5.28.2019

A minha infância

Fui uma criança muito feliz. Senti-me amada. Deram-me liberdade. Ouvia muita música e cantava muito. Andava de bicicleta na Perofilho, comia amoras acabadas de apanhar e tomava banhos de mangueira e de balde no quintal da minha avó Rosel. Apanhava nêsperas da árvore. Apanhava boleias nas ondas, no verão. Comia gelados, que derretiam pelas mãos e que eu lambia. Chupava o sal dos cabelos, acabados de sair da água do mar. Fazia amigos na areia. Fazia pinos e andava nua pela praia. Brincava no recreio da escola, jogava à macaca e ao elástico. Imitava os Onda Choc. Via novelas - adorava a Babalú da Quatro por Quatro - e o Baywatch quando chegava a casa. Punha a cassete com as gravações de desenhos animados, dos quais já sabíamos as falas de cor. Fazia ginástica e pontes no quarto. Andei na natação e nas danças de salão e na música e no coro. Bebia leite com cevada em casa da minha avó Isabel. Desmembrava os sofás com o meu irmão para saltarmos e brincava com os bibelots que eram meninas e cães e sei lá mais o quê. Comia caracóis com torradas e um sumol de laranja. Lia muitos, muitos livros. Ia para a cama dos meus pais aos sábados e domingos de manhã, ouvir anedotas e apanhar cócegas. O meu pai secava-me o cabelo, em cima de um banquinho verde tropa, com um rolo, para as pontas irem para dentro. Tinha um vestido amarelo torrado que adorava e com o qual me sentia vaidosa. Fazíamos viagens maiores a ouvir Shade, Delfins e Os Bandemónio. Eu cantava a viagem toda. Usava borrachinhas de cheiro e canetas de cheiro para colorir os meus cadernos, sempre impecáveis. Alugava filmes no clube de vídeo, mesmo em frente ao nosso prédio. Fazia coleção de cromos e autocolantes (aqueles dos fantasmas que brilhavam no escuro!) e de posteres das Spice Girls, dos TakeThat e dos Backstreet Boys. Tinha um do Hugo Leal, um crush, apesar de ser do Benfica. Ficava escondido do lado de dentro do armário para lhe poder dar beijinhos à vontade. Adorava a Bravo e a concorrente. Tinha cassetes que ouvia na aparelhagem do quarto. Escrevia no diário todos os dias e apaixonava-me muito. Ia para Lisboa para os ensaios dos Onda Choc e do coro dos Jovens Cantores de Lisboa. Faltava às aulas para ir ao Buereré atuar, mas tinha justificação por "atividade cultural". Partilhámos camarim com estrelas da altura, com os Milénio e tirei fotografias com os Anjos. Pedi autógrafos aos Excesso, antes de um concerto. Fui à Expo 98 e adorei o pavilhão da China. Gritei muito e chorei muito com os jogos da selecção nacional. Recortei o Figo das revistas. E adorava a Naomi e a Cindy Crawford, mas a minha preferida sempre foi a Elle Macpherson (que vi, anos mais tarde, numa fila para o cinema em Londres e ia tendo uma coisinha).



A minha infância foi... mágica. 
Voltava lá por um dia.

E vocês?


As 5 coisas que mais odiei na gravidez

Eu sou das que ADORA estar grávida. Mas só porque tive sorte, claro. Apesar dos enjoos que duraram quatro longos meses, os restantes foram óptimos e trabalhei até ao fim (parei uma semana e uns dias antes). Da segunda gravidez, só enjoei uma vez (com o cheiro da gasolina) e tive umas chatices mais para o fim (nem me recordo bem o quê, mas umas dores nos ossos talvez ou um episódio de ciática que me levou ao hospital - não sei), mas nada digno de nota. Não tive grandes fomes, grandes desejos, não estive de cama. E passou a correr, até porque tinha uma filha de dois anos a quem dar atenção. Não me posso queixar. 

Ou será que posso? Posso. Houve coisas que apagava, sim, sim. 

1- O teste do cotonete

Contei-vos aqui a experiência terrível que tive, da primeira vez. Só quando desabafei sobre isso, percebi que não era normal doer tanto, pelos vossos comentários. E, de facto, quando me fizeram o teste Estreptococus B na segunda gravidez nem senti. Que bruta que deve ter sido a primeira enfermeira, credo. Tanto que ainda me lembro da dor, que ficou pelo menos mais um dia.

