, por fim, tivemos de parar um pouco por me doer um pé. 

Quando nos sentamos, no pareo que a minha amiga tinha comprado numa das lojas preferidas dela em Armação, olhámos para as gaivotas bebés que voavam por cima de nós. Ainda a aprender a voar, isto sob um wallpaper natural perfeito: um pôr do sol em cima do mar, um espelho.

Não nos poupámos às palavras nestas férias. Depois de ter sido mãe, de me ter casado e tudo o resto, ainda que a nossa amizade tenha perdurado, o formato foi-se moldando. Chamavamo-nos de namoradas antes, ainda que nunca tenha havido nada entre nós nem qualquer tipo de atracção. 

Como não tenho irmãs é um pouco fora de mão para mim estar a dizer que é "como se fosse ter uma irmã", mas é mais do que isso. A família - por vezes - poderá dar-nos algum conforto no sentido em que sabemos que teremos para sempre um laço que nos ligue e que nos faça voltar mas neste caso não. Neste caso, construímos mesmo a nossa relação tendo por base preferência, amor e respeito. Sendo que recentemente aprendi que um é indissociável do outro. Lição aprendida. 

Sentámo-nos no pareo. E, mais uma vez, não nos poupámos às palavras. Não me poupei eu. Apesar da Susana e eu sempre nos termos dito que nos amávamos, sinto que só agora estou a compreender a magnitude e a sorte de nos termos uma à outra. Somos perenes. 

Sentei-me. Parei. Sem telemóvel. Ao lado da minha melhor amiga. E expliquei-lhe que estava a tentar absorver tudo o que estava a ver e a sentir. Tinha a perfeita noção, a certeza, de que este seria um dos melhores momentos da minha vida, ali. 

Expliquei-lhe o quão grata estou por nos amarmos tanto assim, por toda a história que partilhámos juntas e que tenho a certeza que nunca nos iremos perder. Que bom sentir isto. 



Que bom sentir isto porque ainda me lembro. O meu corpo ainda se lembra. Ainda que o meu cérebro, para funcionar, tenha criado algumas gavetas, tenha racionado memórias e tenha tido a capacidade de me ir apresentado o que preciso de processar devagarinho. 

Grande parte da minha vida foi sentida como uma corrida. Um acto de sobrevivência. Compreendo que tal não seja compreendido por muitos por nunca me ter faltado onde dormir, roupa lavada, comida e até bons colégios. Por alguma razão ou - outra lição aprendida - por várias razões senti tudo muito à flôr da pele. Tanto, tanto que, às tantas, deixei de sentir. Senti tanto que a minha única ferramenta foi desligar-me de tudo. 

A única coisa que era capaz de sentir e que me fazia sentir viva era a tristeza, a dor, a mágoa e o abandono. Tudo junto dá uma tristeza gigante. Ainda para mais na cabeça de alguém que, por estar focada na corrida, na sobrevivência, não conseguia sentar-se num pareo na praia e fazer uma digestão do que poderia estar a entupir-lhe o coração. 

Lembro-me que durante muito tempo (sendo que qualquer pouco tempo a sentir isto será muito) quis morrer. Vou explicar-me melhor: não queria sair da cama, só queria dormir, não conseguia sentir prazer em nada, apenas medo e dor. 

Mesmo as coisas boas que me rodeavam ou as sortes a que sentia ter direito me passavam completamente ao lado. Tornando-se até, por vezes, maldições em vez de coisas boas. Eram mais coisas com as quais teria que lidar e sozinha. Sempre sozinha. Porque por sentir tudo na pele como sempre senti e não conhecer mais ninguém como eu, também me sentia estragada. 

Viver era um tormento e não uma dádiva. O tempo passava rápido demais por não sentir nada de bom com ele e lento demais para quem queria um dia estar bem. 

O que pensei para continuar a corrida foi "um dia, se não quiser mais... mato-me". Sabia que, ao final do dia, da semana, dos exames, o quer que fosse, teria sempre essa opção. Não era obrigada a suportar mais do que conseguisse. Não tinha que enfrentar todas essas emoções sozinha para sempre. Por isso "vou esforçar-me ao máximo", mas tendo consciência que, se quiser, um dia, ponho um fim a isto. Talvez fosse o medo também a falar mais alto e a querer procurar algum controlo. 

Era real, porém. Por duas vezes ia tendo dois desastres grandes de carro: num deles ia caíndo num buraco gigante que tinham aberto para fazer um prédio na Amadora e noutro na A5 na entrada para Caxias, aquela curva a 90º. Em qualquer uma das duas, quando estava prestes a embater (nunca cheguei, tentei sempre virar o carro e travar) senti que o meu corpo e cabeça estavam em sintonia: "se morrer, morro tranquila, pode ser". Não um tranquila de "fiz tudo o que tinha a fazer", mas mais numa de "ok, óptimo, já está, posso sair". 

Fui-me arrastando, o melhor que soube. Usando sentido de humor, lidando com a ansiedade o melhor que conseguia e podia, sentindo-me sempre estragada. Não havia mais ninguém como eu. E sei também (ou julgo que sei) que pessoas que se sintam assim raramente têm os ouvidos e os olhos limpos para conseguir ver algo mais para além de nós mesmos. Isto é, mesmo que existisse mais alguém como eu, seria incapaz de a ver. Estaria destinada a sentir-me sozinha para sempre. Mesmo entre namorados, algumas saídas com amigos, cafés no bar da faculdade, tudo. 

Um dia estive noutra situação em que senti que podia morrer num desastre de automóvel. Na volta seriam só toques ou mazelas superficiais mas a minha cabeça pintou a morte como das outras vezes. Dessa vez já não senti o mesmo. Senti o contrário. Senti "não quero morrer, não quero mesmo morrer". 

Arde-me agora o nariz por estar a começar a chorar. 

Quase que não me lembro do percurso até esse dia. Não me esqueço do trabalho sobre suicídio que escrevi na faculdade. Lembro-me deste sentimento e pensamento: "não querro morrer, mesmo". 

Depois de me desviar ou de me salvar ou de deixar de estar em perigo chorei. Chorei imenso e ri. Imagem excelente do que é estar insana, mas nunca me tinha sentido tão sã na vida. Afinal queria viver. Agora quero. 

E agora sou capaz de sentir os melhores momentos da minha vida enquanto acontecem e não como culpabilidade à posteriori por não os ter conseguido sentir, por não ter estado presente. 

Ainda que a primeira parte da minha vida tenha sido sentida assim com toda esta dor, acabei por receber uma grande biblioteca de emoções negativas que também me tornam capaz de sentir grata e feliz hoje. 

Orgulho-me de sempre, mesmo quando totalmente perdida, me ter orientado para a luz (não essa, mas esta que sinto hoje). 

E este blog também faz parte do processo. Tal como a psicanálise. Tal como a pesquisa sobre como ter referências para educar e amar a Irene. O yoga, o pilates, a natação, a alimentação, os treinos, os amigos, o amor, a comédia. 

Só quando somos tudo o que somos é que nos sentimos por completo. 

On my way. Everyday. 


Duvido que alguém tenha lido até aqui, mas só a partilha já me alegra. <3


8.05.2019

Este nosso Algarve

Seja a ir para fora, até a ficar por casa ou em casa dos avós, as férias, só por sim, já são dias de partilha, em que nos olhamos nos olhos durante horas, em que conseguimos fazer jogos e ter tempo para tudo. Mas confesso que vir até à Fuseta com o meu pai, o David e as miúdas, é especial. É como se o tempo parasse. Tudo é simples neste nosso Algarve. Desde a vizinha Rosa, que nos emprestou uma cabeça de alho, aos pimentos grelhados e às sardinhas compradas no mercado, aos bolsos cheios de conchas, aos barcos a deslizarem e às gaivotas em pontinhos brancos no horizonte. As crianças a brincarem nas pocinhas, nós na toalha a vê-las serem felizes enquanto ouvimos música na coluna. Sozinhos na praia. Gostamos disto. De ir para a festa quando nos apetece (e aqui já começaram, com música pimba, farturas e um gelado chamado Palhacito, que elas adoram), mas de estarmos ao nosso ritmo no resto do tempo.

E elas acordam bem-dispostas, com um sorriso nos lábios, e um “tenho fome”, invariavelmente. Procuram-me com um “mamãzinha”, entre abraços e beijinhos. Ouço da Luísa um simpático “cheiras mal” e um “tens de ir lavar os dentes”, que me faz rir mas a tentar conter a respiração. Depois, comem flocos ou iogurte com a granola do avô e as manhãs são vagarosas, que não há pressa nenhuma. Praia ou piscina, decidimos no momento, consoante o vento, assim como os almoços, que se querem práticos. Caprichamos mais nos jantares, com grelhados e petiscos homemade. E vinhaça ou minis bem geladinhas. O dia estica e estica entre brincadeiras e apanhadas, birras e gargalhadas. Em casa há o Rex, o cão da Dona Rosa, o coelho, que já mordeu uma sandália da Isabel, para lá de 16 porquinhos da Índia e um gato desconfiado. Passamos muito tempo em casa.
Quando decidimos ir para a praia, vamos normalmente até à Barra Velha (Ria Formosa) de barco e lá ficamos, praticamente sozinhos, com areal e descobertas à nossa espera. Mas já experimentámos também a Praia do Barril (linda!) e, claro, a Barra Nova, na ilha da Fuseta.

É tão bom estar de férias com esta minha gente que, tenho a certeza, vou sair daqui ainda mais cheia de tudo. Mas que sorte!

Parece-me que encontrámos, há três anos, o nosso lugar, o nosso Algarve.