2 - O teste da glicose

Ai senhoras, o esforço que eu fiz das duas vezes para não vomitar. Troquei de sabor, mas mesmo assim foi do piorio. Sim, fresquinho. Um enjoo sem explicação. Era bom que inventassem outra técnica qualquer, não era? Era.

3 - Os enjoos nos primeiros quatro meses

Óptimos para não ganhar muito peso (ahah), péssimos para quem está a trabalhar e a ter de fazer corredores até à casa de banho. Uma vez não consegui lá chegar. Viagens de carro então, esqueçam. Era trigo limpo farinha amparo. Fiz sprints até à casa de banho vezes sem conta e nem os nausefes aliviavam grande coisa. Nunca descobri a fórmula para não enjoar e experimentei tudo: comer logo, comer mais tarde, não comer, comer pouco, comer coisas secas. Nada resultou.

4 - O sono doentio no primeiro trimestre

O descontrolo total. E eu sempre fui uma "sornas", sempre adorei dormir. Mas nada, nada se comparava àquele estado doentio em que nem palitos nos olhos os segurariam. Aconteceu-me estar a trabalhar em frente ao computador e estar a dar cabeçadas, tal era a soneira. Tudo muito bonito se se estiver em casa, tudo péssimo quando se tem coisas para produzir e depois não convém andar a beber litradas de café.

5 - Dormir mal e porcamente no último trimestre

Quando nos dizem "dorme agora porque depois..." deviam era estar caladinhos. Dorme agora, como assim? Na primeira gravidez, já não tinha posição e levantava-me, à vontade, 5 vezes por noite para ir fazer xixi. Acordava cedíssimo. Da segunda gravidez, não tinha muito xixi, mas tinha uma filha de dois anos acabados de fazer, que dormia muito mal e que me chamava a mim durante a noite. A segunda filha foi feita na primeira semana em que a Isabel dormiu lindamente, mas aquilo foi um engano, que voltou a ter pesadelos e a acordar quatrocentas vezes por noite. Credo. Eu a levantar-me e a ir dormir com ela, com um barrigão enorme.

Foto: Rita Ferro Alvim

Nada muito grave, certo? Tantas histórias péssimas de grávidas que sempre me senti uma sortuda! Nada de azias, de grandes dores, de ter de ficar quietinha... senti-me apaparicada e com uma energia diferente. Até a minha pele esteve melhor.

E vocês, quais as queixinhas que fazem?

E porque é que eles se portam mal?

Se calhar dava jeito que, nas maternidades, em vez de nos darem algumas amostras de gel de banho para eles, darem uma espécie de guidelines que nos ajudassem a não ter que aprender a bater com a cabeça determinadas coisas. 

Claro que também podemos ir pesquisando, mas antes nem sabemos o que pesquisar e... durante... começa a aventura! Alguém consegue ler dormindo 32 segundos por noite? Bem me pareceu. 



Cruzei-me com estas imagens (as de baixo, a de cima foi nas nossas férias) no facebook hoje na página de uma senhora (não conheço a senhora, nem o trabalho, por isso não estou a dar endorsement a tudo o que ela faça) e estas imagens pareceram-me tão, mas tão úteis e simples. Obrigada, Little Lion ;) Vamos a isto? Quanto tempo demoraram para aprender cada uma? 


Atenção que o estar entre aspas é crucial. Elas não se "comportam mal". Elas estão sempre certas, nós é que não as compreendemos e julgamos os comportamentos por nos estarem a atrapalhar ou a irritar. 



Informem-se por favor das necessidades de sono médias de uma criança com a idade dos vossos filhos. Digo "informem-se" porque nem todas conseguimos ver os sinais e nem todas as crianças evidenciam da mesma forma. 





E, por estrutura, leia-se também rotinas. Ter as regras do jogo delineadas antes de o começar. Também as crianças gostam de saber com o que contar até para que cumpram expectativas. 


Aqui não é "mal" é "mau" e, mesmo assim, já sabem que o que se quer dizer aqui é a criança chegar a fazer coisas que já sabe a priori que não estão de acordo com o que lhes é exigido. 


Isto serve para todos nós, não é? 



Esta aprendi só recentemente. E que diferença gigante, caramba!



Not helping. 



Quando escrevemos posts em que sugerimos que determinada abordagem não é a mais útil, também somos convidadas por vocês - e bem - a que proponhamos ferramentas. Neste caso, esta mudança de mindset, perceber estas premissas, irá com certeza ajudar tanto cada uma de vocês como me ajudou a mim. E à Irene. 


Querem acrescentar mais algumas?